Nos países ocidentais, a grande mídia tenta vender a ideia de que há, na sociedade, uma postura preconceituosa contra praticantes do islamismo, ideia essa que se convencionou chamar de “islamofobia”. No entanto, a perseguição religiosa real ocorre nos países de maioria muçulmana, e um jogador brasileiro que atuou na Albânia detalhou a situação recentemente.
O ocidente, baseado em leis de liberdade individual e religiosa, garante o direito à crença e manifestações de fé. Exemplo disso é que muçulmanos hoje formam comunidades numerosas na França, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. No Brasil, há também uma comunidade organizada e livre para se reunir e viver conforme seus preceitos.
Na mesma medida que a grande mídia, movida por antipatia ao cristianismo, vende a ideia de aversão aos praticantes do islamismo, omite a perseguição sofrida por cristãos onde a maioria religiosa é muçulmana, mas não apenas nesses lugares, como também na Índia, de predominância hindu; e nos países comunistas Coreia do Norte e China, onde a religião como um todo é perseguida.
Hostilidade
O jogador brasileiro Adalto Silva, católico, jogava na Albânia pelo Shkumbini Peqin, time da segunda divisão do país. Os seis meses em que esteve no clube são curtos nos parâmetros do futebol, mas foram longos para ele por conta da situação de intolerância religiosa, racismo e xenofobia que precisou enfrentar.
“Quando nosso jogo ia ser transmitido na televisão para o país todo, tinha um dirigente que vinha até mim e sempre falava que eu não deveria fazer o sinal da cruz em campo e nem comemorar gol apontando os dedos para cima. Ele falava que era melhor evitar esses gestos pelo meu próprio bem, para minha segurança”, disse o jogador em entrevista ao portal Uol.
Até episódios de racismo Adalto disse ter enfrentado: “O que eu mais ouvia, de torcedores adversários, pessoas na rua e até mesmo de companheiros de time era a expressão ‘brasileiro cristão’. De vez em quando, ela era acompanhada de um xingamento”, contou o jogador paraense, formado nas categorias de base de Remo e Paysandu, os dois maiores clubes do Estado.
Embora a Albânia seja um país europeu, continente com laços estreitos com o catolicismo, o mapa religioso do país é amplamente distinto, com 55% dos três milhões de habitantes sendo praticantes do islamismo.
Entre os colegas de elenco de Adalto no Shkumbini Peqin, a maioria era muçulmana e uma parte significativa do grupo não escondia a insatisfação de ter como companheiro um brasileiro que professa a fé cristã: “No vestiário, quando eu me ajoelhava para fazer minhas orações, meus companheiros ficavam me encarando fixamente, com aquele olhar de estranhamento. Eu conseguia notar que alguns riam e outros comentavam alguma coisa enquanto eu rezava”.
Racismo
Adalto Silva disse ter enfrentado uma situação de preconceito racial por conta de sua origem miscigenada: “Eu me considero branco, mas acho que lá na Albânia eles enxergam minha cor diferente. Uma vez, fui reclamar com o árbitro durante uma partida e ele me ofendeu. Falou ‘brasileiro cristão’ com um palavrão e apontou para o braço, naquele gesto de quem está mostrando que não respeita a minha cor”.
Após seis meses, o jogador decidiu que a situação era insustentável e decidiu deixar o país. Um fator que terminou por influenciar a decisão foram os terremotos: “Cheguei a pegar um tremor de 6,4 pontos na escala Richter, que matou mais de 20 pessoas”, relembrou.
Uma vez, durante uma partida, a terra tremeu. Todo mundo saiu correndo para se proteger. Mas, como era algo novo para mim, fiquei sem reação. Terminei parado e sozinho lá no banco de reservas. Meia hora depois, o juiz apitou a volta do jogo, como se nada tivesse acontecido”.
De volta ao Brasil, ele disputou a Série B do Campeonato Paraense pelo Tiradentes em 2020 e agora negocia com um clube de Rondônia para disputar o campeonato estadual. Adalto garante que gostaria de voltar a jogar no exterior, mas não na Albânia.