O filme “Os Dez Mandamentos” é oficialmente a maior bilheteria da história do cinema nacional, com mais de 11,2 milhões de ingressos vendidos. Com essa marca, o longa-metragem superou o antigo detentor do recorde, “Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro”, que em 2010 havia levado 11,1 milhões de espectadores aos cinemas.
A produção – que usou imagens da primeira “novela bíblica” da TV Record – pode ainda aumentar os números registrados até agora, já que continua em cartaz, em um número menor de salas do que quando estreou.
No entanto, o sucesso de bilheteria do filme vem sendo questionado, desde o começo de sua exibição, pelo registro de salas vazias durante sessões que eram dadas como esgotadas pelos sistemas de venda de ingressos dos cinemas.
O jornal Folha de S. Paulo publicou reportagem pontuando que “o número [alcançado pelo filme] não significa que o longa bíblico tenha sido visto por mais espectadores do que o filme de José Padilha [‘Tropa de Elite’], que fez público de 11,146 milhões em 2010”, porque muitas das salas que tinham ingressos esgotados, na realidade, tinham lugares vagos.
“Houve uma espécie de milagre da multiplicação dos ingressos: sessões oficialmente lotadas ostentavam poltronas vazias”, escreveu a jornalista Gabriela Sá Pessoa, fazendo referência aos casos flagrados pelas reportagens de diversos veículos de comunicação sobre os casos.
“Às 16h de uma quinta-feira (31/3), no guichê do Cinemark do shopping Raposo Tavares, uma vendedora disse que não havia mais ingressos para Os Dez Mandamentos. Justificou que a sessão estava fechada para um evento. Questionada, respondeu que um pastor comprara toda a sala em dinheiro vivo (ao menos, R$ 4.185). A gerente confirmou a história. A reportagem contou apenas 15 espectadores nos 279 lugares”, exemplificou a jornalista.
No último sábado, 09 de abril, duas salas do cinema Espaço Itaú, localizado no shopping Bourbon, zona oeste de São Paulo, estavam reservadas para “Os Dez Mandamentos” às 10h30, porém o cinema acabou abrindo apenas uma, e mesmo assim teve a maioria das poltronas vazias. Procurado pela reportagem, um dos responsáveis pelo cinema afirmou que a empresa vendeu sessões inteiras para igrejas, e que, na média, houve ocupação de 70% das salas.
Marcio Fraccaroli, diretor da Paris Filmes, empresa responsável pela distribuição do longa-metragem, minimizou o caso, dizendo que havia acontecido “alguma coisa de filantropia, mas só no começo da distribuição do filme”. “Algumas pessoas ganharam convite e não apareceram, a gente entendeu isso como uma coisa natural […] Houve de tudo. Gente que comprou sem ser evangélico, em grupo e igrejas que se organizaram e foram assistir”, acrescentou.
Na conclusão de sua matéria, a jornalista Gabriela Sá Pessoa relatou que ela própria foi abordada por uma fiel na última quarta-feira, 06 de abril, após o culto no templo da Igreja Universal do Reino de Deus, que ofereceu ingressos para que ela pudesse ir ao cinema, caso ainda não tivesse visto o filme. Pessoa frisou que, na ocasião, não havia se identificado como repórter da Folha.