A atuação de empresas em sistema de pirâmide financeira vem sendo bastante combatida no Brasil depois que o caso Telexfree foi divulgado pelas autoridades. Diversas empresas que alegam atuar em um esquema de marketing multinível vem sendo investigadas pelo Ministério Público, que visa proibir os esquemas em pirâmide que são ilegais.
O apóstolo Renê Terra Nova se tornou um divulgador de uma empresa que alega atuar no sistema de marketing multinível (ou marketing de rede) e que distribui produtos cosméticos, como perfumes, cremes hidratantes, maquiagens e até barras de cereais.
Em suas redes sociais, Terra Nova afirma que a empresa Z7 Family é uma “oportunidade de negócio com selo VEC- Verdade – Excelência e Compromisso” que “com certeza mudará sua vida financeira e ampliará sua prosperidade” e questiona aos seus seguidores: “Você quer entrar?”.
No site da Z7, a empresa descreve como os interessados em integrarem o quadro de colaboradores conseguem crescer no esquema de hierarquia: a cada período, o colaborador deve consumir um número mínimo de produtos que, dentro do esquema interno da empresa, represente um valor igual a 250 pontos. Caso esse colaborador traga outros quatro novos colaboradores naquele período, ele sobe um degrau na hierarquia. No período seguinte, esse colaborador e os outros quatro que foram trazidos por ele devem repetir o procedimento de trazer, cada um, mais quatro interessados que também consumam um mínimo de 250 pontos, para assim, o primeiro subir mais um degrau, e assim subsequentemente.
Essa regra da empresa divulgada por Terra Nova é o que traz polêmica ao negócio. A Z7 afirma em seu site que para se tornar um colaborador da empresa é necessário ser apresentado por um “patrocinador” – alguém que já integre o quadro de colaboradores da empresa – e adquirir “Kit de Início de Negócio”, que varia entre R$ 298,00 a R$ 7 mil.
Segundo especialistas, um esquema em pirâmide é uma proposta previsivelmente é insustentável, pois em algum momento, não haverão mais pessoas interessadas em se tornarem colaboradoras, e a perda financeira das pessoas que entrarem por último, será inevitável. Nas redes sociais, internautas já se referem ao negócio como sendo uma pirâmide, embora não existam comprovações irrefutáveis para tal afirmação.
Para Renê Terra Nova, os produtos e modelo de negócio da Z7 são uma “proposta de cura da defraudação que muitos marketing multiníveis deixaram”. O líder do Ministério Internacional da Restauração diz ainda que orou pelo negócio na Coreia do Sul, país onde surgiu o modelo de células através do pastor Paul Yonggi Cho e difundido no Brasil pelo próprio Terra Nova, entre outros apóstolos.
Há dois meses, a empresa Z7 Family chamava-se Z7 Grupo Evolution, e agora adotou um novo nome fantasia. Numa consulta ao site da Junta Comercial do Estado de São Paulo, o registro da empresa não apresenta dados como CNPJ e Inscrição Estadual. O garoto-propaganda da empresa nos vídeos divulgados no YouTube é o empresário José Antônio Lino, que também é esposo da pastora e cantora gospel Ludmila Ferber.
Veja um dos vídeos:
Marketing multinível versus Pirâmide financeira
A diferença básica entre as duas estratégias de negócio é que a primeira é permitida pela legislação, e a segunda, é encarada como fraude. No marketing multinível – estratégia usada por empresas como Avon, Natura, De Millus e até pela editora Central Gospel, do pastor Silas Malafaia, que recém iniciou a estratégia de revendedores porta a porta – os interessados no negócio adquirem produtos e lucram com a revenda desse produto, sem a obrigação de ter metas a bater ou de agregar novos colaboradores.
Na pirâmide financeira, os interessados devem adquirir valores mínimos mensalmente, com a obrigação de trazer novos colaboradores para que seus ganhos financeiros sejam maiores. Essa repetição resulta em ganhos altíssimos para alguns dos integrantes da pirâmide, que são justamente os que começaram o negócio primeiro. Porém, a cada novo integrante, aumenta a possibilidade de que a fonte de recursos – os novos colaboradores – seque.
Nos esquemas em pirâmide, a venda dos produtos é um meio de atrair novos colaboradores e não a atividade final da empresa, pois a maior parte do lucro vem das novas adesões. No marketing multinível, as empresas adeptas do modelo obtém seu lucro a partir da venda de seus produtos, sem exigir que os colaboradores tragam novos interessados.
Nos Estados Unidos, as autoridades orientam que uma boa forma de discernir se uma empresa atua como pirâmide financeira é verificar sua receita: se 70% dos valores arrecadados forem advindos da venda de produtos, trata-se de uma empresa de marketing multinível. Qualquer valor inferior a essa porcentagem, caracteriza a empresa como pirâmide financeira.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+