Você começou a cantar no gospel na década de 80, correto? Pode contar como foi no princípio?
Sim. No início da minha carreira eu fazia o trabalho de DJ. Ficava atrás de toca-discos montando todo o show, para quem ia cantar. Eu já trabalhava em casas noturnas antes de conhecer esse pessoal do rap. Fazia bailes Black aqui em São Paulo, até mesmo antes do hip hop existir. Não imaginava que depois de alguns anos ia acontecer uma onda forte de hip hop. E quando isso apareceu o pessoal falava: “Puxa, mas nós já fazemos isso aqui!” Então houve uma identificação muito grande e eu peguei o começo de tudo. Acompanhei o surgimento dos primeiros grupos aqui em São Paulo: Thaide, DJ Hum e Sampa Crew. Sendo que com o Sampa Crew, tive a oportunidade de andar com eles, bem no comecinho da carreira e isso foi uma escola. Basicamente eu comecei assim.
Em 1993 você se converteu. Como se deu sua conversão?
Um amigo que fazia baile comigo se converteu e veio me evangelizar. E como nós tínhamos uma amizade muito forte, então ele foi falando de uma forma legal que me ganhou e eu me senti interessado em ouvir. Me interessei tanto que um dia fui à igreja Renascer em Cristo, naquelas segundas-feiras que tinham na sede, que bombava e a rua ficava lotada, quando o pessoal do Oficina G3 e do Kadoshi tocavam lá. Um dia eu vendo a Banda Kadoshi tocar lá me converti ali na Lins, também movido pela música e naquele ambiente tomei a minha decisão. Mas para mim foi uma decisão duradoura, foi algo que permaneceu. Já fazem 15 anos.
Em falar em Kadoshi, sua primeira experiência no mercado gospel foi junto à banda, não?
Foi com o Kadoshi sim, pois quando eu me converti eu não tinha idéia do que ia acontecer comigo. Eu não sabia dos planos de Deus para a minha vida. Eu também não tinha nenhuma experiência de letra. Nunca tinha escrito nada. Nunca tinha cantado um rap e nunca tinha gravado nada com a minha voz. Fazia algumas coisas com os meus amigos… Mas a minha função mesmo era ser DJ. E aí eu comecei a escrever algumas letras motivado por ser um novo convertido. Foi então quando eu escrevi “Ser ou não ser” e mostrei para o Pastor Silas do Kadoshi. Abordei ele um dia na igreja e falei: Olha eu tenho uma letra de rap aqui. Quer ouvir? E aí ele me convidou a ir ao escritório dele para mostrar e começou então uma amizade, eu mostrei a letra para ele. Ele gostou muito! Tanto que mais tarde esse foi o primeiro registro fonográfico de um rap gospel no Brasil.
Como foi a transição do mundo secular para o gospel?
Foi muito louco. Pois eu já tinha muitos contatos com o meio artístico e acompanhava todos os tipos de rap, também já tinha feito vários shows internacionais na época da Black Mad. E estar junto de uma banda como o Kadoshi, que é referência na música Black era louco. Não é possível falar de música gospel sem falar em Kadoshi. Foi uma escola muito grande tanto no lado espiritual como no lado profissional. Eles arrastavam multidões! Tocavam para 20.000 pessoas. E só pelo fato de poder estar junto já era um privilégio. E ali foi quando Deus começou a usar minha vida para dar o testemunho, no show do Kadoshi e também foi aí que aconteceu toda a avalanche de pessoas se convertendo. E o rap ao mesmo tempo em que chocava quando entrávamos nas igrejas, tinha um resultado muito grande, pois víamos as pessoas entregando suas vidas, tinham ouvido um testemunho ou uma música que quase não existia dentro da igreja. O retorno espiritual era muito grande!
Era possível rimar com liberdade naquela época? Como você foi recebido nas igrejas?
