O pastor Marco Feliciano (PSC-SP) é um dos deputados integrantes da Comissão Especial que aprovou ontem, 11 de abril, o relatório que pede a abertura de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), e seus discursos durante o debate expuseram o pensamento de boa parte da sociedade a respeito da atual crise política.
A votação do relatório confeccionado pelo deputado Jovair Arantes (PTB-GO) se estendeu por todo o dia, e por volta de 20h40, os parlamentares concluíram a votação, com o placar favorável ao impeachment. 38 deputados, dos 65 que integraram a comissão, seguiram o relator, enquanto 27 foram contra.
Feliciano antecipou, no discurso, que votaria pelo afastamento de Dilma: “Vou votar com o relator, pela democracia, pela voz do povo. E vou votar não com vingança, mas por saber que de fato houve crimes”, afirmou.
O pastor lamentou o clima de insegurança que toma conta da sociedade: “Eu sou um cidadão. E como cidadão, ungido por quase 400 mil votos – eu acho que isso deve valer alguma coisa – que fala não pela totalidade, mas por um grupo de quase 40 milhões de evangélicos desse país, a maioria deles de classes C, D e E. […] E nesses últimos anos, viajando pelo Brasil, é triste, é notório, ver a angústia que há no coração do brasileiro pobre”, pontuou.
Narrando parte de sua infância, Feliciano fez um paralelo entre o que viveu no passado e o fantasma que assombra parte da população atualmente, pelo receio de que a realidade econômica do país volte a ser a mesma de três ou quatro décadas atrás.
“Eu vi aqui discursos de pessoas que nos emocionaram falando do seu tempo de pobreza. Isso não é mérito só de um. Outros também passaram. Eu passei fome também. As minhas mãos ainda carregam calos de quando eu cortava cana. Não sei se vocês conhecem o que é corte de cana. Eu cortei cana, apanhei laranja, algodão, engraxei sapato. Filho de uma família pobre. Nós morávamos, 12 pessoas, em dois cômodos. Minha mãe não sabe ler e escrever até hoje. E é em nome da minha mãezinha, que eu visito de vez em quando, que falando tudo errado, diz assim ‘meu fio, quando é que as coisa via meiorá? Quando é que a gente vai tirar essa mulher que aí está?’. Ela não consegue explicar o motivo, mas ela sente no bolso quando vai ao supermercado. Ela sente a fragilidade de suas amigas, suas vizinhas, que estão ficando desempregadas. Então, existe problemas gravíssimos no nosso país, e esses problemas advém do alto, da presidente da República”
Por fim, Feliciano destacou que Dilma Rousseff envergonha o país, de diversas formas, sejam elas objetivas – como as relatadas na denúncia -, sejam elas subjetivas, como a forma sofrível como a presidente conduz seu mandato e as políticas públicas.
“’Todo o poder emana do povo’”, disse Feliciano, parafraseando a Constituição Federal. “É esse povo que nós estamos representando aqui. Estão falando que o povo está dividido. Não há divisão. É 90 contra 10. 90% da população brasileira pedindo o que está acontecendo aqui, agora. É preciso abrirmos a nossa mente. É claro que não vamos dizer aqui que só foram coisas ruins nesses últimos anos. Não. Eu acreditei no começo do governo do PT. […] As coisas começaram bem, mas depois degringolaram”, ponderou.
Na sequência, o pastor listou os motivos – objetivos e subjetivos – que o levaram a votar contra Dilma:
“Eu posso aqui enumerar uma centena de crimes que eu também vejo – alguém pode discordar de mim – e eu quero aqui citar. Nos últimos 125 anos nós vivemos aqui a pior crise econômica da história do Brasil (sic); estamos em um período de recessão e caminhando para um período de depressão. E quem não sabe o que é depressão estude a história e lembre o que aconteceu em 1929, o que acontece com a grande depressão americana; não há confiança no governo da presidente Dilma, internacionalmente, aqui dentro do nosso país, não há mais confiança; hoje vivemos na nação mais violenta do mundo. 60 mil pessoas que morrem por ano, assassinadas. E culpa de quem, minha? Culpa do governo que aí está, que não consegue investir na segurança pública e nem cuidar dos seus cidadãos; poderia aqui falar das nossas crianças, que estão sendo doutrinadas nas escolas a irem contra seus pais e seus princípios de foro íntimo, que deveriam ser ensinados pelo pai e pela mãe; poderia aqui falar das nossas fronteiras que estão desguarnecidas e o narcotráfico dominando nosso país, levando nossas crianças, nossos meninos, a viverem uma vida nos redutos, escondidos, como se fossem verdadeiros zumbis. Verdadeiras ‘zumbilândias’ aquilo que chamam de ‘cracolândia’; poderia aqui falar do nosso Exército, que está sucateado; poderia falar ainda da atuação do PT na construção do Foro de São Paulo – que ninguém gosta de tocar no assunto – da interferência de países da América do Sul na nossa governabilidade; poderia aqui, senhor presidente [da Comissão Especial, Rogério Rosso (PSD-DF)], falar dos tentáculos do PT, junto com as suas marionetes – e me perdoem a expressão um pouco pesada, mas eu sei o que é sofrer na mão dessas marionetes – como a UNE, como o MST, os movimentos LGBT, abastecidos por esse governo. ‘Soldados’ que andam pelas ruas atrás das pessoas que são contrários ao pensamento deles, humilhando, rechaçando”.