O papel do cristão no mundo atual continua o mesmo, mas a forma de colocar essa missão em prática está mais trabalhosa pelo perfil que a sociedade adquiriu nas últimas décadas, e também porque temas que são vistos de forma objetiva no meio cristão, são delicados em outros setores. Nesse contexto, o papa Francisco afirmou durante uma entrevista que se os seguidores de Jesus “convencessem” que homossexuais e outras pessoas em relacionamentos “irregulares” são “filhos de Deus”, as coisas mudariam muito.
A entrevista foi feita pela jornalista Valentina Alazraki, da Televisa. Durante a conversa ela pediu ao papa que falasse sobre as pessoas que a Igreja Católica considera estarem em relacionamentos “irregulares”, bem como parceiros homossexuais que recebem a Sagrada Comunhão.
“Todos são filhos de Deus, todos somos filhos de Deus. Todos eles. Não posso descartar ninguém”, disse o papa.
“Eu não posso dizer a uma pessoa que seu comportamento está de acordo com o que a Igreja quer […] Mas eu tenho que lhe contar a verdade: ‘Você é filho de Deus e Deus quer você desse jeito, agora, acerte-se com Ele’. Não tenho o direito de dizer a alguém que ele não é filho de Deus porque ele sentiria falta da verdade. Nem para dizer a ninguém que Deus não o ama, porque Deus ama a todos, Ele ama até Judas”, acrescentou o pontífice.
De acordo com informações do portal Life News, o papa afirmou que em sua exortação intitulada Amoris laetitia ele pede aos inquiridores que consultem um padre e busquem um “caminho” em frente, e acrescentou que não governaria “a 12 mil quilômetros de distância” se alguém deveria receber a Sagrada Comunhão porque seria “irresponsável”.
O papa também disse que estava “zangado” com relatos da mídia de que ele teria sugerido que os pais consultassem um “psiquiatra” para aconselhar crianças com atração pelo mesmo sexo. Ele disse que o que ele quis dizer era um “profissional”, acrescentando que os pais têm o direito de “reconhecer esse filho como homossexual, aquela filha como homossexual”.
“Você não pode expulsar ninguém da família ou tornar a vida impossível por causa disso”, enfatizou o líder católico, aconselhando à compaixão e cautela em temas delicados.
O papa estava se referindo a uma conversa de agosto de 2018 com jornalistas que provocou indignação generalizada entre os ativistas LGBT. Ao retornar da Conferência Mundial das Famílias na Irlanda, ele disse que muito “pode ser feito através da psiquiatria” quando os pais notam comportamentos homossexuais em seus filhos.
Quando ativistas LGBT se opuseram, as autoridades do Vaticano divulgaram mais tarde um texto que removeu a referência à psiquiatria.
Embora tenha dito aos jornalistas em 2018 que os pais podem consultar um psiquiatra no caso de seus filhos, o papa voltou ao assunto na entrevista concedida à jornalista mexicana: “Eu deveria ter dito ‘profissional’, eu disse ‘psiquiatra’. Eu quis dizer um profissional porque às vezes há sinais na adolescência ou pré-adolescência que eles não sabem que são de uma tendência homossexual ou se o timo não se atrofiou com o tempo, eu não sei, mil coisas, certo?”, afirmou.
Na visão do papa, publicar notícias como “o papa envia homossexuais ao psiquiatra” é uma interpretação inverídica do que ele disse. Repetindo que os homossexuais são “filhos de Deus”, ele protestou contra o uso de suas palavras “fora do contexto” e frisou que entender que homossexuais mereçam uma família “não significa aprovar atos homossexuais, longe disso”.
A Igreja Católica ensina que atos homossexuais são “atos de grave depravação”, chamando tais atos de “intrinsecamente desordenados”. Tais atos são “contrários à lei natural”, na medida em que “fecham o ato sexual ao dom da vida”. Além disso, a doutrina católica ensina que Deus não cria nenhum homem ou mulher com atração pelo mesmo sexo, chamando tal inclinação de “objetivamente desordenada”.
Como é o caso com qualquer outro tipo de pecado, seja assassinato, roubo, adultério, o cristianismo sustenta que os seguidores de Cristo devem amar o pecador enquanto odiar o pecado. O mesmo é verdade para aqueles que cometem pecados homossexuais. A Igreja ensina que as pessoas que lutam contra a atração pelo mesmo sexo devem ser “aceitas com respeito, compaixão e sensibilidade”.
A jornalista Alazraki comentou que alguns dos conhecidos do papa na Argentina dizem que ele era “conservador” com relação à homossexualidade e ao “casamento” entre pessoas do mesmo sexo enquanto servia como arcebispo de Buenos Aires, mas desde então se tornou “mais liberal” depois de se tornar papa. Lembrando que ele havia lutado contra a legalização do “casamento” entre pessoas do mesmo sexo na Argentina, ela perguntou se o papa concordava com a descrição acima.
Tendo já dito que é “conservador”, o papa disse à jornalista que sempre defendeu os ensinamentos da Igreja. “E é curioso, considerando a legalização do casamento homossexual… é uma incongruência falar de casamento homossexual”, criticou o pontífice.
Dizendo que passou por mudanças e que “cresceu um pouco”, Francisco disse que “se tornou um pouco mais sagrado” desde que se tornou papa. Tendo se tornado um sucessor de São Pedro, ele disse que seus critérios se ampliaram e o tornaram “mais consciente de certas coisas que eu não era antes”.