O atentado terrorista de Orlando, Flórida, que ceifou a vida de 50 pessoas e deixou outras dezenas feridas, não pode ser classificado como um gesto de homofobia, na visão do pastor Marco Feliciano (PSC-SP).
Entrevistado por um blog do jornal Folha de S. Paulo, o pastor reiterou suas afirmações de que parte da militância LGBT no Brasil tentou se promover com a tragédia, atribuindo aos evangélicos a suposta capacidade de fazer o mesmo tipo de ação terrorista.
“O representante dessa classe no parlamento, o deputado ex-BBB [Jean Wyllys, do PSOL-RJ] postou em suas mídias sociais que eu, Marco Feliciano, era um dos responsáveis pelo massacre, pois tratava-se, segundo ele e parte da imprensa, de crime de homofobia, quando nos EUA o próprio presidente Obama, em discurso, afirmou ser um atentado terrorista. Não foi a primeira vez que esse deputado age assim. Quando em São Paulo o jovem Kaíque foi encontrado morto [em 2014], ele fez o mesmo discurso e dias depois a imprensa divulga que ele se suicidou. Nunca houve um pedido de desculpas”, afirmou Feliciano.
No caso de Orlando, descobriu-se posteriormente que Omar Mateen, o terrorista, era frequentador da boate e manteve relações homossexuais com outros frequentadores. No dia do atentado, ele jurou fidelidade ao Estado Islâmico.
Questionado se considerava que o crime não tinha traços de intolerância contra homossexuais, Feliciano pontuou que não se pode encaixar apenas uma motivação na tragédia.
“Não dá pra garantir que foi um crime motivado apenas por homofobia, pois há indícios de terrorismo do Estado Islâmico. O próprio atirador falou com os policiais sobre isso (no entanto, é sabido que o El tem por costume massacrar gays não deixando de ser um crime de homofobia). É preciso lembrar que seus alvos (terroristas) não são aleatórios. Exemplo: Torres do World Trade Center. Não atingiram ‘tijolos’, atingiram um símbolo do capitalismo americano. A mulher do assassino disse em entrevista que ele antes sondou a Disney, símbolo do entretenimento americano, mas o esquema de segurança era imenso. Então ele ataca uma boate gay, símbolo do progressismo e liberdade sexual americanos”, contextualizou o pastor.
O blog Gays & Afins pontuou que “é comum ouvir a crítica de que o discurso religioso favorece esse tipo de ataque, pois ele faz crer que ser gay é uma ‘aberração’”, e perguntou ao pastor o que ele pensa a esse respeito.
“Não posso falar pelos muçulmanos. Falo pelos cristãos. Esse discurso é um absurdo, uma desinformação, uma desonestidade intelectual, mau-caratismo mesmo. Cristãos pregam o amor ao próximo. Podemos não concordar com atos, mas nunca discriminamos pessoas. Jesus, no caso da mulher pega no ato de adultério, diz: ‘Quem não tem pecado atire a primeira pedra’. Ninguém pode acusar ninguém”, pontuou Feliciano. “No final da história ele pergunta à mulher: ‘Onde estão os teus acusadores? Se eles não te acusam, eu também não’. E ele termina dizendo: ‘Vai e não peques mais’. Ele demonstra amor, perdão e aceitação, mas não deixa de corrigir e dizer: ‘Não peques mais’. Ele aceita a pecadora, mas não o seu ato de pecado”, explicou.
Ao final, o jornalista Guilherme Genestreti questionou Feliciano sobre a condenação à homossexualidade no Velho Testamento, e as demais proibições do livro de Levítico ao povo hebreu. O pastor respondeu às críticas com referências bíblicas do Novo Testamento, e reiterou a aceitação do pecador, mas a reprovação ao pecado no Evangelho.
“Temos como regra de fé o Novo Testamento sem ignorar o Velho. Entendemos que o Velho Testamento foi escrito para nosso conhecimento, e o Novo Testamento como nova aliança e nela Cristo trouxe um novo mandamento: ‘Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros’ (Jo 13,34). E neste Novo Testamento temos ensinamentos sobre a sexualidade: I Coríntios 6, 9-10: ‘Acaso não sabeis que os injustos não terão parte no reino de Deus? Não vos iludais: nem fornicadores, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem gananciosos, nem ébrios, nem maldizentes, nem roubadores terão parte no reino de Deus’. Romanos 1:26-27: ‘Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro’. No Novo Testamento, Cristo aboliu a punição com morte física aos que cometem pecados, mas continuou a salientar a morte espiritual. Como Cristo, cristãos amam os pecadores, porque são pecadores também, mas não amam o pecado”, concluiu.