A tragédia em Brumadinho ganhou intensa repercussão entre evangélicos essa semana após um vídeo de uma pregação ser interpretado como uma profecia sobre o rompimento da barragem da Vale. O pastor Renato Vargens comentou o episódio pontuando que é preciso ser cauteloso com as supostas revelações para não se deixar levar pelo emocionalismo.
“Antes de tratarmos especificamente da questão, a primeira coisa que precisamos entender é que o povo brasileiro, (o que inclui os evangélicos), é extremamente místico. Na verdade, o sincretismo religioso é uma das marcas de nossa população. Ademais, possuímos uma alma católica, onde se prefere ouvir vozes extra-bíblicas à própria Palavra de Deus”, contextualizou o pastor, explicando sua visão crítica a respeito do assunto.
“Em segundo lugar é importante ressaltar que a profecia do pastor comete um equívoco. Na verdade, ele fala de um desastre natural, o que na verdade, não aconteceu, mesmo porque todos sabemos que a tragédia de Brumadinho não foi natural, mas sim fruto do descaso do homem”, pontuou Vargens.
O pastor e escritor é líder da Igreja Cristã da Aliança, em Niterói (RJ), e conhecido por seus artigos sempre racionais a respeito dos temas cotidianos que envolvem o meio evangélico e a teologia.
Um terceiro ponto indicado por Renato Vargens no artigo publicado em seu blog pessoal é que “a ‘profecia’ proferida, como geralmente acontece em boa parte das igrejas no Brasil, foi genérica”.
“Ela na verdade tratou de uma situação generalizada e não específica, além de falar que o Brasil sofreria dois choques, o que segundo a profecia não aconteceu. Ou será que a profecia só se cumpriu numa parte? E o outro choque? Não teve por que?”, questionou. “Um outro ponto interessante é que caso acontecesse uma tragédia natural, não seria nenhuma surpresa. Ora, por acaso, devido ao verão, janeiro não costuma ser um mês de grandes chuvas e tempestades? Não poderia ter acontecido portanto as famosas chuvas de verão, como aconteceu por exemplo em ocasiões anteriores? Será que por acaso já esquecemos das chuvas que destruíram cidades como Nova Friburgo e Teresópolis?”, insistiu o pastor.
O pastor alerta ainda que “é mister que entendamos que quando examinamos as Escrituras, descobrimos que as profecias proferidas contidas nas Escrituras sempre tiveram endereço e nunca foram dúbias e muito menos relativistas”.
“Em que essa profecia contribuiu por exemplo com um avivamento nacional? Em nada, não é verdade? Até porque se a tragédia do Brumadinho trouxe a ‘entrada de Deus’ no Brasil, por que continuamos absortos em pecados e transgressões? Ora, avivamentos trazem mudanças. A pergunta é: que avivamento é esse que não produziu frutos de arrependimento? Que avivamento é esse que não mudou o comportamento do crente? Que avivamento é esse que não converteu o coração do marido à esposa e vice-versa? Que avivamento é esse que dicotomizou a relação entre pais e filhos? Que avivamento é esse que não mudou o país?”, inquiriu, adicionando pontos de questionamento sobre o assunto.
“Para terminar, trago a memória a famosa frase do reformador alemão Martinho Lutero que dizia: ‘Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir’. O que o diferencia protestantes das outras religiões é que não somos guiados por emoções ou revelações e sim pela maravilhosa e inerrante Palavra de Deus”, encerrou.