Fernando Haddad (PT) tem se queixado de “fake news” que estariam sendo espalhadas contra sua campanha, mas em suas entrevistas e sabatinas, ele próprio tem repassado informações bastante duvidosas sobre seus feitos como ministro da Educação, prefeito de São Paulo, ou mesmo sobre seu adversário, Jair Bolsonaro (PSL).
Uma das principais “fake news” da campanha de Haddad é a negativa da existência do famigerado “kit gay”, que o PT nega ter produzido, mas que os arquivos de órgãos oficiais do governo e do Congresso comprovam que existiu e só foi barrado graças a pressão de deputados da bancada evangélica.
Confira uma série de afirmações de Fernando Haddad classificadas como “fake news” por uma equipe de jornalistas do Grupo Globo:
“Ele também [Bolsonaro] retirou, diga-se de passagem, porque (uma nova constituinte) também estava no plano de governo dele”.
Segundo a checagem, essa afirmação é “fake news“:
O plano de governo de Jair Bolsonaro não foi modificado desde que foi apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em agosto deste ano. O documento não cita a possibilidade de convocação de nova assembleia constituinte, mas mudanças pontuais como “7º Retirar da Constituição qualquer relativização da propriedade privada, como exemplo nas restrições da EC/81”. O candidato, porém, mostrou em entrevistas anteriores à divulgação do plano que estudava essa possibilidade. Durante entrevista em fevereiro ao Programa Pânico, por exemplo, Bolsonaro afirmou que “se tiver uma forma para você ter uma Constituinte à parte, para mexer em alguns capítulos da Constituição, vamos fazer. (…) Deixar o Parlamento funcionando à parte e quem quiser concorrer para fazer parte de uma nova Assembleia Nacional Constituinte… Tudo é possível se o Parlamento te apoiar”. Já em setembro, durante um evento em Curitiba, o vice da chapa do candidato do PSL, general Hamilton Mourão (PRTB), defendeu a criação de uma nova Constituição feita por “notáveis”. A declaração foi depois refutada por Bolsonaro.
“Ele [Bolsonaro] fala: ‘Vou fechar o Supremo’. Passam a mão”.
Segundo a checagem, essa afirmação é “fake news“:
O candidato Jair Bolsonaro não falou que vai fechar o Supremo Tribunal Federal (STF). Em um vídeo que começou a circular no domingo (21), o seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), afirmou que “se quiser fechar o STF (…) manda um soldado e um cabo”. O vídeo é de uma palestra feita antes do 1º turno das eleições, em que o deputado fala que, se o STF impugnar a candidatura do pai, “terá que pagar para ver o que acontece”.
O vídeo não passou incólume. Ministros do STF reagiram à fala de Eduardo Bolsonaro. O presidente do Supremo, Dias Toffoli, afirmou que “atacar o Poder Judiciário é atacar a democracia”. Alexandre de Moraes disse que vai pedir abertura de inquérito à Procuradoria Geral da República para investigar as declarações. Celso de Mello, Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello também fizeram críticas.
Questionado, Jair Bolsonaro reagiu surpreso quando perguntado sobre as declarações sobre o Supremo. “Isso não existe. Se alguém falou em fechar o STF, precisa consultar um psiquiatra”, disse. Ao ser informado por jornalistas de que a declaração era do seu filho, ele duvidou da informação. “Eu desconheço. Duvido. Alguém tirou de contexto.”
Já o seu vice, general Hamilton Mourão, disse que a declaração é “ruim”, mas classificou-a como “arroubo juvenil”. Ele ainda acrescentou que a hipótese de fechar o STF em um eventual governo Bolsonaro “não existe”.
“Eu dobrei as vagas das universidades públicas”.
Segundo a checagem, “não é bem assim”:
Em 2005, ano em que Fernando Haddad tomou posse como ministro da Educação no governo Lula, o número total de vagas oferecidas em universidades, centros universitários, faculdades, escolas e institutos públicos no Brasil era 313 mil, de acordo com o Censo da Educação Superior, realizado anualmente pelo Inep. Já em 2012, ano em que Haddad deixou o cargo para concorrer à Prefeitura, o número total de vagas oferecidas foi de 539 mil. Houve, portanto, um aumento de 72%, mas não o dobro. Se forem consideradas apenas as universidades na conta, o aumento é ainda menor: 67%.
“Você defender uma saída democrática para Venezuela não é defender o governo [Maduro]”.
Segundo a checagem, “não é bem assim”:
A declaração de Haddad foi dada em resposta a questionamentos dos jornalistas Renato Franzini e Gerson Camarotti sobre a posição do candidato em relação ao apoio do PT e da presidente do partido, Gleisi Hoffmann, ao presidente Nicolás Maduro. O PT defende publicamente o governo de Nicolás Maduro e uma das mais enfáticas defensoras é Gleisi. O partido também se manifestou contra a possibilidade de uma intervenção militar na região.
No dia 18 de setembro deste ano, a comissão executiva do PT divulgou nota contra a possibilidade de intervenção militar na Venezuela, após declarações do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro. O documento do partido afirma que o governo venezuelano foi eleito “democraticamente em eleições sérias e transparentes”.
