Uma pesquisa recente apontou que a maioria dos cristãos projeta uma imagem do rosto de Deus que varia conforme seu contexto social e posicionamento político.
A pesquisa “Os rostos de Deus na América: revelando a diversidade religiosa entre pessoas e política” foi publicada na revista científica Plos One na última segunda-feira, 11 de junho, pelos pesquisadores Joshua Conrad Jackson, Neil Hester e Kurt Gray.
Em seu estudo, concluíram que mais de 70% dos cristãos norte-americanos projetam uma aparência de Deus que é diretamente influenciada por sua demografia e visão política. Os pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte (UNC) resumiram que, embora os cristãos americanos professem acreditar em um Deus universal, eles não têm uma visão universal de seu rosto.
“Começamos este artigo com uma pergunta: Como Deus se parece? Nossos resultados sugerem que pode não haver uma única resposta para todos os crentes, mesmo dentro da mesma religião. Quando os crentes pensam em Deus, eles percebem uma mente divina que é adequada para satisfazer suas necessidades e quem se parece com eles. Mesmo que os cristãos americanos expressem a crença em um Deus universal, suas percepções de Sua face não são universalmente semelhantes”, afirmaram.
Segundo informações do portal The Christian Post, no estudo, os pesquisadores usaram uma nova técnica para criar uma imagem composta de como Deus se parece com uma amostra da descrição feita por 511 cristãos.
Os participantes do estudo mostraram centenas de pares de faces aleatoriamente variados e selecionaram quais faces de cada par pareciam mais com a forma como imaginavam que Deus se parecia. Combinando todas as faces selecionadas, os pesquisadores reuniram uma “face de Deus” composta que refletia como cada pessoa imaginava que Deus aparecesse.
“Os liberais vêem Deus como relativamente mais feminino, mais afro-americano e mais amoroso do que os conservadores, que o vêem como mais velho, mais inteligente e mais poderoso”, disseram os pesquisadores.
“Todos os participantes vêem Deus como semelhante a si mesmos em atratividade, idade e, em menor grau, raça. Essas diferenças são consistentes com pesquisas anteriores que mostram que as visões de Deus sobre as pessoas são moldadas por suas motivações e vieses cognitivos baseados em grupos […] Até mesmo pessoas da mesma nacionalidade e da mesma fé parecem pensar diferentemente sobre a aparência de Deus”, acrescentaram.
Jackson, que é o principal autor do estudo, explica em um comunicado da UNC que os preconceitos refletidos nas percepções de Deus podem ser uma projeção do tipo de sociedade em que as pessoas desejam viver. “Esses preconceitos podem ter se originado do tipo de sociedades que liberais e conservadores querem”, observou.
“Pesquisas anteriores mostram que os conservadores são mais motivados que os liberais a viver em uma sociedade bem ordenada, que seria melhor regulada por um Deus poderoso. Por outro lado, os liberais são mais motivados a viver em uma sociedade tolerante, que seria melhor regulado por um Deus amoroso”, acrescentou.
Ao explicar melhor as motivações por trás dos vieses, os pesquisadores apontaram para pesquisas psicológicas contemporâneas que mostram que pessoas que não têm controle em suas vidas tendem a ver Deus como mais poderoso e influente como uma forma de controle compensatório.
As pessoas que se sentem ameaçadas pelo conflito intergrupal conceituam Deus como mais autoritário e punitivo, já que esse tipo de Deus poderia regular melhor uma sociedade em guerra.
“E as pessoas com uma forte necessidade de um apego seguro tendem a ver Deus como mais amoroso para se fornecer uma figura de apego. Juntas, essas perspectivas sugerem que as pessoas atribuem traços a Deus que ajudam a realizar motivações salientes”, destacaram os pesquisadores.
“A tendência das pessoas a acreditar em um Deus que se parece com elas é consistente com um viés egocêntrico”, explicou Kurt Gray. “As pessoas muitas vezes projetam suas crenças e traços sobre os outros, e nosso estudo mostra que a aparência de Deus não é diferente – as pessoas acreditam em um Deus que não apenas pensa como eles, mas também se parece com eles”.
No que se refere a gênero, o estudo descobriu que, apesar do barulho promovido por grupos feministas, homens e mulheres descreveram Deus como uma figura de aparência masculina.