O que costuma ser chamado de “escolhi esperar” (ou “cultura da pureza” nos Estados Unidos) não é a mesma coisa que permanecer sexualmente abstinente fora do casamento, embora muitos confundam as duas coisas, afirmou o pastor Tim Keller.
Nas redes sociais, o pastor Tim Keller – fundador da Redeemer Church, em Nova York – publicou um texto em que se debruçou sobre a ética sexual cristã nos tempos da Igreja Primitiva, afirmando que “o sexo era apenas para dentro de uma aliança mútua, de doação total e super-consensual ao longo da vida”, algo “revolucionário”, dada a prevalência da ética greco-romana da época.
“Foi baseado em um princípio igualitário radical de que o corpo do marido pertencia à esposa, e a da esposa ao marido (I Coríntios 7:4). Isso significava que qualquer pessoa que explorasse ou abusasse do casamento estava violando a ética sexual cristã da mesma forma, ou mais, que aqueles que fizeram sexo fora do casamento”, escreveu.
Na era greco-romana, os homens de status social superior podiam exigir sexo de qualquer pessoa de status social inferior, mesmo que fossem casados, conforme informações do portal The Christian Post.
Diferentemente disso, a chamada cultura da pureza é um fenômeno que surgiu nas últimas décadas em algumas igrejas com a ascendência do livro Eu Disse Adeus ao Namoro, de Joshua Harris – livro esse pelo qual o autor se tornou conhecido e agora reprova o conteúdo.
O livro ultrapassou as Escrituras e elevou comportamentos específicos, incluindo sexo fora do casamento, como “pecados imperdoáveis”, disse Keller, e “foi muito além da ética sexual cristã ao argumentar que você não deveria ‘namorar’ ou mesmo beijar alguém a menos que tivesse certeza você ia se casar com ele”, acrescentou o pastor.
“No entanto, dizer que a abstinência sexual fora do casamento é automaticamente ‘cultura da pureza’ é, na melhor das hipóteses, historicamente ingênuo e desinformado e, na pior, deliberadamente desonesto. Eles não são a mesma coisa. Aqueles que estão zangados com os abusos da cultura da pureza estão certos em ficarem”, argumentou Keller.
“Fez mal e deve ser denunciado e lamentado. Há uma diferença”, reiterou o pastor, enfatizando os exageros da chamada “cultura da pureza”.
Extremos
A argumentação do respeitado pastor e escritor vêm a público dois anos depois que Joshua Harris se desculpou por seu livro e subsequentemente anunciou que ele não mais se identificava como cristão e que seu casamento havia acabado.
A desconstrução pública de Harris ocorreu em meio a um impulso contínuo de algumas vozes defensoras do liberalismo teológico, como Bromleigh McCleneghan, autor de Good Christian Sex: Why Chastity Isn’t the Only Option – And Other Things the Bible Says About Sex (“Bom sexo cristão: por que a castidade não é a única opção e outras coisas que a Bíblia diz sobre sexo”, em tradução livre).
Esse título, assim como outros, está no extremo oposto do que propõe Eu Disse Adeus ao Namoro, fazendo apologia ao abandono da ética sexual cristã histórica como um todo, em parte por causa dos danos que a “cultura da pureza” causou.
Outras vozes, como Juli Slattery, que lidera um ministério chamado Authentic Intimacy e é a autora de Rethinking Sexuality: God’s Design and Why It Matters (“Repensando a sexualidade: o projeto de Deus e o porque ele importa”), responderam à resistência contra a “cultura da pureza”, reconhecendo os danos que ela causou ao distinguir entre a ênfase exagerada na moralidade sexual e abstinência dentro do movimento e no plano redentor de Deus para a sexualidade humana mostrado em toda a Escritura.
“Cada questão sexual é, no fundo, uma questão espiritual. Quando o sexo se torna confuso, nos leva a reexaminar o que acreditamos sobre Deus. Fazer sexo errado geralmente começa e termina com uma interpretação errada do caráter de Deus”, escreveu Slattery recentemente.
“O movimento de pureza ensinou um Deus que nos deu regras morais a seguir, mas não enfatizou Sua natureza redentora. Em nossos dias, ensinamos sobre o amor e a misericórdia de Deus, mas tendemos a pular Sua santidade e julgamento justo. Este é um perigo grave. do qual cada geração da Igreja deve estar ciente”, avaliou ela.