O reverendo Augustus Nicodemus Lopes publicou um desabafo sobre a falta de participação dos fiéis em reuniões de oração, e observou que “uma Igreja que não ora está fadada a ver a prevalência do carnal e do humano no caldeirão de tensões” que é uma comunidade de fé.
Lopes, que é pastor presbiteriano, admitiu que escreveu o texto “muitos anos atrás depois de regressar de uma reunião de oração”, mas que acredita que a realidade não mudou: “Acho que ainda tem relevância”.
No texto, o reverendo diz que numa dessas reuniões, encontrou apenas dois membros na igreja, e isso o frustrou: “Senti-me desamparado”. A importância das reuniões de oração é enorme, segundo Lopes, e influencia diretamente na maneira como o pastor conduz a igreja e ministra a Palavra.
“Estou perfeitamente consciente de que sem as orações da Igreja meu preparo intelectual, meus dons e habilidades de liderar e pregar e ensinar não valem absolutamente nada. Já aprendi em minha própria vida que quando deixo de orar e buscar a Deus regularmente o meu coração endurece, a incredulidade cresce, o velho homem parece ressuscitar dentro de mim, perco a visão, a sensibilidade, a percepção espiritual das coisas. Torno-me um mero pastor guiado pela sabedoria e energia humana. Por uns instantes fiquei com inveja de [Charles] Spurgeon, que costumava gloriar-se do fato que, quando pregava, havia um grupo de mais de cem pessoas da sua Igreja reunidas numa sala ao lado do templo, intercedendo por ele em oração fervorosa. Senti-me só”, lamentou, mencionando o pregador britânico batista reformado.
As tribulações cotidianas não foram ignoradas por Lopes, que disse compreender a rotina de compromissos diversos e dificuldades que limitam a presença dos membros nas reuniões de oração: “Não quis ser injusto com os membros da minha Igreja. Há muitos jovens que estudam à noite, há outros que trabalham à noite. Há os idosos que não têm mais como sair de casa à noite. Há os que moram longe e dependem de outros para transporte. Há os doentes. Mas, mesmo assim, numa comunidade de cerca de seiscentas pessoas, somente dez a doze delas estaria realmente disponível e com condição de vir à Igreja orar numa terça a noite?”, questionou.
O desabafo de Lopes revela que a frustração provocou uma reflexão que colocou em dúvida sua percepção a respeito da denominação que dirige: “Fiquei pensando nas causas do esvaziamento das reuniões de oração. Será que eu mesmo sou o culpado? Será que não tenho enfatizado a oração na Igreja? Ou será que é simplesmente a sina das igrejas presbiterianas sempre ter reuniões de oração esvaziadas? Será que os críticos das igrejas presbiterianas de grande porte tradicionais e antigas têm razão ao afirmar que são igrejas elitizadas, frias, descomprometidas, cuja maioria dos membros assume apenas o compromisso de vir aos domingos e contribuir financeiramente? Eles dizem que não há pastor que mude isto, nem os que colocam reuniões de oração diárias nem os que concentram a oração pública em apenas uma reunião semanal. Não adiante mudar o dia da semana, mudar o formato da reunião: sempre estará vazia. Dizem que é a predestinação da igreja presbiteriana ter pouca oração e muita doutrina”, escreveu o reverendo, reproduzindo com certa ironia as críticas feitas à denominação.
Por fim, Augustus Nicodemus Lopes disse que sua “única esperança e conforto é que os membros da Igreja estejam orando em suas casas, mesmo que não venham orar aqui nas terças”, e acrescentou: “Mas também esta esperança eu não tenho como comprovar”.