A atual crise econômica na Europa, iniciada em 2008 e agravada com a condição de alguns países da União Europeia, como a Grécia e Espanha, por exemplo, tem gerado debates entre líderes religiosos e estudiosos a respeito de uma reaproximação das pessoas com a fé.
Em Portugal, a crise econômica também tem sido severa, e embora sem afirmar taxativamente que mais pessoas se aproximaram de Deus devido às circunstâncias, pastores, teólogos e sociólogos concordam que dificuldades podem levar pessoas a darem atenção ao espiritual.
-Em situações de crise, em todas as áreas da vida, é normal as pessoas buscarem mais a Deus, é um fato. Há uma tendência para, quando as pessoas têm tudo garantido, esquecerem-se do religioso, como se tudo dependesse de nós e fôssemos auto suficientes. Mas não é um fenômeno em larga escala. A secularização das sociedades continua a ser muito importante em toda a Europa”, afirma o pastor Vieito Antunes, da Assembleia de Deus de Lisboa.
Segundo o site Publico, o antropólogo Alfredo Teixeira, do Centro de Estudos de Religiões e Culturas (CERC), diz que é necessária uma observação mais longa para afirmar que a religião estaria atraindo pessoas devido à crise.
Segundo ele, o crescimento das igrejas evangélicas em Portugal pode estar associado à teologia da prosperidade, praticada por denominações como Igreja Universal do Reino de Deus e Igreja Maná. Teixeira afirma que nessas igrejas, “ser salvo e ser próspero equivalem-se”.
-A salvação [nessas igrejas] é “já” e não algo que se espera para além de uma existência terrena. Neste contexto, as propostas de cristianização dirigem-se, de forma muito direta, aos riscos do cotidiano, e à possibilidade de os ultrapassar. Essa orientação pode, entre outras razões, ajudar a perceber esta última vaga de crescimento dessas igrejas – aponta o antropólogo.
O pastor assembleiano rejeita a teologia da prosperidade e afirma que o aumento do interesse das pessoas pela fé pode estar associada a outros motivos: “A nossa mensagem é voltada para o povo e dirigida a todo o tipo de pessoas e camadas sociais: temos analfabetos, médicos e engenheiros nos nossos cultos. Porque a Bíblia também está escrita numa linguagem simples e do povo. No entanto, não somos da teologia da prosperidade que é adotada por outras igrejas evangélicas: a Bíblia não tem em lado nenhum a promessa de enriquecer pessoas. O que o Senhor promete é suprir as necessidades do seu povo”.
O casal de evangélicos Mircea e Susana Strango destaca a flexibilidade litúrgica das igrejas evangélicas como motivo para participarem dos cultos: “Não há nenhuma regra que diga que o culto tem que ser desta ou daquela maneira. É tudo mais flexível e livre. Se alguém quiser cantar e dizer alguma coisa, está à vontade. É como se fossemos uma família. Não é o pastor que conduz tudo, que manda ou faz as regras. O pastor lidera, mas nada é rígido como noutros sítios”, revela Mircea, de 34 anos.
Assembleiano, ele admite ter passado dificuldades, porém, com esforço nunca precisou de apoio da assistência social da igreja: “Já passamos por fases difíceis, mas sempre nos safamos e não precisamos de recorrer à ajuda material da nossa igreja. Mas a religião foi muito importante para mim nos momentos mais difíceis da minha vida, sobretudo do ponto de vista espiritual, na força que me deu para continuar a lutar, para procurar trabalho e ter dinheiro para alimentar os meus filhos. A igreja será sempre importante para quem precise de um ponto de apoio, quando tudo o resto falha”, diz Mircea, que é empresário no ramo da construção civil.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+