Dar casa, comida, lazer, cuidados médicos, educação formal, apoio sentimental e orientação espiritual não são tarefas simples, mas fazem parte do processo de educar um filho. E, de acordo com especialistas, essas tarefas não são as únicas que os pais terão pela frente ao verem nascer uma criança.
O tempo escasso, as pressões da sociedade, necessidades particulares e outras exigências que a vida moderna impõe parecem conspirar para o surgimento de um relacionamento prejudicado entre pais e filhos.
O pastor e escritor Amauri Costa de Oliveira, autor do livro Arrume Sua Casa (Editora Betânia) e líder da Oitava Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte, MG, foi entrevistado pela revista Cristianismo Hoje sobre o tema.
Na publicação, Amauri Oliveira usa as dificuldades enfrentadas por Jacó na criação de seus filhos como pano de fundo para falar sobre problemas de relacionamento, crises emocionais, desvios morais, entre outros, e também para mostrar a importância da sabedoria na busca de soluções. “Não podemos negligenciar as obrigações da paternidade achando que Deus vai remendar nossas falhas, pois não vai mesmo”, alerta o pastor. “A definição de papéis dentro da família está ficando cada vez mais negligenciada. Se os pais não souberem quem são na vida de seus filhos, não saberão como educá-los no caminho cristão”, acrescenta.
Segundo Oliveira, muitos pais acreditam que os problemas se resolvem num passe de mágica e que o erro mais comum é “acreditar que levar os filhos para a igreja resolve todos os possíveis problemas”. “Deus não vai fazer o que é nossa obrigação. Levar os filhos para igreja é uma obrigação do pai cristão; viver o Evangelho em casa, ensinando os filhos no caminho em que devem andar, é outra coisa”, pontua.
O professor de teologia Claudio Ernani Ebert, pastor da Comunidade do Amor – Igreja Evangélica Livre e pós-graduado em terapia familiar optou por priorizar a família, em vez do ministério: “Eu e minha mulher compreendemos que não podíamos ser apenas amigos dos nossos filhos, mas pais presentes e ativos em seu desenvolvimento”, conta.
Pai de Jeison, 29 anos, dentista e pastor; Jeise, 27, professora de inglês e integrante do ministério de louvor da igreja; e Jamine, 20, coordenadora do trabalho com adolescentes, o pastor Ebert entendeu que seus filhos eram diferentes entre si, e adaptou o relacionamento entre eles conforme suas características: “Chamo a isso de discipulado dinâmico. A palavra que sempre me vinha à mente era investimento. Se investisse nos meus filhos, colheria resultados”, relata.
Para isso, Ebert revela que contou com a parceria da esposa: “Em conjunto, buscávamos a concordância na aplicação de limites e disciplina. Uma boa herança que pais podem dar aos filhos é o exemplo de um relacionamento romântico, estável e seguro”.
A professora Cris Poli, 67 anos, especialista conhecida através do programa Super Nanny, no SBT, é evangélica e congrega na Igreja Cristã da Flórida, em São Paulo. Mãe de três filhos e avó de cinco netos, a especialista diz que os pais precisam ter objetivos claros: “O que vejo hoje nos pais em geral, inclusive os evangélicos, é muita incerteza com relação ao que realmente querem para os filhos. Não sabem como agir, e isso os deixa muito confusos”, diz. “Para não entrar em conflito e não terem de ouvir choros, eles deixam os filhos fazerem o que querem, até o momento que não aguentam mais”, observa, apontando que a escolha pela solução mais imediata é equivocada.
A especialista resume seu ponto de vista sobre educação usando o texto de Provérbios 22.6 como base: “Ensinar o filho no caminho em que deve andar significa também impor limites, valores e princípios”, define.
Segundo o psicólogo Ageu Heringer Lisboa, membro do Conselho Consultivo do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC), os filhos vivem numa busca pelo exemplo, e se a fala não é coerente com a prática, surgem paradigmas: “As crianças, inicialmente, aprendem pela imitação. Desde pequenos, os filhos incorporam atitudes, hábitos, expressões verbais e emocionais e a visão de mundo daqueles que os criam”, explica.
Lisboa reitera, porém, que pais desequilibrados não significa sentença de vida desajustada para os filhos: “Aqueles que convivem com situações familiares adversas, como pais agressivos ou separados, não estão condenados ao fracasso existencial. Apenas terão de enfrentar mais obstáculos e encontrar outros recursos de crescimento. Junto a pessoas confiáveis e que proporcionam encorajamento, essas pessoas podem ter um apoio vital”, afirma, fazendo referência à vida em comunidade em igrejas, por exemplo, como forma de reparar danos.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+