Séculos atrás, a Europa enviou missionários cristãos a continentes como África e América do Sul, e agora, com a secularização do Velho Continente, o movimento inverso vem sendo registrado, com pregadores africanos sendo enviados para pregar o Evangelho.
Em 1989, o pastor Harold Warner enviou o missionário Alvin Smith a Serra Leoa, e três décadas depois, a igreja fundada inicialmente se multiplicou em outras 80, alcançando os vizinhos Libéria, Guiné, Gâmbia, Senegal, Togo, Benin, Congo, Burkina Faso e Costa do Marfim, além de sustentarem três missionários na Europa.
“Levar as pessoas, levar jovens, homens e mulheres de um dos países mais pobres do mundo e ver Deus dizer: ‘Eu vou moldar esses missionários porque eles vão realizar o meu propósito não apenas em sua própria nação, mas também além das fronteiras’ é um dos maiores privilégios da vida. Eu apenas sento e sorrio, porque isso tem que ser Deus”, comentou o pastor Warner, de acordo com informações do God Reports.
Um dos pastores africanos que são frutos do trabalho iniciado por Warner e Smith afimrou que eles jamais imaginaram que seriam usados por Deus dessa forma: “O pastor Smith estava incutindo em nosso espírito que íamos a todo o mundo para pregar o Evangelho. Na mente de muitos de nós, pensávamos: ‘Este é um sonho impossível’, contou Edward Saffa, que assumiu a sede da igreja em Freetown. “Todos nós éramos nada do nada”, acrescentou.
Serra Leoa, uma nação rica em diamantes, sofreu com os efeitos da corrupção e guerras civis, o que fazia a expectativa média de vida ser de apenas 30 anos. Muitas pessoas faziam apenas uma refeição por dia, e uma epidemia do tipo mais agressivo de malária dizimou a população. Tal cenário era propício para o surgimento de guerrilheiros, que decepavam pernas e braços de civis como forma de se impor através do terror.
Alvin Smith, um piloto de helicóptero aposentado da Força Aérea dos Estados Unidos, e sua esposa, Renée, desembarcaram no país em meio a essa situação. “Devemos algo ao pastor Smith, que deixou a América. Ele veio no tempo da guerra. Isso foi muito sacrifício”, disse Aruna Bangura, um dos missionários enviados à França, que pastoreia uma igreja em Marselha.
“Quando as pessoas são muito educadas, elas se tornam lógicas quando se trata de servir a Deus. Mas nós éramos simplesmente explosivos. Nós queremos ir à igreja todos os dias. Sempre que é hora de ir à igreja, estamos correndo para ir à igreja. Nós viemos de longe”, acrescentou Bangura.
“Ainda me lembro daquele velho edifício acidentado e sujo. Todas as janelas estavam danificadas. Nós estávamos usando velas. Mas havia vida saindo daquele prédio. É assim que Deus trabalha. Deus gosta de fazer as coisas da maneira que o homem não pode fazer”, disse, relembrando o começo da igreja plantada em Serra Leoa.
A miséria poderia ser traduzida na imagem dos jovens que assistiam aos sermões do pastor Smith, sem roupas adequadas, mas com reverência e respeito. Conforme a igreja crescia, os jovens eram incentivados a se casarem, independentemente de sua situação financeira, como forma de criar um compromisso e uma nova cultura, que os protegessem das influências externas.
“Nos primeiros dias do Pastor Smith, estávamos em algum tipo de acampamento militar. Pastor Smith foi simplesmente fenomenal. Nós apenas nos apaixonamos por Jesus ao ouvi-lo falar. Ele nos fez sentir valiosos”, diz Desmond Bell, que hoje também pastoreia em Marselha. “Ele deu sua vida. Ele derramou tudo em nós para perceber o quão importantes, quão valiosos nós somos para Deus nos usar. Nós sentimos o paraíso. Ele era como um pai. Ele era como um irmão mais velho”, enfatizou.
O Ministério Christian Fellowship (CFM), baseado em Prescott, Arizona (EUA), faz do plantio de igrejas seu principal foco, aplicando altos volumes de recursos no evangelismo mundial. Dessa forma, chegaram a 2.500 igrejas em 114 nações, como México (um dos países mais católicos do planeta e altamente arredio à tradição evangélica) e as Filipinas, por exemplo.
Os plantadores de igrejas mais experientes esperavam resultados ótimos em nações onde os indicadores eram positivos, mas o reavivamento visto na África a partir da igreja em Serra Leoa desafiou a lógica. “Quando vi o zelo do Pastor Smith, o fogo em seu espírito, fui cativado. Eu fiquei realmente comovido. Havia algo em mim que estava indo naquela direção. Eu dei tudo de mim”, comentou Edward Saffa.
A ousadia de enviar missionários africanos à Europa, no entanto, foi o que realmente causou espanto, e trouxe motivação ao trabalho, e até Desmond Bell custou a acreditar no que estava acontecendo, pois, “foi a Europa que enviou missionários para a África” em outro período da história.
“É a Europa que tem recursos. Como ocorrria a alguém reverter o fluxo missionário e virar a cabeça toda lógica? Eu estava relutante. Essa era a vontade de Deus? Um africano vindo da Europa como missionário. Na verdade, isso era no mínimo, ‘excêntrico’. Parecia anormal”, contou Bell.
“Hoje acredito que há esperança para esta nação”, diz o pastor Bell sobre a França, onde ele e a esposa lideram uma próspera igreja em uma das nações que se tornaram mais resistentes ao Evangelho e teve sua cultura altamente influenciada pelo islamismo nos últimos anos.
“O perigo de não perseguir o propósito de Deus é se arrepender. Você vai viver com arrependimento. Você vai sentir falta de alguma coisa. Até que você responda ao propósito de Deus, você não saberá como isso é importante”, concluiu Bell, que tem cumprido o Ide e desafiado a lógica.