O crescimento dos evangélicos na sociedade brasileira passou a ser notado também nos campos de futebol, com jogadores filiados a diferentes denominações expressando sua fé após gols e conquistas. Anos atrás, um culto com atletas a serviço da Seleção terminou em polêmica, e a CBF decidiu proibir as reuniões religiosas na concentração. Agora, a restrição vai além: se o Brasil vencer a Copa, os evangélicos do grupo não poderão expressar sua fé na comemoração.
A revista Christianity Today produziu uma matéria contando o aumento da influência dos evangélicos na Seleção, como reflexo do que acontece na sociedade. Ao menos seis atletas, do grupo de 23, falam publicamente sobre sua fé cristã evangélica: Fernandinho, Thiago Silva, Alisson, Douglas Costa, Willian e Neymar.
A proibição aos cultos e comemorações com expressão de fé, no entanto, vem sendo driblada pelos atletas com publicações nas redes sociais. Os jogadores, inclusive, têm variado no conteúdo: de orações a músicas, passando por versículos bíblicos. Ainda assim, o pastor Marco Feliciano afirmou que espera ver Neymar usando a faixa “100% Jesus” novamente, caso o Brasil vença a Copa da Rússia.
Histórico
Celebrações religiosas fazem parte do futebol brasileiro há muito tempo. Depois de conquistar a Copa do Mundo de 1994, o goleiro Taffarel e o lateral Jorginho atribuíram parte de sua vitória à ação divina. Uma imagem de Taffarel em êxtase, ajoelhado no campo em frente a Roberto Baggio, o atacante italiano que perdeu a penalidade final que deu a vitória ao Brasil, se tornou icônica.
Na ocasião, a repercussão das alegações virou livro (Quem Venceu o Tetra?), o que desagradou o então auxiliar de Carlos Alberto Parreira, se mostrou descontente com a sugestão de que o sucesso esportivo era resultado da fé, pois pensar dessa forma reduzia o valor da dedicação e esforço dos atletas.
Como o protestantismo cresceu no Brasil, também há um certo relaxamento cultural dos valores tradicionais do cristianismo. Em nenhum lugar isso é mais claro do que com Neymar, que se tornou centro de uma polêmica após receber a medalha de ouro nas Olimpíadas de 2016 com a faixa “100% Jesus”, repetindo o gesto feito em conquistas anteriores com o Barcelona e o Santos Futebol Clube.
Para o pastor Luís Paulo Rocha de Mattos, é importante que os jogadores evangélicos tenham cuidado com seu testemunho: “Comportamento imoral ou antiético fora das quatro linhas traz grandes prejuízos, na medida em que as pessoas condenam essas atitudes por parte de quem diz ser temente a Deus”, avaliou.
“Fama e fortuna são sempre perigosas para o cristão. Eu preferiria ver menos jogadores apresentando-se como evangélicos e mais pessoas realmente comprometidas com os padrões bíblicos”, opinou Mattos.
Kaká, hoje aposentado, é um dos evangélicos que se tornou conhecido também por sua fé, e afirmou que “o atleta cristão tem a grande responsabilidade de sempre dar um bom testemunho”.
Vencedor da Copa do Mundode 2002, Kaká enfatizou que ser evangélico cobra uma conduta exemplar: “Sempre que posso, tento demonstrar o que Deus fez na minha vida. e agir de acordo com os valores bíblicos”.