Um médico cristão acreditou que morreria após ser infectado com o novo coronavírus e ver seu quadro de saúde se agravar. Ele chegou a orientar a esposa sobre questões financeiras, mas viu as coisas mudarem após ela pedir orações na igreja e sentiu que Deus o livraria da morte.
Felipe Cardoso da Mata, 43 anos, evangélico, estava trabalhando no Hospital São Francisco, em Cariacica (ES), quando foi infectado. Ele teve contato com um paciente que havia sido internado por outro motivo, mas acabou contraindo a Covid-19.
“O tempo todo eu pensava que o pior pudesse acontecer. Já estava me preparando para morte. Conversei com minha esposa, entreguei meus cartões, o dinheiro que estava na carteira e expliquei como resgatar uma aplicação que fiz, pois, como médico, vi que a situação poderia se agravar e estava indo para um caminho ruim’, disse o médico numa entrevista ao portal Tribuna Online.
Logo que soube que o paciente que havia contraído a Covid-19 havia testado positivo, tomou medidas de precaução: “Ainda não tinha noção que estava contaminado, mas percebi o risco, conversei com minha esposa e me isolei num quarto em casa, sem contato com ela e com minhas duas filhas”, relembrou. “Fiquei quatro dias assim até fazer o exame. Quando fiz, ainda não tinha nenhum sintoma. No dia seguinte, fui trabalhar normalmente, e comecei a ter febre baixa de 37.8. O resultado dando positivo saiu neste dia”.
Embora tenha começado o tratamento imediatamente após o resultado do teste, seu quadro de saúde foi piorando com o passar do tempo: “Quando vi o resultado, fui ao hospital e iniciei o tratamento com as drogas. Fiquei nove dias em casa, tive febre, diarreia, fraqueza e náusea. Dias depois, fiz uma tomografia que apontou que eu estava com pneumonia causada pela Covid e com uma infecção secundária”, contou.
“A pneumonia avançou. Eu não queria ser internado, mas não tinha mais condições. No 11º dia, piorou, febre alta, sensação de desmaio, palidez. Minha saturação chegou a 88. Fiquei três dias sem comer, foram dias horríveis, os piores da minha vida”, disse Felipe.
O médico admitiu que achou que iria morrer, mas justamente nesse ponto, uma mudança de cenário ocorreu: “Já estava me preparando. Estava consciente de que a coisa poderia ficar grave. Para quem é médico é pior, pois entende o que está acontecendo. Vi que estava num caminho ruim. Minha esposa ficou desesperada. Ela pediu muitas orações. Numa noite ruim, senti que Deus falou comigo e vi as coisas mudarem de rumo. No dia seguinte, voltei a me alimentar. Chorei muito, pois percebi que estava reagindo”, testemunhou.
Agora, já de volta ao trabalho para ajudar outras pessoas a superarem a doença, o médico contou que enxerga a situação de forma diferente: “Passar por essa experiência me fez entender melhor a doença, e agora e consigo tratar melhor meus pacientes. É uma doença que engana muito. A pessoa acha que está bem, mas não está. Teve um paciente que queria ter alta, mas o estado era gravíssimo, e ele morreu no mesmo dia”, lamentou.
Para Felipe, o cenário no país irá melhorar, mas pode levar tempo: “Assim como foi com outras pandemias, essa só vai acabar quando 70% da população tiver contato com o vírus. A forma como isso vai acontecer varia de país para país. Se os hospitais estão com 85% dos leitos ocupados, é preciso fechar tudo, pois não haverá suporte. Mas se o hospital está mais vazio, pode abrir, mas com todo cuidado especial, pois se 70% da população tiver contato de uma vez, não teremos suporte”.
“Outra solução é a vacina. Mas o brasileiro está levando a situação de uma forma muito relaxada. Ainda não criou a consciência do risco que isso pode causar para ele e para os outros”, concluiu o médico.