O evento realizado pelo PT para promover uma aproximação do partido com o meio evangélico terminou com a divulgação de uma carta aberta defendendo a liberdade do ex-presidente Lula, condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele está preso há pouco mais de um ano, cumprindo pena de 12 anos e um mês.
O “1º Encontro Nacional de Evangélicas e Evangélicos do Partido dos Trabalhadores”, realizado entre os dias 05 e 06 de abril, contou com a presença de filiados à legenda que professam a fé evangélica e integram as diferentes denominações brasileiras.
Segundo informações do portal Brasil de Fato, o evento foi marcado por análises sobre a realidade nacional e a conjuntura política do país e do mundo. A carta produzida pelos participantes faz uso político da figura de Jesus e uma defesa do Estado laico, além de pedir que os evangélicos do país lutem pela liberdade do criminoso condenado Luís Inácio Lula da Silva.
“O fenômeno evangélico na atualidade encontra-se no epicentro da questão política, como uma das ferramentas religiosas que interpretam e justificam este sistema de exclusão. Nessa costura entre discurso religioso e político opostos à Palavra de Deus, apresentam-se os desafios sobre o papel das cristãs e cristãos e a nossa responsabilidade social de, como cidadãs e cidadãos, rever a nossa atuação e compromisso com a sociedade, com o próximo e, principalmente, com os pobres do nosso país e do mundo”, diz trecho da carta.
A iniciativa do PT é resultado da derrota acachapante sofrida pelo partido nas últimas eleições presidenciais, quando Jair Bolsonaro (PSL) foi eleito, através do voto popular, para a presidência da República.
Confira a íntegra da carta:
“Nós, Evangélicas e Evangélicos, militantes do Partido das Trabalhadoras e dos Trabalhadores, reunimos na cidade de São Paulo, nos dias 05 e 06 de abril de 2019, cerca de 100 pessoas das 5 regiões do Brasil e de diversas denominações para participar deste 1° Encontro Nacional, crendo no Deus de amor, justiça e equidade, testemunhado no Evangelho libertador, inclusivo e pacificador de nosso Senhor Jesus Cristo.
Refletimos, a partir de nossas experiências de fé, a respeito da conjuntura brasileira. Em um primeiro momento, realizamos uma análise política, social e econômica. E a partir desta análise compreendemos que a atual situação brasileira é parte de um projeto político totalitarista mundial de poder dirigido pelos interesses dos ricos, de dominação econômica, do lucro, da exploração humana e destruição da criação de Deus, traduzido em um discurso enganador e antidemocrático que reafirma esta opressão, a violência e a desigualdade, opondo-se frontalmente aos princípios cristãos.
O fenômeno evangélico na atualidade encontra-se no epicentro da questão política, como uma das ferramentas religiosas que interpretam e justificam este sistema de exclusão. Nessa costura entre discurso religioso e político opostos à Palavra de Deus, apresentam-se os desafios sobre o papel das cristãs e cristãos e a nossa responsabilidade social de, como cidadãs e cidadãos, rever a nossa atuação e compromisso com a sociedade, com o próximo e, principalmente, com os pobres do nosso país e do mundo.
Frente a isto, traçamos estratégias para contemplar parte dos grandes desafios apontados sobre a realidade. Afirmamos a defesa do Estado Laico e compreendemos que se torna necessário agir, para fortalecer espaços de atuação e formação de evangélicas e evangélicos, filiadas, filiados e simpatizantes ao PT; apoiar, participar e dialogar com movimentos sociais; criar espaços de acolhimento, inclusão e afeto para todas as pessoas em nossas igrejas, especialmente aquelas em sofrimento; e contribuir na construção de modos de leitura e de interpretação da Bíblia, a Palavra de Deus, que nos capacitem para atuarmos, conforme a sabedoria do Espírito e os ensinamentos de Cristo, desenvolvendo práticas libertárias, inclusivas e plurais em nossas comunidades de fé e no mundo.
Reafirmamos nosso compromisso de fé e justiça. E nos irmanamos a todas as companheiras e companheiros que, há um ano, fazem a Vigília Lula Livre, desde a prisão injusta e sem provas do nosso companheiro, Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos irmanamos a todas as organizações e movimentos sociais que compõem as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo e que estão na luta pela retomada da democracia no campo e na cidade, em favor da classe trabalhadora.
Conclamamos a todas as evangélicas e evangélicos a se integrarem e organizarem Comitês Lula Livre por todos os cantos de sua atuação, reunindo irmãs e irmãos e atuando em coletivos, associações, sindicatos, universidades, diretórios municipais, estaduais e distrital do nosso partido.
E, por fim, compreendemos que é tarefa das evangélicas e evangélicos petistas organizar núcleos nos municípios, estados, territórios e no Distrito Federal, realizar ciclos de debates, estudos bíblicos e reuniões de oração sobre a realidade, a defesa da democracia, pela liberdade de Lula e contra a reforma da Previdência.
Assim, sob a égide do Evangelho, que é libertador e amoroso e que foi encarnado em Jesus Cristo, reafirmamos a perspectiva da Graça e do Reino de Deus, que é ‘justiça, paz e alegria no Espírito Santo’ (Rm 14:17).
São Paulo, 06 de abril de 2019
Participantes do 1o Encontro de Evangélicas e Evangélicos do Partido das Trabalhadoras e dos Trabalhadores”