A decisão, ousada, do presidente Donald Trump em abordar a situação dos cristãos perseguidos na Coreia do Norte durante seu encontro com o ditador Kim Jong-Un trouxe de volta à tona o assunto na mídia cristã internacional. Mas qual é a real situação dos seguidores de Jesus no país?
“Eu falei sobre isso, absolutamente. Eles vão trabalhar nisso. Nós não colocamos no documento. Será trabalhado. Cristãos, sim” , disse Trump em uma entrevista coletiva após a assinatura do acordo de paz que assinou na última terça-feira, 12 de junho, em Cingapura.
“Trouxemos isso [ao debate]. Franklin Graham passou, e gasta, uma quantidade enorme de tempo na Coreia do Norte. Ele tem isso em seu coração. [O assunto] surgiu e as coisas vão acontecer”, acrescentou Trump.
Assim que a notícia se espalhou, a unidade da Missão Portas Abertas nos EUA reiterou que, há anos, a Coreia do Norte se solidificou como a principal perseguidora dos cristãos no planeta. O presidente da entidade, David Curry, comemorou a decisão de Trump em tocar no assunto e mostrar a Kim Jong-un que o mundo está atento ao que ocorre em seu país.
“Embora tenhamos poucos detalhes do que foi dito, a decisão do presidente Trump de abordar as atrocidades dos direitos humanos da Coreia do Norte foi diplomaticamente ousada, e estamos particularmente felizes em ouvir o presidente dizer que ele pontuou a situação dos mais de 300 mil cristãos que enfrentam perseguição e até mesmo morte sob o regime de Kim Jong-Un”, disse Curry.
De acordo com a jornalista Jessilyn Justice, do portal pentecostal Charisma News, estima-se que até 120 mil cristãos já tenham sido confinados em campos de prisioneiros, em condições deploráveis. “Mantenho a esperança de que os direitos humanos e a desnuclearização na Coreia do Norte não precisem ser esforços mutuamente exclusivos”, escreveu.
“O principal condutor da perseguição na Coreia do Norte é o Estado. Por três gerações, tudo no país se concentrou em idolatrar a família Kim. Os cristãos são vistos como elementos hostis na sociedade, que devem ser erradicados. Devido à doutrinação constante que permeia todo o país, vizinhos e até mesmo membros da família são altamente vigilantes e relatam qualquer atividade religiosa suspeita às autoridades”, diz um trecho do relatório 2018 da Portas Abertas sobre a perseguição religiosa no país.
Outra entidade que monitora a perseguição religiosa na Coreia do Norte, Christian Solidarity Worldwide (CSW), emitiu um relatório em 2016 com depoimentos que atestam atrocidades semelhantes: “Os cristãos geralmente praticam sua fé em segredo. Se descobertos, eles estão sujeitos a detenção e, em seguida, provavelmente levados para campos de prisão política (kwanliso)”, diz o documento.
“Os crimes contra eles nesses campos incluem assassinato extrajudicial, extermínio, escravidão/trabalho forçado, transferência forçada de população, prisão arbitrária, tortura, perseguição, desaparecimento forçado, estupro e violência sexual, e outros atos desumanos. Incidentes documentados contra cristãos incluem ser pendurado em uma cruz sobre uma fogueira, esmagamento por rolo compressor, arremesso de cima de pontes e pisoteamento”, acrescenta o relatório da CSW.
“Aplica-se uma política de culpa por associação, o que significa que os parentes dos cristãos também são detidos, independentemente de partilharem a crença cristã. Até mesmo os norte-coreanos que escaparam para a China e que são ou se tornam cristãos são frequentemente repatriados e, posteriormente, presos em um campo de prisioneiros políticos”, conclui o documento.
O executivo e fundador da entidade World Help, Vernon Brewer, afirma que o encontro e acordo feito entre Trump e Kim Jong-un não traz esperança aos seguidores de Jesus no país mais fechado do mundo. “Enquanto essas imagens amigáveis e conversas sobre concessões nucleares são um pouco reconfortantes para nós, os cristãos norte-coreanos não se sentem mais seguros hoje do que ontem”, lamentou.
“Acreditar em Jesus ainda é um crime que pode levar um seguidor de Cristo a um campo de trabalho ou prisão, e em muitos casos, equivale a uma sentença de morte. No entanto, aqui está a coisa mais incrível: a ‘igreja subterrânea’ da Coreia do Norte continua a crescer! Os crentes continuam a arriscar suas vidas para colocar as mãos em uma Bíblia. Ao celebrar os líderes norte-americanos e norte-coreanos reunidos, não podemos nos esquecer dos irmãos e irmãs norte-coreanos. Devemos continuar falando [sobre eles] e orando por eles. Eles ainda estão esperando por sua própria vitória”, seguiu Brewer.
A World Help tem trabalhado para fornecer Bíblias para os cristãos norte-coreanos, e já arrecadou o suficiente para enviar quase 68 mil exemplares, com a meta de chegar a 100 mil.
Embora Trump tenha dito que a desnuclearização era a prioridade do encontro, o presidente afirmou que Kim reagiu “muito bem” quando questionado sobre abusos dos direitos humanos. “Eu acredito que é uma situação difícil lá. Não há dúvida sobre isso. Nós discutimos isso hoje fortemente. Sabendo que o principal objetivo do que estamos fazendo é a desnuclearização, [a perseguição religiosa] foi discutida em boa extensão. Vamos fazer algo sobre isso. É difícil”, sublinhou o presidente.
“É difícil em muitos lugares, a propósito. Continuaremos com isso e acho que, em última análise, concordamos com algo. Foi discutido em detalhes fora da situação nuclear. Um dos principais tópicos”, reiterou. Em sua campanha presidencial, em 2016, Trump assumiu o compromisso com líderes cristãos dos EUA de dar atenção à perseguição religiosa mundo afora.