A maioria das informações divulgadas na grande mídia sobre casos de pessoas transgêneros, parece não abordar de forma transparente e honesta a complexidade da questão. Após a veiculação de uma reportagem do Fantástico promovendo a ideologia de gênero através do assunto, a opinião de uma famosa intelectual, considerada atéia, homossexual e feminista, tem repercutido nas redes sociais, ao dizer que o surgimento de “transgêneros” é o “sintoma do colapso de uma cultura”.
A afirmação é da escritora e professora universitária Camille Paglia, considerada a primeira mulher a se declarar lésbica na Universidade de Yale. Atualmente, Paglia também é considerada uma das 20 intelectuais mais influentes do mundo. Todavia, ao que parece, quando a opinião dela diz respeito à ideologia de gênero, transgêneros e feminismo, a grande mídia não repercute tanto quanto outras vozes menos gabaritadas.
“Em qualquer lugar do mundo você encontra um padrão [cultural] em períodos antigos, que, quando uma cultura começa o seu declínio, você tem um surgimento de fenômenos transgêneros”, disse Paglia, por exemplo, durante uma entrevista concedida em 2015 ao programa Roda Viva.
Camille Paglia é uma voz politicamente incorreta para o feminismo e para o movimento homossexual, pois ela considera ambos radicais e desprovidos de crítica filosófica. Paglia se diz “preocupada com a mistura perniciosa do ativismo gay com a ciência, que produz mais propaganda do que a verdade”, disse ela em uma publicação do arqueólogo italiano Giampaolo Rossi, na página “il Giornale it”, acrescentando que tais movimentos são “barulhentos, egoístas e doutrinários”.
Para Paglia, a natureza biológica é implacável e a cultura possui um código moral que mantém a ordem na civilização, em acordo com a concepção funcionalista, por exemplo, citada pelo renomado sociólogo Anthony Giddens na obra “Sociologia”, quando diz que tal abordagem “vê a sociedade como um sistema de partes interligadas que, quando em equilíbrio, funcionam de modo harmonioso para gerar solidariedade social”.
Com base nisso, Paglia questiona o que pode ser considerado uma promoção indiscriminada da ideologia de gênero, porque segundo na entrevista “isso é um sintoma do colapso de uma cultura”, , acrescentando que está “preocupada com essa tendência cirúrgica para mudança do corpo. Isso está por toda parte nos EUA. Dizem que a criança nasceu no corpo errado e já começam com hormônios até chegar à intervenção cirúrgica. Se essa ideia estivesse no ar quando eu era jovem, eu teria cometido um engano terrível”.
A radicalização do feminismo e a valorização da religião, segundo Camille Paglia
Camille Paglia também vai na contramão do movimento feminista, que apesar de muitos considerarem haver diferenças, tem se radicalizado como um todo gradualmente. Para a intelectual, o feminismo atual é “doente, indiscriminado e neurótico”, por querer colocar a culpa de tudo nos homens. Para ela, “deixar o sexo para as feministas é como sair de férias e deixar o cachorro com um taxidermista”, informa Rossi.
Outro aspecto abordado por Camille Paglia diz respeito a valorização da religião e seu reconhecimento enquanto instituição. Perceba que ela é considerada “atéia”, ou seja; não acredita em Deus, mas reconhece que a fé possui fundamento filosófico e moral importantes para a sociedade:
“Tenho um grande respeito pela religião, que considero uma fonte de valor psicológico infinitamente mais rica do que o estruturalismo eticamente insensato, que se tornou uma religião secular”, disse ela.
Paglia, portanto, deixando implícito o que na filosofia e teologia é chamado de “sentimento religioso”; algo que mesmo o ateu é capaz de sentir com base em sua necessidade de acreditar em um “código moral”, como ela menciona, que para os cristãos é uma das provas intelectuais mais contundentes acerca de Deus, como argumenta o ex-ateu Clive Staples Lewis em seu livro “Cristianismo Puro e Simples”.
Só há dois sexos e “o resto é resultado de propaganda”
Camille Paglia reconhece a natureza biológica da sexualidade humana, assim como o pesquisador e evolucionista Timothy Taylor, autor da obra “A Pré-História do Sexo”, que investigou o que considera quatro milhões de anos em cultura sexual. O autor revela que a diversidade sexual é uma realidade nas culturas, porém, como expressão social e, principalmente, religiosa, mas não como uma tentativa de confrontação à natureza biológica.
Enfatizando a necessidade de haver equilíbrio e harmonia entre cultura e biologia, Taylor diz:
“Comecei este livro indo ‘além da natureza’ porque queria desafiar os sociobiólogos. A variedade de cultura sexual humana que descrevi não pode ser explicada com referência a um imperativo genético simples [ou seja; ele reconhece que a sociedade – também – influencia no desenvolvimento da identidade sexual] mas concluo agora, indo ‘além da cultura’, para enfatizar o retrocesso biológico mais a longo prazo”, disse ele, explicando:
“…nossas soluções culturais à doença e à saúde devem levar em consideração o legado de longo prazo da evolução biológica”, com base na concepção de que “nossa cultura evoluiu a um ponto que corremos o risco de perder contato com nossa biologia”.
Em outras palavras, Taylor alerta para o exagero pregado, por exemplo, pela ideologia de gênero e o feminismo radical, que despreza a função do sexo biológico no desenvolvimento da sexualidade e da própria civilização, o que levou Camille Paglia a dizer que “o aumento da homossexualidade e da transexualidade são um sinal de decadência de uma civilização”, criticando, precisamente, o ativismo ideológico que visa desconstruir as diferenças sexuais do homem e da mulher.
Desse modo, a intelectual afirma de forma taxativa que “há apenas dois sexos biologicamente determinados. O resto é o resultado de propaganda”.