A leitura do Evangelho a partir de uma ótica politizada tem tornado comum afirmações como a da cantora Elza Soares, 87 anos: “Deus é mulher”. A declaração da veterana artista virou título de seu novo álbum de músicas inédtas.
Viúva do jogador Mané Garrincha, Elza Soares é exaltada pela grande mídia como uma reserva de qualidade artística e uma versão politicamente correta da falecida comediante Dercy Gonçalves, já que fala o que pensa, mesmo que suas opiniões expressem um sentimento muito particular.
“Não me calo nunca e me arrependerei jamais. Me calar como? Sou a cara dessa nação, sou a cara desse país, por que vou me calar? Não tenho culpa de ter nascido aqui”, afirmou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, comentando o lançamento de seu novo álbum.
Segundo o jornal, o calvário e a força das mulheres fazem parte dos temas abordados no novo disco, mas já haviam sido base do álbum anterior, “A Mulher do Fim do Mundo”, de 2015.
Em “Deus é Mulher”, que Elza lança nesta sexta-feira, 18 de maio, a música Deus Há de Ser, composta por Pedro Luís, resume um pensamento que a cantora carrega consigo desde criança, e tenta explicar porque ela acredita que “Deus tem de ser mulher e mãe”.
“Me assustava muito a vida de Cristo, aquele homem coitado, carregando aquela imensidão de gente, pedindo misericórdia, se arrastando. Me via quase como isso, me arrastando, carregando água, parindo filho quando menina, naquela pobreza, vendo minha mãe sofrendo com as trouxas de roupa na cabeça, negra, subindo ladeiras com latas”, comentou.
“[O disco] ‘A Mulher do Fim do Mundo’ é muito forte, bonito, mas muito fechado, pesado, uma coisa dark. ‘Deus é Mulher’ vem mais aberto, mais solar, a gente precisa disso”, acrescentou, diferenciando os dois trabalhos.
Além da afirmação de que “Deus é mulher”, o novo disco de Elza Soares flerta com temas muito caros à grande mídia, como a consolidação da ideia de que os praticantes de religiões afro-brasileiras são perseguidos no país. A música Exu nas Escolas, composta por Kiko Dinucci e Edgar, é uma defesa do ensino da cultura afrobrasileira nas salas de aula.
Elza Soares justifica seu ativismo lembrando do passado: “Tive minha casa metralhada, fui expulsa, não quero mais sair daqui. Tenho receio, temos que ter cuidado para que não aconteça outra vez. É se libertando, gritando, falando. Você está no seu país, na sua terra, no seu chão”, afirmou, fazendo alusão ao período de exílio com o marido Garrincha na Europa.
Ela, que ao longo da vida ascendeu socialmente graças a seu talento musical e trabalho, acredita ser um retrato das injustiças sociais: “É a dificuldade da negritude nesse país. Não acredito que tenha passado por tudo isso para chegar aqui e ser essa mulher que grita”, concluiu.
A impressão que se tira da afirmação de Elza Soares sobre a definição de quem é Deus é que há, na verdade, uma provocação e uma tentativa de ocupar holofotes, similar à estratégia adotada por movimentos “progressistas”, como o feminismo.