O eufemismo se aliou ao radicalismo na ação dos grupos de defesa do aborto, e agora até crianças se tornaram alvo no esforço de convencimento da militância. Um grupo internacional criou uma campanha em que uma ativista apresenta seus argumentos comparando a interrupção da gravidez com uma consulta ao dentista.
A dedicação ao convencimento de que o aborto não é assassinato chegou a um nível inédito numa ação do polêmico grupo Shout Your Abortion (“exalte seu aborto”, em tradução livre), com um vídeo em que a cofundadora do movimento, Amelia Bonow, relata sua experiência de interrupção da gravidez a crianças, tentando convencê-las de que não se trata de uma grande coisa.
Tal empenho levanta a suspeita de que a militância seja, na verdade, um lobby em defesa de uma indústria da morte, que só tem a lucrar com os repasses de verbas governamentais para a realização dos abortos. Em 2018, a interrupção da gravidez se tornou a principal causa de morte no mundo.
De acordo com informações do portal National Review, o grupo do qual Amelia Bonow faz parte vem, desde 2015, incentivando a glamorização do aborto, promovendo relatos de mães que interromperam suas gestações, sob o argumento de que as mulheres não deveriam se sentir culpadas por se permitir usufruir de seus “direitos reprodutivos”.
A apelação pelas crianças não é à toa, pois envolve a construção de uma consciência coletiva nos futuros adultos sobre o aborto, transmitindo o conceito de que se trata, na verdade, do mais simples direito por escolha.
No vídeo, Amelia diz às crianças que durante seu aborto “eles só tiraram a gravidez fora”, num eufemismo que tenta minimizar o real significado do assunto. Como se diz por aqui, “a emenda saiu pior que o soneto” quando a ativista comparou o procedimento com outra situação, essa sim, rotineira: “É como uma consulta em um dentista qualquer ou algo assim”.
“A gente quer que as pessoas simplesmente tenham todos esses bebês?”, ela pergunta a um menino. Quando ele balança com a cabeça dizendo que não, evidentemente levado a isso pela forma da pergunta, Bonow questiona: “Então o que a gente faz com eles?”. A criança, perplexa, tenta achar uma saída alternativa: “Coloca eles para adoção?”, questiona. Amelia não gosta da resposta e expõe seu egoísmo: “Eu me sinto como se fosse forçada a gerar vida. Perdi o direito à minha própria vida. Sou eu quem deveria decidir se meu corpo gera uma vida”, replica.
A ativista desdenha de quem discorda conceitualmente do aborto e afirma que “a expressão ‘pró-vida’ é só propaganda”, acrescentando que a seu ver, defender o aborto é ser pró-vida. Diante do questionamento sincero de uma criança que pergunta o que Deus acha do aborto, ela responde: “Acho que é tudo parte do plano de Deus”.
A jornalista Alexandra DeSanctis comentou que a organização Shout Your Abortion anunciou que pretende lançar um livro infantil sobre aborto ainda em 2019: “Esse novo aceno às crianças – que, de todas as maneiras, nem deveriam ter que saber que um mal tão grave como o aborto existe – é o sinal emblemático de uma perturbadora mudança no movimento pró-aborto, que se segue à já ampla tendência de ativistas de esquerda de conquistar as crianças para suas ideias progressistas já desde cedo”, avaliou.
“A estratégia da esquerda de infectar as crianças com política e de moldar sua visão é particularmente agressiva. […] Exemplos danosos de doutrinação de crianças pela agenda progressista incluem a tentativa da Planned Parenthood de elaborar o currículo de educação sexual de escolas públicas e os esforços crescentes da extrema-esquerda para ensinar a ideologia transgênero às crianças e substituir os pais quando crianças derem sinais de disforia de gênero”, criticou DeSanctis.