Algumas igrejas evangélicas têm despontado no Brasil por seu foco em atrair pessoas que não se encaixam no modelo de congregação mais comum. Uma dessas denominações é a Igreja Mananciais, no Rio de Janeiro.
A filial da denominação na Barra da Tijuca, zona oeste da cidade, já foi notícia por atrair aos cultos a atriz Bruna Marquezine, seu namorado, Neymar (quando em férias no Brasil), o empresário Rômulo Costa (dono da produtora de eventos Furacão 2000), o funkeiro Nego do Borel; a atriz Carol Nakamura (ex-assistente de palco do Domingão do Faustão, da TV Globo); o empresário Steffan Menah; a atriz Dany Bananinha, entre outros.
A revista Época fez uma reportagem sobre o perfil da denominação, em ascensão entre os jovens de classe média para cima do Rio de Janeiro. No estacionamento do templo, em média 300 carros lotam o espaço a cada dia de culto, incluindo quartas-feiras à noite.
A jornalista Naiara Andrade entrevistou uma jovem na fila para o banheiro, antes do culto começar, e perguntou sobre a frequência de Bruna Marquezine nos cultos. “Ela só aparece às vezes… Mas por quê? Você só veio para ver a atriz da Globo? Deus é muito maior!”, respondeu a jovem, acrescentando que chorava muito durante os cultos: “Não tem como, é muita emoção…”.
A igreja adota um formato de segmentação, realizando reuniões diferentes para cada público que frequenta seus cultos. A reunião chamada Sala de Oração, por exemplo, reúne fiéis com idade acima dos 50 anos, em média. Os outros ministérios são Kids (voltados para a primeira infância), Seeds (pré-adolescentes), Winners (adolescentes), Press Power (jovens) e Casais Aliançados (adultos casados).
“Adoro isto aqui! Venho sempre que posso, porque me sinto acolhido. Parece que essas pessoas são minha família de verdade. Nas outras igrejas que frequentei, não tinha essa energia boa”, comentou um jovem identificado apenas como Eduardo, antes do culto começar.
“É comum aparecer gente famosa por aqui. Nas redondezas, há muitos condomínios onde moram artistas da Globo e da Record. E o pessoal que frequenta a igreja é tranquilo, não importuna”, explicou uma fiel.
A atriz Dany Bananinha, abordada pela jornalista, contou que estava visitando a denominação pela primeira vez: “Sou muito religiosa e meu amigo sempre me convidava para vir. Senti vontade de conhecer, achei que poderia ouvir uma mensagem legal. E ouvi, valeu, foi bom! Fui criada no catolicismo e frequento muito a missa, também gosto do espiritismo. Para mim, o mais importante é a fé em Deus e se sentir bem ouvindo sempre coisas positivas e tendo paz de espírito. Amém!”, afirmou, expondo sua visão sincretista.
A Igreja Mananciais revela um cuidado extra com a contextualização de cada culto: uma recepcionista entrega a cada fiel que chega ao templo um folheto com a programação da noite e indicações de leitura bíblica para meditação. O que parece uma inovação, é na verdade, o resgate de um esmero que as igrejas tradicionais adotavam rotineiramente décadas atrás.
O visual do templo é adequado ao mundo contemporâneo, embora discreto. Tons escuros nas paredes, carpetes e cadeiras funcionam para que a atenção do público se volte apenas ao palco, onde o pastor, músicos e palestrantes são acompanhados de um telão, que projeta versículos, letras de louvores e outras mensagens, conforme o momento do culto.
Os louvores escolhidos sempre exaltam o poder e a bondade de Jesus Cristo, seguindo a linha pop de louvor e adoração. Nesse contexto, o momento musical tem iluminação diferenciada, mais baixa, como uma sugestão de introspecção, mas que também empresta ares de espetáculo ao culto.
Sem fugir da estrutura organizacional que garante o funcionamento de uma igreja, pede-se oferta, embasando a abordagem a partir de II Coríntios 9:7: “Cada um contribua segundo propôs em seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria”.
“Ele nos deu o maior presente, que foi a vida eterna. Você não pode dar seu dinheiro com tristeza”, reforça o pastor, enquanto o telão avisa que as máquinas de cartão estão posicionadas próximo às escadas do templo.
A Igreja Mananciais, presidida pelo pastor Ricardo Carvalho, tem filiais em Campo Grande, Bento Ribeiro e Duque de Caxias, bairros menos abastados da capital fluminense. A esposa do líder, pastora Aline Carvalho, é tratada pelos fiéis como Mama Aline, e descrita pela jornalista da Época como “uma figura engraçada, carismática e risonha, que estende seus domínios à internet, com vídeos dinâmicos no YouTube em que aborda questões de família e da vida cotidiana”.
No site oficial da Igreja Mananciais, um texto resume o conceito da denominação: “Acreditamos em uma igreja que é apaixonada pelo Senhor Jesus, que não negocia Seus valores e princípios. Buscando intensamente agradá-lo, e não importando o preço a ser pago, desejamos influenciar todas as esferas da sociedade através da expressão da cultura do Reino de Deus”.
Com o propósito de descrever o perfil socioeconômico do público que frequenta a denominação, a jornalista Naiara Andrade descreveu o fim de culto: “Lá se vão quase duas horas de adoração. Um hino animado encerra a noite, agora com a pastora ao microfone. Os fiéis se cumprimentam, com o semblante leve, já combinando a ida ao próximo culto, domingo de manhã. ‘Se eu não acordar com o despertador, porque o sábado promete, você me liga, hein, brother?’, despede-se o rapaz de seu parceiro de culto, ajeitando a franja. E segue para o estacionamento lotado, dando partida em um carro grande, do tipo utilitário”.
O crescimento dos evangélicos no Brasil tem sido impulsionado, principalmente, pela segmentação das igrejas, que adotam linguagem de acordo com o público em que focam sua atenção. Dessa forma, projeta-se que até 2030 o número de fiéis dessa tradição cristã supere o de católicos, que ao longo dos séculos já foram quase que hegemônicos.