Víctor Manuel Fernández, um cardeal recém-nomeado, publicou um livro anos atrás em que Jesus era retratado como personagem de uma história erótica, com descrição de cenas de sexo violento e orgias entre o Filho de Deus e uma adolescente. Esse mesmo homem foi o responsável pela decisão do papa em permitir bênçãos a uniões LGBT+.
Aos 61 anos, o argentino Fernández é atualmente o prefeito do escritório doutrinário do Vaticano, um cargo de extrema relevância na estrutura teológica da Igreja Católica. Recentemente, o assunto sobre seu livro polêmico – publicado nos anos 1990 – veio à tona, e o agora cardeal católico fez declarações sugerindo que se arrepende.
O livro, com o pressuposto de apresentar reflexões a respeito de “espiritualidade e sensualidade”, narrava um encontro erótico místico entre Jesus Cristo e uma adolescente. Debaixo de questionamentos sobre o propósito de uma obra tão ofensiva à fé cristã, o clérigo católico – nomeado cardeal pelo papa Francisco – afirmou que hoje “certamente não escreveria” o livro Paixão Mística: Espiritualidade e Sensualidade (1998).
O livro está repleto de comentários explícitos que refletem sobre as diferenças entre a resposta sexual masculina e feminina, descreve o amor divino como “orgasmo místico” e sugere que alguém pode se envolver em comportamento homossexual “sem ser culpado”, de acordo com informações do portal The Christian Post.
Em um dos capítulos, Fernández diz que “a graça de Deus pode coexistir com as fraquezas e até com os pecados, quando há um condicionamento muito forte”, uma forma de incentivo a uma vida sem arrependimento: “Nesses casos, a pessoa pode fazer coisas objetivamente pecaminosas, sem ser culpada e sem perder a graça de Deus ou a experiência do seu amor”, acrescenta.
Com essa lógica de pensamento, que manipula a doutrina católica sobre a manifestação da graça de Deus para amoldá-la à vida de pecados conscientes, o cardeal e conselheiro teológico do papa trabalhou nos bastidores do Vaticano para aprovar a polêmica medida que autoriza padres a abençoarem uniões entre pessoas do mesmo sexo, algo que causou forte divisão de opinião entre os próprios católicos.
Orgia, Deus e virgem Maria
Em outro capítulo, o livro fala sobre “Deus no Orgasmo do Casal”, em que o autor diz que há “uma espécie de orgasmo gratificante na nossa relação com Deus, que não implica tantas alterações físicas, mas simplesmente que Deus consegue tocar o centro anímico-corpóreo de prazer”. Em outras palavras, Fernández cria uma “doutrina” que sugere uma espécie de orgia espiritual, em que Deus é um terceiro na relação sexual do casal.
Ao abordar pornografia, Fernández diferencia a sexualidade masculina e feminina teorizando que “uma mulher […] sente-se menos atraída do que um homem por ver fotos contendo cenas sexuais violentas, imagens de orgias, etc”, mas que isso “não significa que ela se sinta menos excitada com a pornografia pesada, mas sim que ela gosta e valoriza menos isso”.
No mesmo livro, ele diz que ouviu um relato de uma adolescente de 16 anos que diz ter assistido Jesus tomando banho no Mar da Galiléia antes de beijar todo o seu corpo sob o olhar atento da virgem Maria, que segundo ela, manifestava aprovação.
O livro foi publicado quando Fernández tinha 36 anos de idade, e agora, ele diz que se arrepende por que era “jovem” à época, e estava motivado a esclarecer dúvidas de casais jovens “que queriam compreender melhor o significado espiritual de seus relacionamentos”, e diz que “nunca permitiu que [o livro] fosse reimpresso” por saber que seria “mal interpretado”.
“É por isso que não acho que seja bom divulgá-lo agora. Na verdade, não autorizei e é contrário à minha vontade”, finalizou o cardeal Fernández.