A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, está costurando uma aliança em nome do governo Bolsonaro com países que defendem o conservadorismo. A ideia é formar um grupo de influência na Organização Mundial da Saúde e na ONU.
Na Hungria, Damares Alves deixou claro que o Brasil quer “resgatar valores” e fazer um contraponto na forma como assuntos ligados à educação sexual e a ideologia de gênero têm sido tratados nos organismos internacionais, principalmente a OMS e a ONU.
De acordo com o jornalista de política Jamil Chade, do portal Uol, essa costura de aliança capitaneada pelo Brasil está sendo bem vista nos bastidores por alguns, enquanto outros expressam preocupação, já que até recentemente, não havia oposição significativa à agenda progressista no mundo.
Damares fez um apelo a nações que têm visão semelhante ao do governo brasileiro, durante evento organizado por Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro de conceito conservador. A ministra convocou esses países a formarem um grupo de “amigos da família” para “defender e resgatar os valores que alguns setores tendem muitas vezes a ignorar”, e foi aplaudida.
No discurso, Damares Alves disse que compareceu ao evento para representar “um homem incrível que quer trazer o Brasil ao mundo como um país pró-família e pró-vida”, em referência ao presidente Jair Bolsonaro (PSL).
“Agora o Brasil é uma nação pró-família”, reiterou, acrescentando que o governo tem feito o possível nesse sentido, além de pretender dizer “um sonoro não contra a ideologia de gênero”.
O jornalista também informou que diplomatas brasileiros já receberam telegramas com a informação sobre a intervenção da ministra, e enxergam que a guinada conservadora em diferentes países faz com que propostas para “defender a família” se tornem atraentes. Só na Europa, por exemplo, países como Hungria, República Tcheca e Polônia poderiam seguir esse caminho.
Outro apoiador do projeto é o governo de Donald Trump. Ao redor do mundo, especialistas apostam que, nos próximos anos, as eleições serão marcadas pelo avanço de uma ala conservadora em diversas regiões do globo. A eleição norte-americana, por sinal, acontece em 2020.
“Nos últimos três meses, a diplomacia modificou de forma profunda a posição do país no que se refere a temas de direitos humanos. Na ONU, passou a vetar termos como ‘gênero’ nas resoluções e se aliou a governos ultraconservadores do Oriente Médio para tentar barrar documentos que tratem de ‘educação sexual’”, comentou Jamil Chade.
“Em todos os fóruns que participa, o governo tenta trocar dos textos frases como ‘igualdade de gênero’. Em seu lugar, existiria apenas a ‘igualdade entre homens e mulheres’. Na origem da mudança está a percepção de que apenas existe o sexo biológico. A posição deixou muitos governos ocidentais consternados, principalmente vindo do Brasil, um país que por anos militou por uma transformação dos textos internacionais para garantir a proteção aos grupos LGBT”, concluiu o jornalista do Uol.