Um deslizamento de terra causado pelas tradicionais chuvas de março, que indicam o fim do verão, poderia ter resultado em uma tragédia, mas um verdadeiro milagre impediu que a vida de uma adolescente de 14 anos fosse perdida.
A família do pedreiro José Cláudio Batista vivia numa casa que foi destruída no deslizamento de uma encosta na comunidade de Jardim Monte Verde, no bairro Ibura, zona sul de Recife (PE). A movimentação de terra aconteceu durante a madrugada, o que tornou a situação ainda mais dramática.
A menina Vitória Cristina Lopes Batista, de 14 anos, ficou encoberta pela lama e relatou que ficou sem ar sob a massa de terra, até que seu pai a encontrou e tirou dos escombros: “A sensação foi horrível, pensei que ia morrer. Estava dormindo e quando acordei só escutei a voz do meu pai e do amigo dele que estava tirando o barro, eu não estava conseguindo respirar”, contou ela.
“Desmaiei e quando acordei estavam puxando meu braço. Quando conseguiram tirar minha cabeça, desmaiei de novo. Conseguiram tirar todo o barro de cima de mim e não queriam me tirar de lá porque achavam que eu tinha quebrado alguma coisa, mas depois começou a chover de novo e resolveram me tirar”, acrescentou a adolescente.
Ela mesma define ter sido alvo de um milagre na entrevista que concedeu à TV Jornal. Ela foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Lagoa Encantada, onde se constatou que ela teve apenas escoriações na cabeça e perna. Em seguida, foi transferida para o Hospital da Restauração, onde foi submetida a mais exames.
Pavor
O pai, que lutou para encontrar a filha e tira-la da lama, não conseguia esconder a alegria de saber que as perdas foram apenas materiais. Uma foto sua, chorando em frente ao que sobrou da casa, comoveu os moradores da capital pernambucana.
“Me sinto muito feliz em tê-la aqui do lado e em ter conseguido salvá-la”, disse Batista, acrescentando que clamou aos céus para pedir forças: “Foi um momento de desespero. Quando ouvi o tremor, meu filho pediu ajuda, aí me levantei nas carreiras e quando vi não conseguia achar minha filha. Perguntei ‘cadê minha filha?’ e meu filho disse ‘não sei, tá aí soterrada’, e eu comecei a procurar ela, andei no barro, procurando a minha filha, eu só pedia ‘cadê minha filha, eu quero minha filha, Jesus’”.
“Eu só vi tijolo e muito barro, ela nem sequer respirava. Comecei a cavar com as minhas unhas, pedi a ajuda do vizinho, a gente cavou e encontrei o pé dela […] tirei o resto do barro, do tijolo e do concreto, aí consegui puxar a minha filha”, relembrou, emocionado.
Com a família abrigada na casa de parentes, o pedreiro tem pedido ajuda financeira para reconstruir a vida, uma vez que ele está desempregado e sem lugar para morar: “Não tem mais condições de morar aqui depois disso”.