Enquanto o governo do presidente Jair Bolsonaro se articula para voltar aos trilhos com a nomeação de André Luiz Mendonça para o Ministério da Justiça, as acusações feitas por Sérgio Moro em sua coletiva demissionária continuam sendo alvo de questionamentos, e até a Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) cobrou apuração.
A Anajure se manifestou pedindo que eventuais crimes de responsabilidade que poderiam ter sido cometidos pelo presidente Bolsonaro sejam investigados. A Procuradoria Geral da República já apresentou peça ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo que as declarações de Moro sejam investigadas, e caso não se confirmem, estuda a possibilidade de processar o ex-ministro por denunciação caluniosa.
Segundo Sérgio Moro, Bolsonaro teria tentado praticar interferência direta nas investigações da Polícia Federal e teria publicado informações falsas no Diário Oficial da União sobre o processo de demissão do delegado Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da órgão, já que a exoneração foi publicada como uma medida tomada “a pedido” do servidor.
De um lado, Moro garantiu que o delegado não pediu para ser exonerado. De outro, Bolsonaro afirmou que recebeu o pedido do próprio Valeixo, que dias antes teria dito aos colegas de PF, através de uma videoconferência, que estava cansado e queria deixar a função.
Segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo, Moro teria recebido apoio de líderes religiosos, mas a reportagem não indica nomes.
A Anajure divulgou nota descrevendo os anseios da entidade: “Pugnamos pela investigação, por parte dos Poderes da República, das atividades promovidas pelo presidente da República, de possível interferência política na Polícia Federal, com base nas alegações – graves e que podem ser configuradas como crimes de responsabilidade – do discurso proferido hoje pelo doutor Sérgio Moro”.
A entidade é percebida como um braço jurídico de igrejas protestantes tradicionais, como Batistas, Presbiteriana e Metodista. Os principais nomes da Anajure cultivam relacionamento com setores do governo Bolsonaro, e a entidade possui, inclusive, o apoio do Ministério das Relações Exteriores no pleito que faz junto à Organização das Nações Unidas (ONU) para entrar no Comitê sobre Organizações Não-Governamentais.
Um exemplo dessa proximidade com o governo foi a consulta feita pelo presidente Jair Bolsonaro à entidade no processo de escolha do procurador-geral da República, Augusto Aras.
Por outro lado, a Anajure tem relacionamento próximo com o ex-juiz da Operação Lava Jato, que costuma participar dos eventos da instituição, assim como outros ministros de Bolsonaro, como o substituto de Moro, André Luiz Mendonça, Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), Abraham Weintraub (Educação) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores).
Uziel Santana, presidente da entidade, comentou a postura adotada desde o início: “Sem o combate à corrupção, a Anajure não fica no governo e não apoia nenhum outro movimento ou instituição. No dia em que o governo abandonar a pauta da corrupção, a gente não vai estar junto com o governo. Está acima do segmento evangélico”.