A perseverança atua como um mix de fé e esperança, e a família de um médico se dedicou, durante todo o período em que ele esteve internado em estado gravíssimo, a orar e interceder por sua recuperação da covid-19. De alta hospitalar, ele não titubeia: “Deus me deu essa segunda oportunidade”.
Por longos 108 dias o médico cardiologista Luiz Antônio Gubolino ficou internado entre os hospitais Austa, em Ribeirão Preto (SP), onde também trabalha, e Albert Einstein, em São Paulo, onde ficou até o último dia 22 de abril, quinta-feira passada.
Ele concedeu uma entrevista e afirmou que tem a sensação de ter nascido de novo, pois muitas vezes os médicos e familiares tiveram a sensação de que ele não sairia com vida. Entubado no dia 12 de janeiro, precisou de transfusões que consumiram 33 bolsas de sangue, devido a uma hemorragia.
“Os pacientes com Covid-19, em sua grande maioria, têm boa evolução e não necessitam internação. Cerca de 10% dos casos são sintomáticos e necessitam ser monitorados e 5% desenvolvem quadros mais graves, com necessidade de internação. Infelizmente, o doutor Gubolino foi um dos pacientes que evoluiu com quadro grave, ou melhor, gravíssimo”, diz Paulo Nogueira, colega do médico e cardiologista intensivista que ajudou a cuidar dele.
“A sensação de vê-lo recebendo alta hospitalar é a de ver um irmão se recuperar de uma doença muito grave. Trata-se de um período de muita angústia e dor, associado a muitas incertezas sobre a evolução, além da impossibilidade de contato com o paciente que vive a sua doença isolado dos amigos e familiares. É um período muito triste e muito dolorido”, resumiu Nogueira.
De acordo com informações do Diário da Região, no período mais grave, o médico precisou usar o “pulmão artificial”, equipamento que faz a circulação extracorpórea do sangue para oxigená-lo, permitindo aos pulmões se recuperarem do vírus que causa a covid-19. Tecnologia semelhante está sendo usada com o ator Paulo Gustavo.
Ao todo, foram 24 dias de uso do “pulmão artificial”, contou a esposa do médico, Sandra Isabel Franzotti Gubolino, 56 anos: “Foi importantíssimo ter esse equipamento que o manteve vivo, respirando por 24 dias enquanto o pulmão descansava”.
Distância
“A Covid te separa das pessoas. É a primeira coisa que acontece, você só recebe ligações. Isso no início foi muito difícil, enquanto ele estava no momento mais grave a gente não conseguia vê-lo, só uma vez por semana, por meia horinha”, disse Sandra, explicando o desespero que tentou dominar a família.
Ela só pode visitar o marido com mais frequência depois que ele superou o período de infecção da covid e foi mandado para uma UTI regular. No dia 14 de março os médicos decidiram extubá-lo, dois meses depois da adoção da medida extrema.
Gubolino afirmou que entrou uma pessoa no hospital e saiu outra: “Nesse período (de intubação) eu fiquei fora da tomada e me religaram. Perdi mais de 20 quilos de massa magra. Eu tinha 78 quilos, fazia atividade física bem intensa, agora peso 61 quilos e meio e estou entrando em um processo de reabilitação”, contou.
“Deus me deu essa segunda oportunidade. Segundo minha família, as orações fizeram a diferença e eu passei a intensificar minha fé, acho que tinha me distanciado um pouco de Deus. Daqui para frente passa todo um filme de reflexão, o que aconteceu”, comentou.
Seu propósito é se dedicar a áreas da vida que antes eram deixadas de lado: “Eu trabalhava com intensidade, sou muito voltado para o trabalho, por ser médico. Não vou deixar de ter dedicação, mas preciso voltar um pouco para minha relação com amigos, amor pela família. Quero estar mais próximo das pessoas que precisam de mim. Em termos de amizade, de ajuda ao próximo, de compaixão”, ponderou Gubolino.
“Nunca vi uma pessoa ser tão querida e estar em tantos grupos de orações. É uma coisa inexplicável, e graças a Deus ontem [dia 22/04] ele teve a bênção de ter saído”, ilustrou o cunhado do médico, José Luiz Franzotti.
Agora, fora do hospital, Gubolino vai precisar iniciar um novo tratamento, fisioterápico, para se recuperar. Um dos braços, por exemplo, está sem força motora. Mas seu maior desafio, até esse momento, foi superado.