O PT divulgou outra nota, junto com PCdoB, sobre as eleições venezuelanas deste ano. “O Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), através de suas Secretarias de Relações Internacionais, felicitam o povo venezuelano pela retumbante vitória política e eleitoral do presidente Nicolás Maduro, reeleito neste domingo, 20 de maio, para mais um mandato de seis anos à frente da Revolução Bolivariana”, afirma a nota assinada pela secretária de Relações Internacionais do PT, Monica Valente, e pelo secretário de Relações Internacionais do PCdoB, José Reinaldo Carvalho.
Em julho de 2017, artigo assinado por Gleisi Hoffmann e Mônica Valente defendeu a Constituinte convocada pelo governo de Nicolás Maduro e atribuiu a desestabilização do país à oposição. “Há pelo menos dois anos, resiste aos golpes da oposição, a qual iniciou um violento processo de desestabilização política que mergulhou a nação no caos. Assim, os opositores de Maduro alimentam uma polarização que deixou mais de cem mortos, de ambos os lados”, diz o texto.
Gleisi ainda defendeu o regime em discurso durante o 23º Encontro do Foro de São Paulo, em julho do ano passado. “O PT manifesta seu apoio e solidariedade ao governo do Partido Socialista Unido da Venezuela, seus aliados e ao presidente Nicolás Maduro em face da violenta ofensiva da direita contra seu governo”, declarou a presidente do partido.
“O PSB, todos os seus governadores e o presidente manifestaram [apoio]”.
Segundo a checagem, “não é bem assim“:
“A Executiva Nacional do PSB fechou posição em favor da candidatura de Haddad – o apoio foi anunciado no último dia 9. O governador reeleito de Pernambuco, Paulo Câmara, e o governador eleito da Paraíba, João Azevêdo, que já haviam declarado apoio a Haddad no primeiro turno, mantiveram o apoio. Capiberibe, que tenta ser eleito governador do Amapá no 2º turno, também declarou apoio ao petista.
Mas a legenda liberou os diretórios do Distrito Federal e de São Paulo de seguirem a orientação partidária. Assim, Rodrigo Rollemberg, que tenta a reeleição no DF, e Márcio França, que disputa a reeleição em São Paulo, declararam neutralidade em relação à eleição presidencial. Na propaganda eleitoral na TV, França tem dito, inclusive, que “não apoia o PT”.
Valadares Filho, que é candidato ao governo do Sergipe, também não manifestou apoio a nenhum candidato, assim como o governador eleito do Espírito Santo, Renato Casagrande, que declarou neutralidade no segundo turno da eleição presidencial.
“Sinceramente, nunca vi o Lula pronunciar essa palavra (fascista) pra se referir a ninguém. Eu nunca mencionei antes do Bolsonaro”.
Segundo a checagem, “não é bem assim”:
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou a palavra fascista em mais de uma ocasião. As citações foram relacionadas a Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Já o candidato Fernando Haddad usou o termo quando era ministro da Educação, em 2011 – antes, portanto, da campanha à Presidência da República.
Durante um comício realizado no dia 28 de março deste ano, em Curitiba, o ex-presidente Lula chamou de “fascistas e nazistas” os responsáveis pelos ataques a tiros e o bloqueio da passagem de ônibus da caravana petista que viajava pelo Sul do país.
No ano passado, na abertura da etapa de São Paulo do 6º Congresso Nacional do PT, no dia 5 de maio, Lula já havia usado o termo fascista para referir-se ao então deputado federal Jair Bolsonaro. Ele argumentou que o crescimento do sentimento contra políticos tradicionais fazia aumentar a popularidade de “um fascista chamado Bolsonaro”.
Fernando Haddad, em 31 de maio de 2011, classificou de uma “postura de viés fascista” as críticas de diferentes setores da sociedade a um livro didático distribuído pelo governo nas escolas.
Nas eleições de 2016, Haddad disse que manifestantes antipetistas tinham “uma inclinação não democrática, mais protofascista”. A declaração foi dada à imprensa depois de o candidato deixar o colégio eleitoral onde havia votado, no dia 2 de outubro. Ele era candidato à reeleição na Prefeitura de São Paulo.
“Ninguém é contra prender empresário corrupto. Aliás, eu sou crítico à maneira como esses empresários estão sendo tratados [pela Lava Jato]. Estão todos em casa, gozando do seu patrimônio. Já não tem praticamente empresário preso”.
Segundo a checagem, “não é bem assim”:
Há hoje 27 presos pela Lava Jato na superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba e no Complexo Médico-Penal em Pinhais, segundo informações da PF e da Secretaria de Segurança Pública do Paraná.
Pelo menos seis deles são empresários: Leo Pinheiro, ex-presidente da OAS; Agenor Franklin Magalhães Medeiro, ex-diretor da OAS; Gerson de Mello Almada, ex-vice-presidente e um dos sócios da construtora Engevix; Enivaldo Quadrado, ex-proprietário da corretora Bônus Banval; Ronan Maria Pinto, dono do jornal “Diário do Grande ABC” e de empresas do setor de transporte e coleta de lixo; e Alberto Elísio Vilaça Gomes, ex-executivo da Mendes Junior.