Nunca me preocupei com isso. Eu sempre tive liberdade para escrever! Podia escrever sobre o que quisesse, tanto que tem uma música que está no meu primeiro CD que é considerada uma das músicas mais polêmicas que já cantei no gospel até hoje que é a “Depois do Casamento”, uma música que fala de sexo. E nessa época há 15 anos ninguém abordava esse assunto para os jovens. Eram poucas as igrejas que permitiam hip hop dentro das igrejas. A igreja estava começando a se abrir, a se modernizar, mas alguns assuntos ainda eram tabus. Sexo era um grande tabu! Quando apareci com essa letra não fiquei preocupado se algum pastor ia gostar ou vetar, entende? Na época foi um choque da mesma forma que existiam pessoas que apoiavam tinham outras que não entendiam. Falavam: “Isso não é de Deus! Aí algumas pessoas perguntavam: Será que esse cara é crente? Eu costumo dizer que tudo que aconteceu na minha vida na verdade não foi crédito meu… Deus poderia ter usado a vida de qualquer pessoa e ele usou a mim! Para que ele pudesse ter a glória! Eu reconheço que sou pioneiro em algumas coisas, mas também reconheço que eu sou o menor! Quem tem que aparecer é Jesus! Eu acho que Deus usou a minha vida para construir algo que hoje nós chamamos de Rap Gospel.
A primeira letra nasceu em 1994, e o primeiro CD “Transformação” em 1997 vendeu 30.000 cópias, é verdade?
Foi o primeiro CD de Rap de um artista solo no meio gospel. Foi fenomenal porque há 10 anos você vender 30.000 CDs era um marco! Era algo bem louco, era sinal de que estávamos conseguindo alcançar muitas pessoas e o objetivo era esse.
Houveram críticas a esse primeiro trabalho?
Eu sempre fui um cara pé no chão. E sempre preservei o compromisso que tenho com a minha igreja que é a Renascer em Cristo onde eu me converti. Lá eu tive muito apoio dos pastores, do Apóstolo Estevam, da Bispa Sônia; ao mesmo tempo em que eu era muito criticado também eu era muito defendido por eles. E hoje se eu estou há 15 anos na música, no ministério, é sinal que tenho coisas boas para mostrar.
Que outros trabalhos vieram depois?
Depois não parou mais veio “Efésios 6:12”, com mais de 100.000 cópias vendidas, “O Peso da Palavra” com mais de 50.000 cópias, “Fanático” que depois deu origem ao “Acústico”, que foi o primeiro CD e DVD de rap acústico no Brasil. Depois desse acústico saiu “Coisas que você precisa ouvir” em 2006, “Pra sempre” em 2007, que ganhou o “Troféu Talento” como o melhor CD de Rap e o último agora é o “Arrebatador”.
Pode falar mais sobre esse último trabalho?
É uma nova etapa na minha vida. Eu demorei mais de um ano para fazer todas as músicas e fiz da forma que eu queria! Com as participações que eu escolhi! O novo cd “Arrebatador” é o oitavo CD da carreira. Eu mesmo produzi as músicas e escrevi todas as letras, tem as participações especiais de Pregador Luo, Lito Atalaia, Mano Reco, Naldo Dee, Marcio Attack Versos, Rappin Hood e MC Carlinhos, foi gravado no mesmo estúdio onde fiz meus trabalhos anteriores no “Atelier Studio”, pelo Vander Carneiro, que é quem cuida da qualidade musical dos meus CDs, esse álbum foi feito sem pressa e aos poucos, para poder obter um resultado bem melhor que os anteriores na questão de elaboração das músicas e escolha de repertório. Gostei muito do produto final, me surpreendeu bastante, espero que a galera goste, pois foi feito com muito carinho e dedicação para a Glória de Deus. É um trabalho que está muito mais maduro musicalmente e espiritualmente. Hoje eu consigo ter mais liberdade para falar de algumas coisas e estou mais focado, sei exatamente a mensagem que quero passar e o nome é justamente para chamar a atenção das pessoas para o arrebatamento e o assunto de todo o CD gira em torno disso. Quero que as pessoas parem e se examinem.
