Uma emissora de rádio ligada à Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) teria recebido repasse de verba ilegal de políticos de Belo Horizonte (MG), incluindo um ligado à diretoria da denominação. O caso vem sendo investigado pelo Ministério Público.
O fio de investigação envolve o presidente da Câmara Municipal da capital mineira, vereador Henrique Braga (PSDB), que está sendo investigado por suspeita de fraude em contrato de publicidade que foi firmado pela Casa na gestão de Wellington Magalhães (PSDC), que atualmente está preso no Complexo Penitenciário Nelson Hungria.
Os dois políticos são alvo da Operação Sordidum Publicae, de acordo com informações do portal O Tempo. No meio dos repasses ilegais, está a emissora Fundação Rádio Educativa Quadrangular, que recebeu R$ 122 mil.
A investigação diz que o valor foi repassado à emissora sem nenhum tipo de parâmetro técnico, o que evidenciaria privilégios pelas relações políticas dos dois vereadores. Henrique Braga, segundo os promotores que investigam o caso, é conselheiro da emissora de rádio, que pertence à Igreja do Evangelho Quadrangular, da qual o vereador é superintendente e um dos principais líderes.
Na época em que os repasses investigados foram feitos, Wellington Magalhães era o presidente da Câmara Municipal e Henrique Braga era o 1º vice-presidente. As notas fiscais dos repasses encontradas pelas diligências do MP e da Polícia Civil estavam rubricadas com a sigla “OP”, que significa “Ordem do Presidente”, de acordo com o que foi apurado pelos investigadores a partir de depoimentos de funcionários da Casa.
Os documentos marcados desta maneira eram tratados com prioridade, gerando agilidade nos pagamentos. No entanto, a Igreja Quadrangular não é a única que está sob olhares do Ministério Público. A Igreja Internacional da Graça de Deus, do missionário R. R. Soares, também precisaria prestar esclarecimentos sobre o repasse de R$ 136 mil feito à Fundação da Graça de Deus.
Uma nota fiscal marcada com a sigla “OP” emitida pela fundação chamou atenção dos investigadores, já que R. R. Soares foi apoiador de Wellington Magalhães durante a campanha eleitoral. “Conforme relatado pelos próprios denunciados, R.R. Soares foi apoiador direto e cabo eleitoral de Magalhães”, pontua um trecho da denúncia.
Com os repasses às emissoras de rádio ligadas a Braga e R.R. Soares, o MP conclui que “o grupo criminoso possuía, como modus operandi, a canalização de recursos e premiação, com garantia de retorno pelo apoio de pessoas e empresas que orbitam em torno do então presidente da Câmara de BH”.
O Ministério Público aponta ainda que, ao chegar à presidência da Câmara, Magalhães e seu grupo teriam “fraudulentamente” cancelado a licitação iniciada pela gestão anterior para a contratação de uma agência de publicidade, para em seguida, montar uma nova concorrência de cartas marcadas que teria como vencedora a empresa Feeling Comunicação.
Após a assinatura do contrato com a Feeling, Magalhães ampliou substancialmente o valor do contrato, com aditivos que praticamente dobraram o valor disponível para publicidade da Câmara, permitindo que o excedente fosse desviado pela empresa através de subcontratações simuladas e de superfaturamentos, levando os recursos às mãos de membros do esquema.
Até agora são 14 pessoas denunciadas por crimes como organização criminosa, corrupção, lavagem de dinheiro, peculato e crimes contra a lei de licitações. O vereador Henrique Braga ainda não foi denunciado, pois o MP considera que é necessário abrir uma linha de investigação específica.
A reportagem do portal O Tempo procurou a assessoria de imprensa do vereador Henrique Braga e da Igreja do Evangelho Quadrangular, mas as ligações e mensagens não foram respondidas.