A fé e a ciência quase sempre traçam rotas de colisão, e não são raras as tentativas de pessoas renomadas de ambos os lados que buscam impor uma visão sobre o assunto.
Os debates, intermináveis, são vistos de diversos ângulos. Michael Shermer, psicólogo norte-americano, acaba de lançar um livro intitulado “Cérebro e Crença”. Em sua publicação, Shermer alia a necessidade do cérebro em ter crenças no sobrenatural ao instinto de sobrevivência: “O cérebro conecta pontos em busca de padrões, mas nem sempre distingue o que é real. É como se estivesse programado para crer em qualquer coisa por precaução”, afirma o psicólogo.
Segundo estudos realizados sobre o tema apontam para uma afirmação científica de que o cérebro humano é tendencioso a criar padrões e generalizações: “Há grupos de neurônios responsáveis por criar espécies de protótipos internos. Logo que vemos um objeto, não processamos todas as informações, mas tentamos encaixá-lo nesses protótipos”, explica o filósofo João de Fernandes Teixeira, professor da Universidade Federal de São Carlos, em entrevista à revista Galileu.
Os cientistas afirmam ainda que diversos fatores podem influenciar na forma como o indivíduo se envolve e se apega às crenças. Dentre os principais, estariam graus de inteligência, idade, instrução – no sentido de formação escolar, e gênero (masculino ou feminino).
Os estudos apontam que quanto maior o nível de QI, maior a possibilidade de ceticismo, enquanto que a idade influencia de forma a tornar as pessoas mais racionais e menos propensas à ter fé conforme os anos passam.
Nessa mesma linha de pesquisa, cientistas tem descoberto que embora homens e mulheres tenham a mesma tendência à fé, as mulheres são mais propensas a crerem em espíritos ou em formas de prever o futuro , enquanto que os homens tem maior afeição à ideias ligadas à extraterrestres e monstros.
O grau de instrução é apontado pela ciência como o maior causador de ceticismo, embora esse ceticismo proveniente dos estudos possa ser direcionado a diversos assuntos, não apenas à religião.
O neurocientista Ricardo de Oliveira, do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, afirma que a tendência á fé está ligada ao DNA: “Há evidências de que o peso genético é decisivo e o ambiente cultural atuaria como um fornecedor de alternativas de crença. Em tese, alguém criado numa família religiosa, mas sem essa base favorável à capacidade de crer, dificilmente preserva tal comportamento fora desse contexto”, teoriza.
Entretanto, o debate da ciência sobre a fé leva a um ponto inevitável, dizem os cientistas. A pergunta “crer faz bem?” não possui uma resposta definitiva em termos científicos, mas já se considera que sim: “Centenas de estudos indicam que um maior envolvimento religioso está relacionado a menores índices de mortalidade, taxas mais baixas de depressão e uso de drogas e maior tempo de vida em doenças graves”, resume o psiquiatra Alexander Moreira-Almeida.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+