As perguntas mais inusitadas sobre a vida cristã são feitas ao pastor John Piper, que há anos se dedica a respondê-las em um podcast. Recentemente, um ouvinte o questionou se é correto se dirigir ao diabo durante nossas orações.
Em sua detalhada resposta, o pastor não apenas listou posturas a serem adotadas em nossas orações, como também reiterou o conceito bíblico que satanás não é o nosso principal problema, embora seja um adversário implacável.
A pergunta do ouvinte surgiu após uma resposta dada por John Piper em outro episódio, em que o pastor fala sobre o diabo amar o fato de um cristão ter uma vida de oração fraca. Nessa ocasião, Piper “se dirigiu ao diabo diretamente, dizendo a ele para sair do caminho”, relembrou o ouvinte.
“Embora eu tenha entendido o ponto, fiquei preocupado. Devemos falar ou nos dirigir ao diabo diretamente enquanto oramos a Deus? Sei que é uma prática comum em muitas igrejas dirigir-se ao diabo diretamente, para repreendê-lo, em orações corporativas, por exemplo. Considero essas práticas falsas, pois não vejo nenhuma razão bíblica para fazê-lo”, acrescentou o ouvinte.
Primeira resposta
Piper iniciou sua explicação pedindo que Deus “nos dê sabedoria para não superestimar e não subestimar a presença e o perigo do diabo e dos demônios”.
Em seguida, listou três fatos sobre a chamada batalha espiritual: “Primeiro, o diabo não é nosso principal problema. O pecado é nosso principal problema; nós somos nosso principal problema. E, portanto, devemos concentrar a maior parte de nossa guerra espiritual não contra Satanás e não contra outras pessoas, mas contra o pecado em nosso próprio coração e vida”.
O segundo ponto é a compreensão de que quem luta pelo cristão é Deus: “Nunca se esqueça — pregue para si mesmo muitas e muitas vezes — que ‘aquele que está em você é maior do que aquele que está no mundo’ (1 João 4:4). Cristo, por sua morte e ressurreição, desferiu um golpe decisivo e derrotador contra satanás. Ele não pode destruí-lo, exceto tentando-o a desconfiar de Jesus e andar em pecado. Creia no triunfo que você já tem — o pagamento inicial pelo Espírito em sua vida — e ande nesta vitória”.
O terceiro ponto conceitual destacado por John Piper envolve “o método de libertação demoníaca que Paulo dá em 2 Timóteo 2:24–26”, quando o apóstolo diz ao jovem pastor que ele deveria “não ser briguento, mas gentil para com todos, apto para ensinar, suportando pacientemente o mal, corrigindo seus oponentes com mansidão”.
“E então ele acrescenta ‘Deus pode’ — então, enquanto você faz isso, aqui está o que Deus vai fazer, talvez — ‘talvez lhes conceda arrependimento levando ao conhecimento da verdade, e eles possam voltar ao juízo e escapar da armadilha do diabo, depois de terem sido capturados por ele para fazer a sua vontade’. Essa é a maneira normal e estável de derrotar o poder do diabo no ministério cristão”.
Sem desprezar a realidade de que há possessões demoníacas que podem exigir um exorcismo real, o pastor enfatiza que “o caminho comum de libertação é o caminho de ensinar a verdade que satanás não pode suportar e, portanto, ele vai embora porque a verdade começa a se firmar pela graça de Deus na vida das pessoas”.
A segunda resposta
Piper então diz como o cristão não deve falar com satanás: “Nunca negocie com o diabo. Ele é completamente mau. Ele é muito sutil e enganador, e é especialista em armar armadilhas para as pessoas. Nunca barganhe com o diabo. Jesus se recusou a fazer isso no deserto. Nós deveríamos nos recusar a fazer isso em todos os lugares”.
Outro ponto é rejeitar tudo que é dito por satanás: “Nunca fale com o diabo com aprovação. Em João 8 Jesus disse que ele é um mentiroso desde o princípio, e por trás dessa trapaça há uma intenção assassina. Mesmo quando ele fala em meias-verdades, você faria bem em não aprovar nem metade disso, porque sua intenção é prender e enganar”.
O terceiro ponto prático destacado pelo pastor foi um alerta: “Qualquer poder que temos sobre satanás não reside em nós por natureza. É o poder de Jesus Cristo. Não temos autoridade em nós mesmos, à parte d’Ele. Não temos sabedoria em nós mesmos que seja suficiente para nos opormos ou descobrirmos os esquemas do diabo. É tudo de Cristo”.
Em quarto lugar, Piper diz que a autoridade de Jesus deve ser enfatizada, citando Judas 9: “‘Quando o arcanjo Miguel, contendendo com o diabo, disputava a respeito do corpo de Moisés, não presumiu pronunciar juízo blasfemo, mas disse: O Senhor te repreenda’. Ele está falando com o diabo. A palavra você significa que ele estava falando com o diabo. Mas o que ele não presumiria fazer, e nós não devemos presumir fazer, é falar com o diabo em seu próprio nome ou em sua própria autoridade. E então, ele diz: ‘O Senhor te repreenda’”.
“Jesus os expulsou em sua própria autoridade; os discípulos os expulsaram em nome de Jesus. ‘Saiam em nome de Jesus’ é provavelmente o que eles disseram. Então, quando 1 Pedro 5:9 e Tiago 4:7 dizem que devemos ‘resistir ao diabo’, acho que esses comandos em 1 Pedro e Tiago incluem aqueles momentos em que o ataque demoníaco a você ou a seu ente querido é tão claro e tão flagrante que você deveria dizer algo como: ‘Não, não, em nome de Jesus, deixe-me em paz’ ou ‘Deixe meu filho em paz em nome de Jesus. Vá embora, satanás — saia desta casa’. Então nos voltamos para Cristo”, acrescentou o pastor.
Ao final do podcast, Piper disse que “sim, os cristãos podem falar assim com o diabo, mas não será sua maneira normal e diária de triunfar sobre seus esquemas”, já que “Deus nos tornará muito úteis neste mundo de derrotar os esquemas do diabo enquanto nos concentramos em suas promessas e derrotamos nossos próprios pecados por seu poder”.