O compromisso com o conservadorismo por parte do governo Jair Bolsonaro está sendo demonstrado na Organização das Nações Unidas (ONU), com as diretrizes defendidas pela diplomacia brasileira ecoando valores pregados pelos grupos evangélicos que apoiam o governo.
O jornalista Jamil Chade, do Uol, publicou reportagem em que detalha que “o posicionamento do Brasil vai na direção de se colocar internacionalmente como nação contra o aborto”, e para tanto, a diplomacia brasileira tem se dedicado a confrontar textos de resoluções com viés progressista.
Nesta semana, duas resoluções em discussão na ONU foram discutidas, e segundo Chade, a postura brasileira evidenciou “a influência dos grupos evangélicos” no embate contra textos que têm sido interpretados como gatilhos para, futuramente, tornar a prática do aborto uma política global.
O Brasil tem se recusado a aceitar a inclusão dos termos “educação sexual e saúde reprodutiva” em uma resolução proposta por países africanos que querem banir a mutilação genital feminina, pois veem que esses termos, no futuro, podem levar à interpretação de que o aborto está abrangido.
“Uma das explicações dadas pelo Itamaraty por sua postura ao vetar tais termos é a de que ela seria um reflexo da vontade popular, expressa nas urnas em 2018 com a eleição de Jair Bolsonaro com presidente”, relatou Jamil Chade.
Ainda nesse âmbito, a diplomacia brasileira sob o governo Bolsonaro tem se empenhado em conseguir apoio para inserir nos textos oficiais que as entidades religiosas cumprem importante papel na formulação de políticas públicas para a defesa das mulheres e da igualdade entre os sexos.
Entretanto, ONGs progressistas tentam barrar esse esforço por considerarem que a inclusão das entidades religiosas possa ser entendida como uma limitação dos direitos das mulheres, o que inclui o aborto.
Uma das estratégias do governo brasileiro é denunciar as segundas intenções da ONU. Para isso, a secretária nacional da Família, advogada Angela Vidal Gandra, que trabalha conjuntamente com a ministra Damares Alves, tem atuado para expor o que há sob a fachada das “ajudas humanitárias” durante a pandemia: a prática do aborto como “serviço essencial”.
Angela Vidal Gandra – filha do jurista Ives Gandra da Silva Martins – denunciou em recente artigo no jornal Folha de S. Paulo que há, na ONU, uma “ideia fixa” em impor a agenda de “saúde sexual reprodutiva”, um eufemismo usado para se referir ao aborto.
“Os que têm a oportunidade de transitar na instituição conhecem suas agendas paralelas forçadas, incluindo a ideia fixa na saúde sexual reprodutiva —em detrimento de tantos direitos humanos constantes da Declaração Universal que deixam de ser viabilizados com a velocidade desejada devido ao monotema—, contrariando a vontade da ampla maioria das famílias e destacando sua autoridade acima dos próprios Estados”, denunciou a advogada.
A erotização infantil também tem sido defendida na OMS, órgão de saúde da ONU, alertou Angela: “Uma proposta nesse campo, que pode ser denominada de anti-humana, é a veiculação do programa da OMS para crianças menores de quatro anos de idade contendo homossexualidade, pornografia e masturbação, que oferece diretrizes em substituição àquelas preconizadas pelas suas famílias para que possam ‘gozar do prazer’ desde a infância, como ‘parte normal da vida de cada um’, incluindo as relações com colegas do mesmo sexo”.