Declarações de amigos próximos, letras de músicas e opiniões de articulistas tem prolongado as discussões a respeito da fé e das circunstâncias da morte de Alexandre Magno Abrão, o Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr.
Um episódio específico na vida do artista, em 2005, tem sido um ponto em comum que vem sendo relatado por quem viveu próximo a Chorão. Neste texto, mencionamos trechos de músicas em que Deus é mencionado de forma direta ou indireta, intercalando declarações dos amigos do cantor a respeito de sua espiritualidade.
“O melhor presente Deus me deu, a vida me ensinou a lutar pelo que é meu” – Chorão, “Lutar pelo que é meu”
Numa visita à igreja Bola de Neve em Boiçucanga, litoral paulista, a convite de um amigo, Chorão ouviu uma pregação baseada na passagem bíblica que fala da restauração de fé de Tomé em seu encontro pessoal com Jesus.
No Facebook, o produtor Duda Hawaii publicou um relato falando sobre a perda do amigo, e contou o impacto que essa mensagem teve em sua vida: “Em 2005, ele assistiu uma pregação na Igreja Bola de Neve em Boiçucanga. Essa pregação falava a respeito de fé e caminhada com Deus. E foi desta experiência que ele tirou inspiração para escrever a letra da música ‘Só os loucos sabem’”, afirmou.
A mesma situação foi descrita pelo apóstolo Rina, que descreveu as experiências espirituais de Chorão que ele presenciou num depoimento espontâneo publicado também no Facebook.
– Dois anos depois, citibankhall lotado, era a gravação do primeiro DVD da Igreja, e na mesma noite um CD ao vivo do Rodolfo. Glauco e Tarobinha, amigos do Alexandre, o conduziram a mais uma reunião em que o nome de Jesus estaria envolvido. Entre uma banda e outra, agradeci a presença dele, foi quando ele percebeu que era amado ali também, entre pessoas que priorizavam sua espiritualidade. Falei um pouco sobre a importância da adoração e de usarmos nossos dons e talentos para glória dele. Ao orarmos, me lembro dele de pé, com a mão direita levantada, entre muitas pessoas, convidando Jesus para habitar em seu coração. Quando voltei à galeria, o encontrei quebrantado e o escutei dizer: ‘pastor, da primeira vez, no litoral, estava com os dois pés atrás, hoje com os dois na frente… Estava me sentindo uma formiga, depois de receber o carinho do povo, estou me sentindo um elefante’. Me lembro de ter dito: ‘você é amado’, ele continuou: ‘dá parabéns para sua esposa, lembro dela de Santos, as músicas dela me tocaram’… E ainda: ‘tô chegando pastor, minha fé hoje é viva…’ Depois de um tempo, ele nos avisou que havia feito uma música com base no que viveu naquela noite, era o lançamento de ‘Só os loucos sabem’ – escreveu Rina.
A música em questão tem uma letra que fala indiretamente sobre a mensagem ouvida pelo vocalista e compositor na pregação ouvida por ele em 2005, e o clipe da música mostra, em uma das cenas, a fachada de uma igreja evangélica pentecostal localizada no centro de São Paulo.
“Agora eu sei exatamente o que fazer, bom recomeçar, poder contar com você, pois eu me lembro de tudo irmão, eu estava lá também. Um homem quando está em paz, não quer guerra com ninguém. Eu segurei minhas lágrimas pois não queria demonstrar a emoção” –Chorão, “Só os loucos sabem”
Rodolfo Abrantes, amigo de Chorão de longa data, relatou suas conversas com o vocalista a respeito de sua fé: “Quando comecei a ter minhas experiências com Deus, saí do Raimundos e minha vida mudou. Reencontrei o Chorão em show em Belo Horizonte, com Charlie Brown e Rodox, em 2003. No camarim ele chegou para mim, puxou numa cadeira, distante de outras pessoas, e falou: ‘Conta como foi a parada’. É interessante, porque ontem mesmo eu recebi uma foto dessa conversa. Eu contei como foi a minha experiência com Deus. Achava fantástico isso no Chorão: ele estava ouvindo, absorvendo, não me julgou. Dava pra ver que percebeu a diferença na minha vida e queria saber o que estava acontecendo”
“Irmãos do mesmo Cristo, eu quero e não desisto. Caro pai, como é bom ter por que se orgulhar, a vida pode passar, não estou sozinho, eu sei se eu tiver fé eu volto até a sonhar. Livre pra poder sorrir, sim, livre pra poder buscar o meu lugar ao sol. O amor é assim, é a paz de Deus que nunca acaba. Eu vou com você pra onde você for. Eu descobri que é azul a cor da parede da casa de Deus” – Chorão, “Lugar ao Sol”
– O Chorão não tinha nenhuma rejeição à coisa de Deus. Só não se sentia confortável com religião. Eu lembro nessa conversa, em Belo Horizonte, que ele me mostrou a música em que canta ‘azul é a cor da parede da casa de Deus’ [do álbum ‘Lugar ao sol’, de 2001]. E cantou inteira. É uma musica muito bonita. Não bíblica, mas sobre a impressão dele de Deus. Existia uma sede dele de algo mais, existia uma consciência de que o que ele precisava era Deus, e do jeito dele, fez muito bem – relatou Rodolfo na sua entrevista ao G1.
“Tenho fé em Deus pra resolver qualquer parada” – Chorão, “Tamo aí na atividade”
O apóstolo Rina afirmou em seu relato que, “o que nos afasta de Deus é nossa natureza, a fé nos aproxima”, e finalizou dizendo: “Por mais justos que sejamos, Deus só nos recebe por aquilo que Jesus fez, isso é graça… Me lembrei de uma história bonita, de um ladrão, condenado a morte de cruz, que na última hora clamou por Jesus e ouviu: ‘ainda hoje estarás comigo no paraíso’”.
“Força pra lutar, fé para vencer, na mão de Deus tudo pode acontecer” –Chorão, “Gueto do Universo”
Na mesma linha de pensamento, a blogueira e conselheira de casais Dani Marques afirma que somente Deus sabe o que se passou nos últimos instantes de vida do artista: “O cara se drogou pra caramba, viveu uma vida louca, estava depressivo, mas… Se algum de vocês estiver sem pecado, que seja o primeiro a atirar pedra! Foi exatamente isso que Jesus disse aos falsos religiosos que estavam prestes a apedrejar uma mulher adúltera. Fico imaginando quantos ‘santarrões’ já não atiraram pedras verbais ao se referirem ao Chorão? Ele não viveu uma vida exemplar, eu sei, mas quem disse que essa é a condição para se herdar a vida eterna? Não é difícil entender isso, é só ler os Evangelhos. O único que conheceu o coração do Chorão foi Deus, e só Ele pode dizer se este coração estava rendido aos pés de Cristo nos seus últimos segundos de vida”, escreveu, num artigo publicado pelo Genizah.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+