O tom de autocrítica marcou o discurso de dom Wilmar Santin no Sínodo da Amazônia. O bispo católico atua na região de Itaituba (PA), na fronteira com os estados de Mato Grosso e do Amazonas, e disse que o crescimento dos evangélicos no Brasil é consequência dos erros da própria Igreja Católica.
Dom Wilmar Santin afirmou que a ausência católica na região amazônica tornaram a região um campo fértil para missões evangélicas, e que a ação pastoral da Igreja Católica deve mudar numa tentativa de reverter a situação.
“Percebo duas falhas nossas: não estamos conseguindo chegar a tempo em todos os lugares onde o povo está, porque tudo está muito centralizado na figura do padre”, disse o bispo numa das entrevistas coletivas diárias que são realizadas no período do Sínodo.
De acordo com informações da agência Folhapress, os católicos precisam alterar a forma de organização da Igreja, para torná-la menos morosa: Precisamos mudar um pouco a estrutura para que a igreja seja mais ágil, que vá mais para frente, não seja tão lenta nas decisões e não dependa só dos padres. Temos que mudar não para competir com os outros, mas para que a nossa missão seja cumprida com maior eficiência”, argumentou Santin.
Na entrevista, ele relatou uma conversa que teve com um homem que havia sido católico e tinha padres e uma freira na família. Eles se encontraram próximo ao garimpo Água Branca, no Pará, onde ele se tornou evangélico.
“Eu perguntei para ele o motivo, ele me respondeu: Quando eu cheguei aqui, não tinha Igreja Católica. Eu queria escutar a palavra de Deus, fui na Assembleia de Deus e estou lá até hoje. (…) Não estamos pregando como deveríamos, em todos os lugares. Tanto é que um católico teve que matar a sua fome de escutar a palavra de Deus numa igreja vizinha”, disse o bispo, sem expressar nenhum tipo de desrespeito pela denominação pentecostal.
Ele tem atuado junto à tribo munduruku, que ocupa uma área de 175 mil quilômetros quadrados. Nos últimos anos, Santin revelou que passou a intensificar a ação pastoral católica entre os índios, formando ministros da palavra, responsáveis por fazer pregações nas próprias comunidades: “Iniciamos em 2017 e temos 48 ministros da palavra pregando na própria língua”, contou.
Uma jornalista italiana o questionou sobre a existência de infanticídio entre os indígenas, e o bispo afirmou que a prática de matar crianças que nasciam com alguma deficiência ou que tinham “mãe solteira” não existia mais entre os munduruku. Ato contínuo, questionou: “E os abortos que se fazem por aqui, na civilização?”. Silêncio.
O Sínodo da Amazônia foi convocado pelo papa Francisco há dois anos para debater a ação da Igreja Católica nos países que formam a floresta. Entre os temas há também uma discussão sobre a situação ambiental (que vem sendo enxergada pelo governo brasileiro como uma ação política) e dos moradores da região.
Ao todo, são 258 participantes, sendo 57 bispos brasileiros. O encontro ocorre até o dia 27 de outubro, com o propósito de produzir um relatório que ajude ao papa Francisco decidir de que forma a Igreja Católica deve agir na região.