Às vésperas das eleições municipais no Brasil, não são poucos os candidatos a cargos públicos que egressam da função de pastores, com um nome muitas vezes já consolidado em anos de ministério em igrejas evangélicas.
O assunto é polêmico e levanta dúvidas entre os próprios líderes religiosos. Muitos discordam terminantemente de que pastores possam assumir funções em cargos de administração pública.
“Em época de eleição é comum receber a solicitação de inúmeros pastores, que em nome de Deus advogam a crença de que o Deus Todo-Poderoso os convocou a uma missão hercúlea, a qual somente eles conseguirão viabilizar”, diz o pastor Renato Vargens, da Igreja Cristã da Aliança em Niterói, em uma postagem em seu blog. Segundo Vargens, estes candidatos costumam fazer uso de chavões como “somos cabeça e não cauda”, “chegou a nossa hora”, “vamos mudar o Brasil” etc.
Segundo ele, pode haver casos de pessoas vocacionadas ao serviço público mas ele afirma que não acredita que existam “pastores especiais que trocam o santo privilégio de ser pregador do Evangelho eterno por um cargo público qualquer”. Para o líder religioso, caso o pastor deseje candidatar-se, que deixe o pastorado e “não misture o santo ministério com o serviço público e que não barganhe a fé, nem confunda as ovelhas com gado marcado para o abate”.
Um dos casos mais famosos de líder religioso considerado para um cargo público foi o do evangelista Billy Graham. Conhecido por ter sido conselheiro de vários presidentes norte-americanos, além de tratar e tentar evangelizar pessoalmente outros chefes de estado de vários países, ele foi convidados diversas vezes para ocupar cargos públicos, inclusive para concorrer à presidência dos EUA.
Em todas as vezes ele se negou a candidatar-se e para fugir do assédio dos inúmeros políticos americanos que tentavam convencê-lo ele respondeu: “Eu não vou deixar de ser embaixador da pátria celestial para ser simplesmente presidente dos Estados Unidos”.
Perda de credibilidade
O sociólogo cristão Paul Freston abordou o assunto durante a Feira Literária Internacional Cristã, que ocorreu em maio em São Paulo.
Segundo ele, acredita ser inadequado pastores que se lançam na vida política. Em sua visão, a natureza distinta das duas atividades pode levar à perda de credibilidade de um líder religioso.
“Acho complicado quando pastores ativos se lançam na política. O discurso político é diferente do realizado no púlpito. Este exige uma ênfase e veemência nos princípios bíblicos que nem sempre é possível aplicar em uma atividade política”, disse, segundo o site Gospel Voice.
Freston ainda considerou que o líder religioso que se presta a exercer atividades políticas pode sofrer com a perda de credibilidade. “O discurso feito no meio político é diferente do feito nos púlpitos”, enfatizou.
O cenário de crescimento da população evangélica no Brasil tem feito com que muitos candidatos colocassem a questão no planejamento de sua campanha eleitoral. Com isso passam a moldar seu discurso de acordo com essa parcela do eleitorado, colocando em seu programa de governo assuntos relativos a valores familiares.
Porém a rejeição de parte do eleitorado aos pastores é visível. Um dos casos mais notados è da candidatura de Celso Russomanno à prefeitura de São Paulo.
Dizendo-se católico, o candidato do PRB tem sua campanha comandada por pastores da Igreja Universal do Reino de Deus, o que levou muitos eleitores a rejeitarem seu nome ao cargo máximo da maior cidade do País.
Os partidos agora tentam equilibrar o apoio do eleitorado evangélico como parte integrante do todo, sem deixar de considerar as diversas faces e credos que completam a sociedade.
Por Jussara Teixeira para o Gospel+