Responsável por boa parte das investigações sobre a morte do pastor Anderson do Carmo, a delegada Bárbara Lomba declarou na última terça-feira, 13 de abril, que sua conclusão é que o crime só foi levado a cabo diante da ordem da deputada federal Flordelis (PSD-RJ).
“Nada aconteceria na casa sem o alva final da deputada Flordelis”, disse a delegada durante um depoimento ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Ela acredita que a influência da parlamentar sobre a família e, especialmente entre os acusados pelo crime, que possuem “forte envolvimento” com ela.
Réu no processo que investiga a morte de Anderson, Flordelis recentemente perdeu o prazo para suas alegações finais antes que a juíza do caso agende a data do julgamento, que ocorrerá em júri popular.
“Nós conseguimos saber com clareza, isso eu não tenho dúvida, que nada aconteceria dentro daquela casa, e como aconteceu, sem o aval final da deputada”, enfatizou a delegada Lomba, que acrescentou que parte do conteúdo das mensagens trocadas entre os envolvidos era cifrado, conforme informações da revista IstoÉ.
Suspensão de mandato
A Câmara dos Deputados não acatou, até hoje, uma determinação do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) para o afastamento da parlamentar. No dia 23 de fevereiro, a 2ª Câmara Criminal votou, por unanimidade, pelo afastamento de Flordelis de suas funções.
Como o Poder Legislativo é independente no que se refere ao mandato conferido nas urnas, a Câmara dos Deputados deveria votar para decidir se confirma ou não a decisão judicial, o que não aconteceu.
De acordo com informações do jornal O Globo, o advogado Ângelo Máximo, que representa a família da vítima, protocolou no último dia 8 de abril uma petição ao relator do processo na 2ª Câmara Criminal, desembargador Celso Ferreira Filho, relatando que a decisão judicial determinando o afastamento ainda não havia sido cumprida.
Para Máximo, o desembargador deve tomar “medidas enérgicas e necessárias” para tirar o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), da “inércia”, pois o deputado sequer designou sessão plenária para a votação do afastamento de Flordelis.
À época da decisão do TJ-RJ, Lira deu a entender que não reconhecia a competência da Justiça do Rio para determinar o afastamento de Flordelis de seu cargo, indicando que aguardaria um parecer da procuradoria da Câmara para decidir se cumpriria a decisão, submetendo aos voto dos demais parlamentares.
Da parte do Ministério Público estadual do Rio de Janeiro, o posicionamento é que o órgão não pode interferir na decisão da Câmara dos Deputados, que é soberana no que se refere ao mandato de seus integrantes, com a postura se assemelhando à do Tribunal de Justiça, que informou que após a decisão dos desembargadores, a deliberação cabe à Casa legislativa.
Paralelamente a tudo isso, Flordelis vem sendo processada disciplinarmente na Corregedoria da Câmara. Ela é investigada por quebra de decoro parlamentar, que pode culminar com a perda de seu mandato.