O crescimento dos evangélicos no país vem sendo um dos principais temas de pesquisas socioeconômicas nos últimos anos, e um novo estudo apontou que em duas décadas essa expansão chegou a 228%, o que significa que 7 a cada 10 templos no Brasil são de uma igreja evangélica.
Os dados usados no estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) são de 2021, quando o país tinha 87,5 mil igrejas evangélicas com CNPJ, o que representa 70% dos estabelecimentos religiosos formalizados no país. Em comparação, as paróquias católicas representam 11% do total.
Os demais 19% são formados por outras religiões e espaços sem classificação precisa, com parte dessa fatia sendo formada por associações comunitárias, beneficentes ou educacionais, de acordo com informações da Folha de S. Paulo.
A predominância em termos de templo não é nova, mas a expansão ainda assim chama a atenção: em 1998, primeiro ano com registro de um levantamento desse tipo, as igrejas evangélicas eram 54,5% do total de templos no Brasil, somando 26,6 mil templos.
A economista Fernanda de Negri, pesquisadora coautora do estudo, diz que a maior parte dessas igrejas evangélicas são pentecostais e neopentecostais, com as pequenas congregações “de bairro” formando a maior parte desses templos.
Em contraponto, a Igreja Universal do Reino de Deus – descrita pela pesquisadora como “uma empresa com diversas filiais” – possui 6.800 templos no país, um número que representa 7,8% do total de igrejas registradas no Brasil. A Igreja do Evangelho Quadrangular, uma das maiores denominações pentecostais, soma 5.000 templos.
Como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda não divulgou os dados sobre religião do Censo 2022, o IPEA usou dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego, considerando os CNPJs de “atividades de organizações religiosas”.
Esse levantamento, embora impreciso, permite uma compreensão bastante realista do cenário, e comprova que os católicos são o grupo que menos cresceu de 1998 para cá: o número de paróquias subiu 63%, enquanto as igrejas evangélicas registraram aumento de 228,5%.
Deborah Bizarria, economista, vê a “maior facilidade de abertura de igrejas em comparação com as católicas” como um fator preponderante no crescimento evangélico, que é formado por lideranças locais de cada comunidade, mais capaz de “identificar áreas com crescimento populacional e maior potencial para atrair membros”.
“As igrejas evangélicas desfrutam de uma liberdade mais ampla para definir crenças e práticas, alinhando-se com a interpretação da Bíblia e a orientação de seus líderes. O que não significa um ‘vale tudo’, mas há grande espaço para discordâncias em questões como batismo, santa ceia e questões comportamentais como consumo de bebida alcoólica”, acrescentou Deborah.
A opinião da economista não é apenas baseada em números e teorias: ela frequenta a Comunidade da Vila, uma igreja presbiteriana em Pinheiros (bairro de classe média alta da zona oeste de São Paulo) que tem, dentre seus pastores, o teólogo Victor Fontana.
O próprio Fontana concorda com a visão da economista sobre o assunto, dizendo que plantar uma igreja é “bem mais fácil que formar paróquia”, e usando como indicativo disso não apenas a presença maciça nas periferias, mas também em áreas mais nobres: “Onde antes tinha uma cantina na Bela Vista ou um mercadinho em Perdizes, agora tem uma ‘church’ cheia de gente jovem”, argumentou.
Na visão do pastor, há um fenômeno socioeconômico que ajuda a explicar essa mudança: muitos filhos de evangélicos de classes sociais mais baixas “passaram a ter acesso a estudo universitário, seja por causa das cotas, seja por causa dos programas de assistência [como o Fies]”, o que significou aumento de renda ou até mesmo independência financeira: “A expressão de fé que faz sentido para eles já não está mais tanto nas periferias”, disse, oferecendo uma possível explicação para o fenômeno.