Um escândalo de desvio de doações de fiéis para a construção de um templo na cidade de Trindade (GO) ocupou manchetes pelo volume de recursos movimentados pela entidade responsável pela obra. No centro da polêmica está o famoso padre Robson de Oliveira, que tem grande abrangência nas redes sociais.
A Associação Filhos do Pai Eterno (AFIPE) é uma entidade católica criada para administrar as doações dos fiéis para a construção da Basílica de Trindade e tocar a obra, estimada em R$ 1,4 bilhão. Em setembro de 2019, dois representantes do Vaticano estiveram na cidade goiana para investigar a AFIPE, já que a movimentação financeira da entidade chamou atenção da direção da Igreja Católica.
Na última semana, o padre Robson foi alvo da Operação Vendilhões, autorizada pela Justiça após o Ministério Público desconfiar do volume de movimentação financeira da AFIPE. O ponto que levantou suspeita foi um crime de extorsão contra o padre, que se viu obrigado por hackers a fazer um pagamento de R$ 2 milhões aos criminosos para não ter segredos seus vazados.
A partir de então, os procuradores passaram a investigar a suspeita de lavagem de dinheiro, já que a AFIPE vinha negociando com empresas que tinham os mesmos donos e estavam localizadas no mesmo endereço da associação. Segundo informações do Correio Braziliense, algumas das movimentações suspeitas envolvem a compra de uma fazenda por R$ 6 milhões com o dinheiro doado pelos fiéis, além de uma casa de praia avaliada em R$ 2 milhões.
Parte dos recursos doados à AFIPE teriam como destino a obra da basílica, inicialmente orçada em R$ 100 milhões, mas que teve os custos aumentados ao longo da obra, iniciada em 2012, podendo chegar até R$ 1,4 bilhão. A inauguração, prevista para 2022, também foi adiada para 2026.
A juíza Placidina Pires, da Vara de Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais, acatou o pedido do MP depois que os indícios apontaram uma movimentação de R$ 2 bilhões em dez anos na AFIPE, valor que seria mais que suficiente para a conclusão da obra. Parte desse valor, R$ 120 milhões, teriam sido usados para a compra de artigos de luxo.
Após o caso chegar à imprensa, o padre Robson, 46 anos, pediu afastamento das funções e declarou que irá se dedicar à sua defesa. “Sempre estive e continuo à disposição do Ministério Público. Por isso, esse meu pedido de afastamento vai me permitir colaborar com as apurações da melhor forma e com total transparência para que seja confirmado que toda doação que fazemos ao Pai Eterno — terços rezados, o dinheiro doado, tempo, carinho, trabalho empregado na evangelização — foi toda, repito, toda empregada na própria associação Afipe em favor da evangelização”, disse.
“O meu caminho nessa missão evangelizadora nunca foi fácil. Desde o início, como você bem sabe, sempre carreguei muitas cruzes”, acrescentou o padre.
O advogado de defesa do padre, Pedro Paulo Medeiros, disse que os imóveis citados na denúncia do MP fazem parte das aplicações da Afipe, cujo lucros foram destinados à construção da nova Basílica, e também à compra das emissoras de TV Pai Eterno e de rádios, além da construção de igrejas.