Que trabalhos além do seu você considera referência?
Na minha opinião a Banda Kadoshi será sempre uma referência. Eu também gosto muito da Fernanda Brum, do Toque no Altar. Agora no Black, DJ Alpiste acho que é uma boa opção (risos). Falando sério eu gosto do Lito Atalaia, do Silvera, FLG e do Márcio entre outros…
Como você vê o movimento Black hoje no mundo gospel?
Eu acho que existe muita especulação. Têm muitos aproveitadores aí no meio. Tem muita gente querendo comer em primeiro lugar a fatia do bolo que nós levamos muito tempo para fazer. Colocamos a mão na massa, fizemos a cobertura e o recheio. E o cara chega no final e quer só comer! Eu acho que todos têm que ter um espaço, mas cada um deve saber o seu lugar na fila. Tem um bolo para ser comido, mas tem uma fila, entende?
Quem é o Alpiste hoje? Você se considera polêmico? O que você aprendeu nesses anos de carreira? O que você faria novamente e o que você não faria?
Faria música e mais música! Por outro lado acho que hoje eu não me atrelaria a pessoas erradas. Eu não me considero um cara polêmico, mas as pessoas me consideram. Eu gosto, às vezes, de dar uma cutucada para provocar uma reação, isso é muito bom. Quando o mar está muito calmo parece estranho. Às vezes eu gosto de mexer na água para escutar o barulho das ondas. Eu não ligo muito para críticas não! Sou um cara bem pé no chão.
Quais são seus planos para esse ano? Você está lançando uma campanha junto a MR1 Comunicação & Marketing, combatendo a cópia de músicas pela internet. Pode explicar mais a fundo sua opinião sobre esse assunto? O que pretende alcançar com essa luta?
Meus planos são bombar o CD Arrebatador, o meu site www.djalpiste.net, e levar para todo o Brasil a campanha que combate a cópia de músicas pela internet. Há alguns anos fui alertado por amigos músicos que o mercado não andava bem devido a pirataria. Comecei a estudar o assunto a fundo e me surpreendi com a dura realidade que é a pratica criminosa usada na internet: baixar um CD se tornou mais fácil que comprar uma cópia num camelô, e esses sites muitas vezes são disponibilizados por igrejas, o que é muito pior. Essa prática criminosa está prevista em lei, e é passível de pena de prisão, mas como tudo em nosso país acaba em pizza resolvi sacudir a mídia, as igrejas e a classe artística junto com a MR1,agência que cuida da minha imagem, para se mobilizar em torno de uma luta contra esse crime virtual, o objetivo é a regulamentação em lei e fiscalização por parte dos órgãos públicos desses sites que disponibilizam o download pirata, espero que as pessoas criem uma consciência sobre o assunto e nos ajudem a mudar essa realidade criada pela internet.
Não podíamos encerrar essa entrevista sem comentar a tragédia que acometeu a sede da Igreja Renascer em Cristo neste último final de semana. Pode comentar o ocorrido. É verdade que você teve um livramento?
19 de janeiro de 2009… Com certeza o dia mais triste da minha vida cristã! Quando cheguei de viagem vindo de Recife, onde estive no fim de semana fazendo um evangelismo, recebi a notícia do acidente ocorrido na igreja onde eu congrego e onde me converti… Várias ligações de amigos preocupados em saber se eu estava no local na hora do acidente… Foi algo quase inacreditável para mim receber tal notícia… Fica aqui meu sentimento de solidariedade às famílias das vítimas… Sou filho da visão apostólica e sei que esse é só mais um gigante que teremos que derrubar para alcançarmos a benção do Senhor… RENASCER EM CRISTO, nós te amamos… Paz.
Fonte: Assessoria de Imprensa / Gospel+