A jornada de 13 de março, como vem sendo chamada a manifestação nacional do último domingo contra o governo da presidente Dilma Rousseff (PT), reuniu mais de 3,6 milhões de pessoas nas ruas, de acordo com um levantamento feito a partir dos dados das polícias militares de 26 estados e do Distrito Federal.
Apenas na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), a PM estima que 1,4 milhão de pessoas participaram do evento. Os organizadores, no entanto, falam em 2,5 milhões ao longo do dia. Em Brasília, onde o pastor Silas Malafaia discursou, as forças de segurança estimaram em 100 mil o número de participantes, contra 45 mil do dia 15 de março de 2015.
Malafaia, que acompanhou a manifestação de um trio elétrico, afirmou que o poder “emana do povo”, pois é “o povo põe, e o povo tira” os governantes. “Minha gente, o Supremo Tribunal Federal, se não se manifestar, o povo vai botar eles [petistas] na rua. Eu tenho sido perseguido por esse governo. Tentaram me cooptar e não conseguiram, porque eu não vou ser comprado por esses vagabundos. Fora PT. O povo brasileiro vai botar essa cambada fora”, afirmou o pastor.
Logo após seu breve discurso, o protesto foi encerrado, segundo o jornal Estado de Minas: “O pastor Silas Malafaia foi muito vaiado quando discursava num trio elétrico. Com receio de tumulto, os organizadores decidiram dar por encerrado o ato. Soltaram papéis picados e, pouco depois do meio-dia, executaram do trio elétrico o Hino Nacional”, informou.
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Impeachment
O maior pedido da multidão que tomou as ruas era a saída da presidente Dilma Rousseff do governo. Como resposta, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), afirmou que irá retomar o processo de cassação ainda nesta semana, após o STF julgar o recurso sobre o rito legal do impeachment.
A informação da decisão de Cunha foi levada ao ar na manhã desta segunda-feira, 14 de março, pela rádio Jovem Pan. De acordo com a emissora, a Comissão Especial deverá ser instalada na próxima quinta-feira, 17 de março.
Segundo informações do portal G1, o STF vai analisar na próxima quarta-feira, 16 de março, o recurso apresentado pela Câmara contra a decisão que barrou o rito do processo de impeachment, que havia sido definido no ano passado pela direção da Câmara. O processo está paralisado desde então, quando os ministros anularam a eleição de uma chapa alternativa de deputados – não indicada por líderes – para compor a comissão que analisará o pedido de afastamento da presidente da República.
Na ocasião, o ministro Luís Roberto Barroso em seu voto defendeu que uma chapa avulsa não poderia ser aceita, e pontuou que o Senado poderia recusar o processo de impeachment mesmo depois que a Câmara o iniciasse. A decisão, no entanto, contraria o rito usado no processo que o Poder Legislativo moveu contra Collor, em 1992, e agora existe a possibilidade de que as decisões do STF sejam reformadas.
Bastidores
Diante das manifestações de ontem, o PMDB, principal aliado do PT no governo, já considera que o impeachment de Dilma é inevitável, pois a pressão popular cobra dos parlamentares uma resposta.
De acordo com informações do jornalista Diego Escosteguy, da revista Época, os caciques do partido irão trabalhar para acelerar o processo na Câmara e, posteriormente, no Senado: “Em conversas reservadas entre sábado (12), após a convenção do partido, e hoje, ainda no auge dos protestos deste 13 de março, os chefes da legenda concluíram que Dilma não tem mais condições de se manter no poder. Apesar das diferenças entre as alas do partido, emerge o consenso de que a melhor estratégia para o PMDB consiste em trabalhar pelo impeachment somente nos bastidores, em vez de romper publicamente com Dilma”, informou.
Segundo os planos do partido, Cunha iniciará os trabalhos práticos pelo impeachment na próxima sexta-feira, 18 de março, e em dois meses, o Brasil teria novo presidente: “Em 30 dias, a comissão terminará seus trabalhos e, no começo de maio, os 513 deputados votarão em plenário o afastamento de Dilma. Isso, é claro, se o Supremo não intervier novamente no processo de impeachment”, acrescentou Escosteguy.
Em caso de vitória da oposição, Dilma veria o fim de seu segundo mandato menos de dois anos após ter sido reeleita, e o Brasil teria o segundo presidente deposto em menos de 30 anos por uma mistura de incompetência administrativa, pressão popular e envolvimento em casos de corrupção.