O ateísmo se apresenta como uma filosofia de vida desprendida de crenças e tenta transmitir isso como sensação de liberdade, mas, conforme é possível notar pelo ativismo que vem caracterizando o movimento nos últimos anos, um ateu tem tanta necessidade de fazer parte de um grupo social e difundir suas crenças como qualquer pessoa religiosa.
Um novo estudo realizado pela Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, mostrou que os ateus tentam ser sociáveis com cristãos por uma única motivação: desfazer a impressão de que eles são imorais. O relatório foi publicado na revista Journal of Experimental Social Psychology.
Os pesquisadores tinham como objetivo estudar o viés de grupo e o comportamento pró-social, ou a tendência que grupos sociais têm de favorecer seus próprios membros. O estudo, dividido em três partes, contou com centenas de voluntários cristãos e ateus, de acordo com informações do site Science Alert.
Na primeira fase, os 297 voluntários estavam divididos entre 150 cristãos e 147 ateus. Os pesquisadores propuseram um jogo em que os participantes podiam dar a um dos colegas uma parte do seu dinheiro. A explicação é que isso permitiria testar as pessoas e observar se a previsão de que poucas decidiriam compartilhar o dinheiro com o parceiro se não houvesse consequências para isso.
Para estimular os voluntários, os pesquisadores os fizeram crer que várias rodadas seriam jogadas, e que eles seriam avaliados com pontuação de reputação por parte de seus colegas, e o ranking seria público, inclusive com a informação de que todos saberiam se eram cristãos ou ateus.
Depois de tudo isso, os voluntários foram emparelhados com um cristão ou ateu fictício, com a tarefa de supostamente dividir o dinheiro que tinham recebido. Essa fase formou apenas uma compreensão parcial do estudo, já que outras duas partes ainda seriam desenvolvidas para a conclusão do estudo.
Na segunda fase haviam 233 participantes diferentes, sendo 151 cristãos e 82 ateus, e repetia praticamente de forma idêntica a primeira, com a excessão de que esses voluntários não sabiam que não estavam jogando com pessoas reais, e tiveram que responder a um questionário avaliando a moralidade de seu parceiro.
Em resumo, as duas primeiras partes do estudo mostraram que os cristãos foram mais generosos com outros colegas cristãos do que com os ateus, que foram mais igualitários na forma de distribuir os valores, independentemente das religiões.
Surpresa
No entanto, os pesquisadores foram surpreendidos quando colocaram em prática a terceira parte do estudo, em que todos os voluntários não sabiam se o colega era ou não uma pessoa de fé.
Com 524 participantes, sendo 140 ateus e 384 cristãos, essa terceira parte do estudo mostrou que a postura “equilibrada” dos ateus na hora de dividir o dinheiro com as pessoas não tinha motivação altruísta, e sim, egoísta, numa manifestação de preocupação com a imagem perante à sociedade.
Divididos em dois grupos, os voluntários tiveram cenários diferentes. No primeiro, os participantes foram informados que os colegas não teria informações sobre seu status religioso, e no segundo, todos ficaram sabendo que os colegas teriam essa informação.
No grupo em que os ateus achavam que os cristãos não saberiam de sua incredulidade, eles mostraram tanto comportamento de grupo quanto os cristãos tinham apresentado na primeira parte do estudo, dando mais dinheiro a outros ateus do que aos cristãos.
“Nossos resultados mostram que os ateus estão exclusivamente preocupados com os membros do grupo que os veem como imorais em virtude de sua falta de religiosidade, e que essas preocupações são pelo menos parcialmente responsáveis pelo comportamento dos ateus em relação aos seus parceiros cristãos em jogos econômicos”, avaliaram os pesquisadores.
Esse mesmo grupo de pesquisadores já havia feito um estudo que descobriu que ateus costumam difamar cristãos mais do que os cristãos costumam difamá-los. “Eu acho que é bastante revelador que os ateus talvez estejam tão conscientes de estereótipos negativos sobre si mesmos que há diferenças observáveis em seu comportamento, em comparação com os cristãos, mesmo neste tipo de interação pequena e de baixo risco”, comentou uma das autoras do estudo, Colleen Cowgill.