O depoimento do filho adotivo de Flordelis (PSD-RJ) ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados esclareceu elementos presentes na investigação da morte do pastor Anderson do Carmo. Segundo Lucas Cezar dos Santos de Souza, a deputada federal poderia ter impedido o crime.
A audiência realizada por videoconferência faz parte do processo que o Conselho de Ética abriu contra Flordelis. Se for comprovado que a deputada teve envolvimento no crime, o relator Alexandre Leite (DEM-SP) pode recomendar sua cassação,
Lucas afirmou que “não tinha [meios]” de Anderson do Carmo ter morrido da forma como morreu sem que sua mãe soubesse da orquestração do crime. Em seguida, ele foi questionado se o assassinato teria ocorrido “se a Flordelis não tivesse participado, ou se ela tivesse conhecimento e tivesse intervido para que não acontecesse”. A resposta foi enfática.
“Não, não teria ocorrido, não. Com certeza, não teria ocorrido. Estaria vivo até hoje”, respondeu Lucas. Porém, ele negou que Flordelis tenha dado ordem diretamente a ele para cometer o crime.
A arma usada no crime foi encontrada na casa de Flordelis, e Lucas foi preso sob acusação de te-la comprado ilegalmente. O filho biológico da deputada, Flávio dos Santos Rodrigues, é apontado como autor dos disparos.
No depoimento prestado na última segunda-feira, 19 de abril, Lucas afirmou que foi abordado pela primeira vez para tratar do crime em em janeiro de 2019, por sua irmã adotiva, Marzy Teixeira. Em depoimento à Polícia ela admitiu ter oferecido dinheiro para que ele matasse o pastor Anderson do Carmo.
“Ela me ofereceu um dinheiro, falou que o Anderson estava atrapalhando a vida dela, a vida da minha mãe. Na época eu estava no tráfico de drogas. Ela me ofereceu um valor de R$ 10 mil e alguns relógios”, disse Lucas ao Conselho de Ética.
O responsável pelo pagamento da arma, R$ 8.500,00, teria sido Flávio: “Ele falou que estavam ameaçando ele, queria comprar para poder se defender”, disse Lucas, que considera que o irmão não tinha condições financeiras para adquirir uma arma e, a seu ver, teria pego dinheiro de Flordelis para essa finalidade.
Carta na cadeia
O filho adotivo afirmou que recebeu orientação depois que foi preso, através de uma carta assinada por sua mãe, para que assumisse a autoria do crime, e em troca, receberia apoio no processo: “Uma dessas cartas ela [Flordelis] mandou pedindo para eu assumir a autoria do crime, senão podia atrapalhar ela, falou que iam prender ela, que ela não ia me abandonar, ia me dar toda a assistência”, disse Lucas.
O advogado de Flordelis, Anderson Rollemberg, também participou da audiência e ouviu de Lucas que era de conhecimento de todos da casa que Marzy queria matar Anderson, inclusive o próprio pastor estava ciente, segundo informações da Agência Câmara.
A deputada Flordelis já foi ouvida pelo Conselho de Ética em março, e voltou a sustentar que é inocente, alegando que não pode ser julgada e condenada pelos colegas de Câmara dos Deputados antes que todo o processo seja concluído.
Na ocasião, ela afirmou que está convencida que a mandante do assassinato foi sua filha biológica, Simone, com quem Anderson do Carmo teria tido um relacionamento na adolescência e, nos anos anteriores à sua morte, teria cometido abusos sexuais contra ela.