O universo das Igrejas neopentecostais está crescendo em Portugal. São já mais de 20 as comunidades desta corrente cristã que, após a polémica dos anos 90 à volta da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), surgiram no país. A informação é dada ao PÚBLICO pelo investigador Donizete Rodrigues, da Universidade da Beira Interior (UBI), que se tem dedicado a investigar o fenômeno do neopentecostalismo em Portugal. Este professor universitário falava à margem de uma conferência internacional que acontece na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, promovida pelo Instituto de Sociologia.
“Em Portugal é relativamente fácil criar uma Igreja”, diz Donizete. No fenomeno do neopentecostalismo, esse fato tem um ambiente favorável, pois a cisão à volta de um pastor ou um bispo é relativamente fácil. Numa corrente cristã em que não há hierarquia ou ela é muito difusa, as possibilidades de cindir e criar novos grupos é grande. Neste universo, continua presente também o nomadismo religioso: pessoas que, mantendo ainda uma qualquer relação com o catolicismo, se ligam também a comunidades mais pequenas.
Apesar do crescimento do neopentecostalismo em termos de denominações – entre as quais a Igreja Deus É Amor, que também já deu origem a novas denominações -, a IURD tem mantido, nos últimos anos, uma estratégia de não visibilidade pública, diz o investigador. Essa estratégia foi adotada depois das polêmicas relacionadas com a compra do antigo Cinema Império, em Lisboa, e a tentativa de compra do Coliseu do Porto.
Na conferência, vários intervenientes destacaram a relação das migrações com o aumento do pluralismo religioso em Portugal: os imigrantes oriundos das ex-colonias, Brasil ou Leste da Europa alargaram a diversificação religiosa da sociedade portuguesa. Até há poucas décadas, as religiões presentes na sociedade portuguesa, além do catolicismo maioritário, não iam além da minoria protestante e de uma pequena comunidade judaica.
Esse processo de diversificação religiosa surge em paralelo também com trajetos de integração política, social ou cultural. José Mapril, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), citou o caso do Colégio Islâmico de Palmela, uma escola de sucesso que pretende formar “bons cidadãos”, política e economicamente motivados, além de informados religiosamente.
A escola islâmica da Margem Sul do Tejo é um dos casos apresentados na obra Religião em Movimento – Imigrantes e Diversidade Religiosa em Portugal e Itália. Coordenado pelos sociólogos Helena Vilaça e Enzo Pace, o livro foi ontem apresentado ao final da tarde, no âmbito da conferência. “Quando não ostracizamos, a integração corre bem”, diz Helena Vilaça.
A socióloga cita o caso dos imigrantes de Leste que, apesar de serem cristãos ortodoxos na sua maioria, têm contado com o apoio da Igreja Católica em Portugal. Quer na cedência de estruturas como capelas, igrejas ou salas, quer no apoio a necessidades mais básicas das pessoas, a rede do catolicismo tem sido fundamental para a ajuda pessoal ou institucional aos imigrantes de tradição ortodoxa, diz a investigadora. A mesma realidade da rede verifica-se em casos como o da integração da primeira vaga de muçulmanos chegados a Portugal há quatro ou cinco décadas: “As pessoas estavam envolvidas em redes de trabalho, da cultura ou da política, o que facilitou a sua integração social. Quando há redes, isso funciona. Quando há problemas de classe, a integração é mais difícil.”
Fonte: Jornal Publico / Gospel+
Via: Guia-me