Durante a pandemia do novo coronavírus, milhares de igrejas no mundo inteiro foram obrigadas a encerrar as suas atividades, sob o risco de serem multadas e ter os seus líderes presos por parte das autoridades, algo que causou controvérsia entre os cristãos.
A principal alegação para tais medidas, segundo as agências locais de saúde, dizia que era para conter o avanço da Covid-19 entre os fiéis. Para isso, era preciso evitar as reuniões presenciais em cultos e outras atividades capazes de provocar aglomerações.
Com isso em mente, nos Estados Unidos, pesquisadores da Brunel University London, Nottingham Trent University e Brighton and Essex Medical School resolveram reexaminar dados de um estudo feito em março de 2020 no estado de Washington, no começo da pandemia.
Isso porque, na época, uma investigação envolvendo membros do Skagit Valley Chorale em Mount Vernon, Igreja Presbiteriana de Washington, apontou que os fiéis que participaram de um ensaio de coral realizado no dia 10 daquele mês, semanas depois apresentaram sintomas do coronavírus.
No grupo de coral, 45 dos 60 cantores que estavam no ensaio testaram positivo para a doença, três precisaram de internação hospitalar e um deles morreu. A conclusão, na época, foi de que uma pessoa que apresentou sintomas dias antes do evento, teria sido a fonte de contaminação do grupo inteiro.
Revisão
O estudo de revisão feito pelos pesquisadores da Brunel University London, Nottingham Trent University e Brighton and Essex Medical School, no entanto, apontou que na época do ensaio realizado na pandemia, a disseminação do coronavírus já tinha ocorrido na comunidade dias antes.
“Revisamos e analisamos os dados originais do surto em relação aos dados publicados sobre o período de incubação, modelagem subsequente com base nos dados e interpretações das características de transmissão deste incidente”, diz o estudo publicado na revista Public Health.
“Mostramos que é extremamente improvável que este tenha sido um surto de fonte pontual como amplamente reivindicado e no qual a modelagem foi baseada”, destaca o artigo.
“Uma suposição não examinada levou a conclusões políticas errôneas sobre os riscos do canto e dos espaços internos em geral, e os benefícios do aumento dos níveis de ventilação”, acrescenta o documento.
Os pesquisadores lamentaram o fato de que, até hoje, a pessoa acusada de ter sido a responsável pela disseminação do coronavírus no seu grupo de coral, tenha carregado o fardo de se senti culpada pela morte de um irmão em Cristo.
“Embora nunca tenha sido identificado publicamente, um indivíduo carrega o fardo moral de saber quais resultados de saúde foram atribuídos a suas ações”, diz o estudo. “Pedimos que essas alegações sejam reexaminadas e uma maior responsabilidade ética na suposição de uma fonte pontual nas investigações de surtos.”