A mãe que perdeu dois filhos na tragédia do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, afirmou que a solidariedade das pessoas e o consolo divino vem sendo a fonte de seu sustento nos dias de luto.
“Essa força é de Deus”, afirmou Elaine Marques Gonçalves, 61 anos, em entrevista ao G1. Segundo ela, a dor que o país sentiu pela tragédia podia ser sentida através das manifestações de apoio e carinho que, mesmo partindo de estranho, a confortaram: “Me doía ver aquele sofrimento, eles estavam chorando junto comigo, pelos meus filhos. Foi disso que tirei forças”.
Os filhos de Elaine, Deives Marques Gonçalves, de 33 anos, e Gustavo Marques Gonçalves, de 25 anos eram os únicos homens dos quatro filhos. A dona de casa afirma que o mais velho era “mais dependente” da relação materna e também era seu “companheiro de mate”, um hábito dos moradores sul.
Viúva, Elaine afirma que sua dedicação aos filhos era total: “Sempre fiz de tudo para eles, sempre quis o melhor e que eles tivessem estudo”, contou. O mais novo, era funcionário de um comércio num shopping local, e o mais velho, estava desempregado e pretendia voltar aos estudos.
A filha de Elaine, Daniele, conta que as manifestações de carinho chegam pessoalmente e também através das redes sociais: “Eu vou aceitando quem pede para ser meu amigo, porque acho importante. No momento a gente precisa desse carinho”, conta, revelando ainda que muitas pessoas vão até a residência deles e oferecem apoio e doações: “Nós aceitamos. Não vou mentir, a gente precisa”, afirma, revelando o desejo de que o carinho não seja momentâneo: “Desejo que isso não acabe aqui, que não seja apenas agora”.
A família recebeu uma visita de três psicólogas que integram o grupo “Psicologia pela Humanidade”, formado por profissionais do Rio de Janeiro e São Paulo, e que voluntariamente foram a Santa Maria para prestar ajuda aos familiares.
Elaine, que vem enfrentando o luto a partir do apoio recebido, afirma que deseja justiça, não indenização: “Quero o povo comigo, porque não vou perder dois filhos impunemente. Dei a eles tudo o que precisavam. Agora perco eles e fica por isso? E os parentes das outras vítimas? Não quero que ninguém me pague nada, não quero dinheiro, isso não traz meus filhos de volta. Quero é que os responsáveis paguem pelo que fizeram. E todo mundo está me apoiando”, desabafou a mãe.
A Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul atualizou a contagem das vítimas da tragédia, que agora somam 237 mortos e 114 feridos.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+