Após sofrer acusações de abuso sexual de mais de 300 mulheres, o médium “João de Deus” se entregou à Polícia na tarde do último domingo, 16 de dezembro, numa área rural nas proximidades de Abadiânia, Goiás. Sua prisão preventiva havia sido decretada pela Justiça na sexta.
“João de Deus” ficou internacionalmente conhecido por supostamente realizar curas de maneira sobrenatural na casa Dom Inácio Loyola, em Abadiânia. Ele foi acusado de praticar abusos contra as mulheres que o procuravam em busca de ajuda para problemas de saúde. As primeiras denúncias foram realizadas na última quarta-feira, 12 de dezembro, durante o programa Conversa com Bial, da TV Globo.
Após as denúncias, centenas de outras mulheres se manifestaram, procurando o Ministério Público, para se apresentarem como vítimas do curandeiro. Ao todo, 330 mulheres já se manifestaram sobre a conduta do médium, que ficou foragido até a tarde de ontem.
Os investigadores que buscam esclarecer as acusações contra João Teixeira de Farias informaram que, logo após as denúncias, o médium realizou saques de suas aplicações bancárias que somaram aproximadamente R$ 35 milhões. Logo depois, ele foi declarado foragido e seu nome passou a constar na lista de procurados da Interpol.
Há anos se sabe da fortuna acumulada por “João de Deus” em sua atuação, já que a fama adquirida o tornou amplamente procurado por pessoas de diversos países. Em 2012, uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo apontou na época que ele era dono de diversas propriedades, entre elas uma fazenda de 597 alqueires na divisa de Goiás com Mato Grosso, avaliada em cerca de R$ 2 milhões.
A fortuna acumulada vem da cobrança que ele fazia das pessoas que o procuravam para pedir ajuda em busca de cura. Até o ex-presidente Lula (PT) o procurou para pedir ajuda para sua esposa, Marisa Letícia, que havia sofrido um AVC hemorrágico e estava internada no Hospital Sírio-Libanês. “João de Deus” viajou a São Paulo e realizou uma sessão de “tratamento espiritual” no dia 29 de janeiro de 2017, e a ex primeira-dama morreria dias depois, em 03 de fevereiro.
Segundo informações da Agência Brasil, o Ministério Público de Goiás (MP-GO) divulgou nota informando que a força-tarefa formada para atuar no caso do médium João de Deus continuará com seus trabalhos.
“A força-tarefa que atua no caso de Abadiânia confirma o cumprimento, por parte da Polícia Civil, do mandado de prisão do médium João de Deus ocorrido no final da tarde deste domingo (16). Os promotores e promotoras intormam que os trabalhos da força-tarefa seguem normalmente nos próximos dias, no intuito de continuar realizando as oitivas das vítimas e produzir as denúncias a serem oferecidas”, diz a nota.
Falso profeta
A blogueira Vera Siqueira comentou as acusações feitas contra o médium dizendo que o caso de “João de Deus” se assemelha com a má-conduta adotada por lideranças e sacerdotes de outras religiões, incluindo o protestantismo e o catolicismo.
“É óbvio que a suposta psicopatia que acomete esse ser não significa que todos os espíritas são assim. Da mesma forma, há padres pedófilos e outros muito dignos de sua batina. E há pastores estupradores e pilantras e outros que são verdadeiros homens de Deus”, pontua.
Siqueira faz uma citação da segunda carta do apóstolo Paulo aos Coríntios, alertando sobre os falsos profetas: “Mas o que eu faço o farei, para cortar ocasião aos que buscam ocasião, a fim de que, naquilo em que se gloriam, sejam achados assim como nós. Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. – II Coríntios 11:12-14”.
Em sua conclusão, a blogueira lamenta por “todas as vítimas da manipulação da fé”, uma vez que as pessoas que procuraram “João de Deus” foram com sinceridade e desespero, e se tornaram presas fáceis de seu algoz.
“Infelizmente, esse não será o primeiro caso e nem o último. Há enganadores em todos os cantos, inclusive dentro das igrejas cristãs. Há quem se utilize da fé e da admiração pessoal para influenciar em benefício próprio. Há quem use o Santo Nome de Deus para conseguir sexo, dinheiro, poder, sucesso. Há quem propagandeie aos quatro ventos meia dúzia de obras sociais nas quais ajuda, para assim justificar sua ânsia por ofertas e sua vida nababesca. Há quem provoque milagres pelo uso da hipnose. E há quem se deixe enganar com tudo isso. Há muitos ‘joões-de-deus’ em nosso meio, cujas vítimas não são ouvidas por não lhes darem voz nem vez. E essas vítimas se fecham em seu particular sofrimento, sem forças, mas cheias da misericórdia Daquele que veio para os oprimidos. Que Deus nos abra os olhos para os enganos deste mundo. De Deus não se zomba. Ele traz luz onde há trevas”, finaliza.