O incêndio de grandes proporções que destruiu o Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro (RJ), onde funcionava o Museu Nacional desde 1892, virou notícia no mundo todo e motivou manifestações de pesar de lideranças evangélicas através das redes sociais.
O Museu Nacional, a mais antiga instituição científica do Brasil e considerada até então um dos maiores museus de história natural e de antropologia das Américas, foi completamente destruído no último domingo, 02 de setembro, num incêndio que começou por volta das 19h30, quando a visitação já havia sido encerrada.
Ao todo, o Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro mobilizou 80 homens de 12 quartéis para combater as chamas. De acordo com informações do jornal Folha de S. Paulo, o comandante-geral dos bombeiros, Roberto Robadey, o combate ao fogo foi prejudicado por falta de água nos hidrantes próximos ao Palácio.
Durante a ocorrência, os bombeiros tiveram que apelar a caminhões-pipa e até para a água do lago próximo, na Quinta da Boa Vista, para combater as chamas, porque os hidrantes na região estavam sem pressão. Essa dificuldade para ter acesso à água foi decisiva para as proporções que o incêndio tomou, segundo Robadey.
“Pedimos apoio a eles [da empresa de água e esgoto do Rio de Janeiro, Cedae] de carros-pipa e também trouxemos os nossos carros da Baixada Fluminense. Os dois hidrantes mais próximos estavam sem carga”, lamentou o bombeiro.
Robadey disse que, ao chegar ao local, o incêndio estava com proporção de média para grande, mas que a dificuldade para combater as chamas levaram à completa destruição do edifício.
Ele não confirmou os rumores de que o fogo teria começado no primeiro andar, segundo foi noticiado inicialmente por emissoras de rádio e TV. O bombeiro afirmou que, por enquanto, não há chance de desabamento da estrutura externa: “As paredes são muito grossas. O prédio é muito antigo. Os pavimentos internos desabaram”, comentou.
O prédio do Palácio de São Cristóvão, que abrigava o Museu Nacional, poderá ser restaurado, mas a pesquisa que era desenvolvida e mantida no local, assim como o acervo histórico foram perdidos, segundo informações do portal Zero Hora.
Pesar
Algumas lideranças evangélicas manifestaram pesar pela perda do acervo do Museu Nacional através das redes sociais, por conta de seu significado relevante na história do Brasil.
O pastor e escritor Renato Vargens, da Igreja Cristã da Aliança, em Niterói (RJ) foi o mais contundente ao lamentar o incidente e fez menção à verba investida pelo país na promoção de manifestações artísticas questionáveis, através da renúncia fiscal prevista na Lei Rouanet.
“Dinheiro pra apoiar artistas que se locupletam da lei Rouanet tem… pra apoiar peças e exposições imorais também, mas, dinheiro para cuidar do maior patrimônio histórico do Brasil, não. Eis o resultado: 200 anos de história viraram cinzas! O Brasil cansa!”, desabafou Vargens.
A cantora Helena Tannure foi contida em sua publicação no Instagram: “😭😭😭nossa história em chamas… tristeza. #museunacionaldoriodejaneiro”. Milhares de seguidores interagiram com a publicação, em sua maioria, lamentando o ocorrido.
“Memória é vida. O Museu Nacional virou cinza. O Museu do Ipiranga [em São Paulo] está fechado há anos. Um povo que não cultiva a memória não amadurece nunca. Um povo sem memória sempre precisa começar do zero. Um povo sem memória corre atrás do vento”, comentou o escritor assembleiano Gutierres Fernandes Siqueira, fazendo referência ao Museu Paulista, que atualmente é submetido a uma extensa obra de restauração e tem previsão de reabertura em 2022, durante as comemorações dos 200 anos da declaração de Independência, de acordo com informações do programa Antena Paulista, da TV Globo.
O pastor Ed René Kivitz, da Igreja Batista de Água Branca (IBAB), em São Paulo (SP), publicou uma imagem de luto pelo fim do Museu Nacional que foi amplamente compartilhada nas redes sociais. A postagem contou com um comentário do reverendo Caio Fábio, que usou emojis que representam tristeza para expressar o pesar pelo ocorrido.
Danilo Fernandes, antigo editor do descontinuado blog Genizah, fez considerações mais aprofundadas sobre a perda gradual do conteúdo histórico que o país vem sofrendo ao longo dos séculos. “O museu não reunia 200 anos de história. De fato, história foi a primeira coisa que tentaram apagar (republicanos) quando o local deixou de ser a sede do poder imperial e antes do Reino Unido de 🇧🇷 e 🇵🇹”, lamentou.
O edifício em si representava, segundo Fernandes, um testemunho sobre um verdadeiro golpe na história recente do Brasil, que culminou com a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889.
“Com o desterro da família Imperial iniciou-se o processo de limpeza e desconstrução histórica. O local sediou, acintosamente, a primeira constituinte republicana e depois se decidiu apagar a importância simbólica e histórica. O prédio símbolo do país até então, recebeu o acervo esquizofrênico do museu do Largo de Santana, esse sim de fundação em 1808 por D. João VI. Não havia interesse político de fazer um museu da monarquia. Criou-se um arremedo de museu de história natural e apagaram as lembranças históricas do prédio”, criticou.
“O museu mal amado foi objeto de descaso administrativo por décadas e jogado em varias esferas até cair no colo da gestão da UFRJ, mais recentemente. Enquanto as chamas 🔥 queimam o prédio e acervo, a ignorância da imprensa termina de destruir a história a golpes de chavões a história do Palácio de São Cristóvão e do próprio museu”, finalizou Danilo Fernandes.