Os protestos de evangélicos na França contra a relativização da liberdade religiosa têm incomodado o governo, e um ministro declarou que o segmento representa “um problema” para a política no país.
Recentemente, a Assembleia Nacional da França aprovou uma lei visando “reforçar o respeito pelos princípios republicanos” sob a justificativa de conter extremismos da parte da comunidade islâmica que pudessem resultar em terrorismo.
Porém, na prática a nova legislação resultou em maior controle do governo sobre as religiões. Diante dos protestos, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, afirmou numa entrevista à emissora C News que “os evangélicos são um problema muito importante”.
Ao notar que a frase repercutiria mal, acrescentou: “Obviamente não [são um problema] da mesma natureza que o islamismo, que faz ataques terroristas e mortes”.
A declaração pode ser entendida como um ato falho do político, já que um dia antes ele concedeu uma entrevista defendendo outra lei polêmica, chamada de “anti-separatismo”, e demonstrou sua intolerância às diferentes visões de mundo: “Não podemos discutir com as pessoas que se recusam a escrever no papel que a lei da República é superior à lei de Deus”.
De acordo com informações do portal Evangelical Focus, líderes evangélicos demonstraram perplexidade com as afirmações de Darmanin: “Estamos esperando ansiosamente para saber quais são esses ‘problemas muito importantes’”, escreveu Tim Kyle, membro do conselho da Youth For Christ na França.
Romain Choisnet, diretor de comunicação do Conselho Nacional dos Evangélicos na França (CNEF) também reagiu sublinhando que “os evangélicos respeitam a lei e as autoridades republicanas”, e ponderou que as igrejas evangélicas “não podem ser usadas como argumento para defender o projeto de liberticídio”.
As acusações feitas frequentemente aos evangélicos na França, como se fossem responsáveis por conflitos sociais, étnicos ou políticos no país, é um dos temas aos quais o CNEF tem se dedicado a rebater há alguns anos.
“A França nada ganhará em sua luta contra o separatismo islâmico ao igualar o cristianismo ao islamismo. O primeiro deu forma a esta nação que a República herdou, o segundo quer substituí-la”, declarou o porta-voz do CNEF, resgatando fatos históricos da formação da república francesa.
« Il n’y pas que l’islam qui est concerné, il y a aussi les évangéliques qui est un problème très important » selon G. Darmanin en parlant d’influence étrangère. On attendra avec impatience les détails et précisions de ce « problème très important »@ProLaique @GDarmanin #laïcité pic.twitter.com/KkwTcsOh9y
— Tim (@timkyle) February 2, 2021
“Nous ne pouvons plus discuter avec des gens qui refusent d’écrire sur un papier que la loi de la République est supérieure à la loi de Dieu” @GDarmanin sur @franceinter.
Cette comparaison République // foi n’a pas de sens !@ObservLaicite @spparlementaire @PresidentCnef https://t.co/JnAI0S4oyd
— Romain CHOISNET (@comcnef) February 2, 2021