Com uma campanha que misturou ecologia e fé, Marina sai da eleição maior do que entrou.
Com 19,5% dos votos válidos, Marina terminou a eleição presidencial em terceiro lugar, mas sai das urnas como uma liderança política nova e promissora. O porcentual de votos válidos de Marina é, entre os terceiros colocados, o maior em todas as eleições presidenciais realizadas desde a redemocratização. Ela superou o desempenho de Heloisa Helena, em 2006, Anthony Garotinho, em 2002, Ciro Gomes, em 1998, Enéas Carneiro, em 1994, e Leonel Brizola, em 1989. Sua votação foi superior inclusive à de Lula em 1989, que passou para o segundo turno contra Fernando Collor com 16% dos votos válidos.
O resultado, “excepcional”, segundo o cientista político André Singer, da Universidade de São Paulo (USP), a credencia a liderar uma nova força política de oposição. “Marina percebeu, antes de todos, a existência de um espaço na política e se colocou nele”, diz Singer. “Esse resultado eleitoral permite que ela inicie um trabalho de longo prazo, de organizar uma base social em torno de seu projeto.”
Marina conseguiu essa façanha depois de um longo calvário no governo Lula. À frente da pasta de Meio Ambiente, ela perdeu disputas e prestígio para a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. As rusgas a levaram a deixar o PT, partido que ajudou a fundar. Cortejada pelo Partido Verde, que enxergou em Marina a possibilidade de superar a condição de nanico, ela resolveu lançar-se à disputa presidencial. Na campanha, defendeu uma agenda que mistura a preservação do meio ambiente com críticas ao “desenvolvimentismo”. É o tipo de discurso político que encontra mais fácil aceitação em países escandinavos, com alto índice de desenvolvimento humano. Mesmo lá, onde as preocupações com o estômago não costumam se sobrepor às demais, políticos “pós-materialistas” sofreram revés depois que o mundo foi sacudido pela crise econômica de 2008.
Em um país com 15% de pobres na população, segundo cálculo da Fundação Getúlio Vargas, Marina ousou defender a interrupção de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em favor do meio ambiente e a instalação de placas solares nos tetos das casas populares. Isso torna seu sucesso eleitoral um caso ainda mais singular – que pode também estar relacionado ao perfil religioso de Marina. “A Marina é uma mistura de ecologismo com fé na Assembleia de Deus. Ela não é bem um personagem pós-moderno europeu. É um fenômeno peculiar”, diz o cientista político Jairo Nicolau, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Marina superou sérias limitações para fazer campanha. O PV é um partido pequeno, sem democracia interna, muito desigual regionalmente e dirigido há mais de dez anos por José Luiz de França Penna, cujo cargo político mais relevante foi o de vereador em São Paulo. Marina disse que preferia estar só a ser incoerente e, por isso, optou por não fazer coligações nacionais. Isso deu a ela exíguos 83 segundos de propaganda eleitoral gratuita na TV. Marina estava mais próxima às condições de competição do nanico Plínio de Arruda, do PSOL, do que de seus principais adversários. Dilma Rousseff teve o equivalente a 7,5 vezes o tempo de TV de Marina. O tucano José Serra teve cinco vezes mais tempo.
Mesmo na internet, a campanha de Marina enfrentou problemas. Nos dias que antecederam a eleição, o site do PV ficou fora do ar porque a quantidade de acessos era superior a sua capacidade.
Marina também não pôde contar com palanques estaduais. O PV lançou 11 candidatos a governador. Mas, exceto por Fernando Gabeira, no Rio de Janeiro, nenhum deles conseguiu mais que 2% nas pesquisas (nas urnas, o desempenho foi um pouco melhor. Fábio Feldmann em São Paulo, por exemplo, obteve pouco mais de 4% dos votos). No Rio de Janeiro,
Marina obteve índices superiores aos de Gabeira. Lá, ela teve 31% dos votos. Gabeira, 20%. Logicamente, se alguém era ajudado quando ambos subiam ao palanque, esse alguém era Gabeira.
O resultado de Marina surpreendeu até mesmo os velhos caciques do PV, que achavam que sua campanha serviria basicamente para dar uma turbinada na magra bancada na Câmara (o partido tinha 15 deputados na última legislatura). O futuro político de Marina dependerá agora de sua capacidade de reformar e expandir o PV. O partido, na avaliação de alguns dos integrantes, tem uma imagem boa junto aos eleitores, a despeito de sua estrutura e comando frágeis.
Para conseguir mais espaço na política nacional, Marina precisará também ampliar sua base para outros grupos sociais. Nesta campanha, ela conseguiu, predominantemente, votos na classe média urbana, conectada à internet e jovem. O perfil religioso e a origem pobre de Marina podem facilitar a conquista de outras fatias do eleitorado. Entre agosto e setembro, as intenções de voto em Marina entre os evangélicos cresceram 7 pontos. É um sinal de que Marina tem potencial para expandir seu eleitorado. Se ela conseguir pintar de verde grotões e favelas, Marina, em outras eleições, poderá ser mais que uma terceira via.
Fonte: Época / Gospel+
Via: Notícias Cristãs