Uma das características fundamentais da democracia é a liberdade de comunicação, expressão e confissão de fé. Todavia, algumas pessoas acreditam que o avanço da mídia cristã no Brasil, apesar de ser fruto da iniciativa privada e refletir o perfil da população, é uma “preocupação” e algo capaz de “prejudicar a democracia”.
Esse é o discurso implícito divulgado na pesquisa intitulada “Media Ownership Monitor Brasil”, desenvolvida em parceria entre as ONGs Repórteres sem Fronteiras e Intervozes. O resultado da pesquisa foi publicado em uma matéria publicada no site Congresso em Foco, onde os dados foram descritos como “o pior cenário constatado”.
O estudo identificou que das 50 maiores mídias no Brasil, 9 são religiosas. No total, foram avaliadas 11 redes de TV aberta e por assinatura, 17 jornais diários e revistas semanais, 10 portais e 12 redes de rádio. O Grupo Record é o mais influente, somando os veículos de rádio, TV, jornais e sites como o portal R7.
A Igreja Católica também aparece na pesquisa, somando a Rede Católica de Rádio (RCR) e a Rede Vida de TV. Além do segmento católico, aparece também a Igreja Adventista, com a rede de TV e rádio Novo Tempo e a Igreja Renascer em Cristo, com a Rede Gospel de Televisão. Não entrou na pesquisa a Rede Super, da Igreja Batista da Lagoinha, de rádio e TV, fundada desde o ano 2000.
O crescimento da mídia cristã no Brasil incomoda ativistas
O que chamou atenção na pesquisa é o fato de o crescimento da mídia cristã no país ser retratado como algo “preocupante” e capaz de prejudicar a “democracia”, como ressaltou André Pasti, um dos coordenadores da pesquisa e membro do coletivo “Intervozes”:
“Seja no impresso, seja no online, a gente começa a identificar um problema no cenário da concentração da mídia brasileira, que é a propriedade cruzada de meios de comunicação. Os mesmos grupos estão atuando em diversos tipos de mídia e controlando de diversas formas a informação que chega pra gente”, disse ele na matéria.
A verdade, porém, é que o crescimento dessas mídias reflete nitidamente a escolha do telespectador, ouvinte ou leitor desse conteúdo. Por se tratar de investimentos privados, não haveria tal crescimento caso o consumidor rejeitasse tais conteúdos, o que significa o pleno exercício democrático, e não o contrário.
Estranhamente, no entanto, a sub-Procuradora Geral da República, Deborah Duprat, uma das responsáveis pela apresentação da pesquisa no Conselho Nacional do Ministério Público, disse que “…temos um sistema de concessão que permite que tenhamos uma grande mídia dominada por emissoras de caráter religioso”, comentando sobre a legalidade da comercialização das mídias no país para instituições religiosas.
Deborah Duprat é a mesma sub-Procuradora que durante um debate na TV Câmara para discutir o projeto Escola Sem Partido, afirmou que é um equívoco pensar que a criança pertence a família: “Um outro aspecto, para eu não me alongar demais, é essa percepção equivocada de que a criança pertence a família. Que a família tem o poder absoluto sobre a criança (…) Não é verdade!”, disse ela na época.