Após o início das investigações do Ministério Público, que analisa as denúncias de que a Ala evangélica do Centro de Ressocialização de Cuiabá, comandada por membros da Igreja Universal do Reino de Deus, estaria cobrando dízimos de presos da detenção, novos relatos surgiram.
Um ex-presidiário identificado apenas como “Benedito”, concedeu entrevista ao programa Comunidade, da TV Rondon, afiliada ao SBT, afirmou que “a ala não tem nada de evangélica”.
Benedito afirma que os presos que são transferidos para a Ala evangélica saem piores do que entraram: “Só tem o nome de Igreja Evangélica Universal do Reino de Deus. Mas, não tem Deus, porque Deus tem amor, tem perdão… O local deveria mudar de nome. A pessoa entra como 155 [artigo do Código Penal que trata de furto] e sai como assaltante; entra como usuário e sai como traficante. Ela presencia o próprio dirigente fazendo esse tipo de coisa: cheirando [usando cocaína] e jogando baralho”.
De acordo com o ex-presidiário as regras dentro da Ala evangélica são contrárias às normas de qualquer presídio: “Na ala evangélica, as pessoas assistem a filmes pornôs, filmes de tiroteio. Eu já cansei de dormir lá escutando rajada de tiros. Coisa que antes não acontecia; antes, se fazia oração e se dormia às nove horas”, relatou Benedito, que emendou: “Na ala evangélica, também têm acesso a garotas de programas. Os ‘pastores’ de lá autorizam… Vamos reclamar pra quem? Tudo fica por baixo do pano. Tem homicida que dirige essa ala”.
Benedito afirma que resolveu falar por conta da investigação que está sendo realizada: “Com certeza as pessoas que estão presas lá vão ver isso e sabem que é verdade. Mas eles não tem voz. Agora eu posso falar porque estou aqui fora, isso vai para o Ministério Público. Aqui fora eles [dirigentes da ala evangélica] não podem fazer nada. Lá dentro eles mandam, porque juntam três, quatro em cima de um… batem na cara de preso. Aqui é fora é diferente”.
O ex-presidiário afirma que o poder dos líderes da ala evangélica do Centro de Ressocialização de Cuiabá é grande: “O preso se brincar daqui a pouco põe o corpo de guarda pra correr de lá e eles que vão mandar lá dentro. Lá dentro nem carcereiro fala [manda], quem fala é preso. Lá não pode nem por a cara na grade que leva chute, ou apanha com pau, o dipirona e anador. As agressões são feitas por dirigentes da ala evangélica. Se não seguir as regras são expulsos para outras alas e lá sofremos, porque não pagamos o dízimo, e somos espancados. Se não paga o dízimo ficamos de joelho e apanha. Eles são os primeiros a espancar. Contam os crimes que cometemos. ‘E aí tarado não vão pagar o dízimo?”.
Segundo Benedito, as circunstâncias dentro do presídio são ruins: “Eu já chorei demais lá dentro, não pela prisão, para pagar o crime que eu fiz, mas pelas humilhações que sofremos de pessoas que fizeram crimes piores do que eu”.
De acordo com o relato do ex-presidiário, “os ‘pastores’ vão pra lá e começam a ser pastores rápido. Aqui fora eles levam anos para se formar. Lá é rapidinho, na verdade estão só usando o dinheiro que os bestas pagam para o dízimo. E mandam para as famílias deles aqui fora, que compram carro. Quando estão em liberdade cometem crimes novamente, e são presos. Eles não se recuperam”.
Fonte: Gospel+