Além deles, Sérgio Cunha Mendes, ex-vice-presidente da Mendes Júnior, está cumprindo pena no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal.
Há, no entanto, de fato, empresários condenados que estão em regime domiciliar, como Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente do Grupo Andrade Gutierrez.
“O Paulino [do Datafolha] disse que as fake news no Rio e em Minas fizeram toda a diferença na eleição”.
Segundo a checagem, essa afirmação é “fake news“:
Não é verdade que o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, afirmou isso. […] Paulino reforçou que “em nenhum momento” disse que a “intensa onda de última hora”, com o voto para governador e senador atrelado ao voto de Bolsonaro, foi provocada por “fake news”. “Estudos complementares podem chegar a essa provável conclusão, mas nunca fiz tal afirmação”, disse Paulino.
Ele afirmou ainda que não fez inferência entre a “intensa onda” no 1º turno e o envio ilegal de mensagens denunciado pela “Folha de S.Paulo” na quinta-feira passada (18). “Essas inferências foram atribuídas a mim sem minha autorização”, afirmou, em nota.
Na quinta-feira passada (18), Paulino escreveu no Twitter que as pesquisas eleitorais “evidenciaram a impulsão da onda nos momentos finais” e que “RJ, MG e DF são claros exemplos”. Paulino publicou seu tuíte ao compartilhar reportagem publicada naquele dia pela “Folha” cujo título era “Empresários bancam a campanha contra o PT pelo WhatsApp”.
Não houve menção de Paulino a boatos ou “fake news”. No Twitter, Paulino também disse que o conteúdo de sua publicação foi “deturpado” e que o “alcance imediato e amplo das mensagens distorcidas” comprovam o perigo e o mau uso das redes.
“O [José Sérgio] Gabrielli [Azevedo] não foi delatado por absolutamente ninguém. Ninguém chegou e falou: ‘O Gabrielli está envolvido'”.
Segundo a checagem, essa afirmação é “fake news“:
O ex-presidente da Petrobras e coordenador da campanha de Haddad à presidência, José Sérgio Gabrielli foi citado por, pelo menos, três delatores da Lava Jato: Antonio Palocci (ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil), Delcídio do Amaral (senador cassado) e Nestor Cerveró (ex-diretor da estatal).
Palocci contou à Polícia Federal que, em uma reunião no Palácio da Alvorada em 2010, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva solicitou a Gabrielli – que à época comandava a Petrobras – que encomendasse a construção de 40 sondas para garantir o futuro político do país e do PT com a eleição de Dilma Rousseff, através da produção de navios para exploração do pré-sal e de recursos para a campanha que se aproximava. Segundo o ex-ministro da Fazenda, Dilma participou da reunião na residência oficial da Presidência.
Ainda de acordo com o ex-ministro, Lula afirmou, no mesmo encontro, que caberia a Palocci gerenciar os recursos ilícitos gerados e o seu devido emprego na campanha de Dilma ao Palácio do Planalto.
Cassado pelo Senado após ter sido preso por obstrução de Justiça, Delcídio do Amaral contou à Procuradoria-Geral da República que a compra da refinaria de Okinawa, no Japão, foi uma ação ilícita “entre amigos” conduzida por Gabrielli, Cerveró e pelo ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa nos mesmos moldes da aquisição da planta petrolífera de Pasadena, no Texas. A refinaria japonesa foi adquirida pela estatal do petróleo em abril de 2008 por US$ 70 milhões.
Em depoimento aos procuradores da República, Delcídio – que foi líder do governo Dilma no Senado e fez carreira na Petrobras – declarou que a compra da refinaria de Okinawa foi tão nociva que, em 2015, a petroleira brasileira encerrou as atividades alegando que a planta japonesa não era rentável.
Já Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobras, relatou ao Ministério Público, em sua delação premiada, que fechou acordo com o Grupo Schahin por causa de um pedido de Gabrielli. O ex-diretor explicou que o pedido foi feito durante uma conversa particular com o ex-presidente da Petrobras para resolver uma dívida de campanha do PMDB.
“Eu vinha sendo pressionado pelo ministro Silas Rondeau, que era do PMDB, um dos líderes do PMDB e que vinha me cobrando uma ajuda, ou melhor dizendo, que eu liquidasse, ajudasse a liquidar uma dívida de campanha que o PMDB tinha adquirido da ordem de R$ 10 milhões a R$ 15 milhões. Aí o Gabrielli virou pra mim e falou assim: ‘Vamos fazer o seguinte, eu vou te fazer uma proposta. Deixa que eu resolvo o problema do Silas e você resolve o problema do PT’. Aí eu fiquei assim, o problema do PT? ‘É. Vou determinar, você vai resolver o problema do PT. Porque o PT tem uma dívida de R$ 50 milhões decorrente da campanha que ainda, justamente, justamente não, depois que surgiu a questão da Schahin, com o banco Schahin que precisa ser resolvida'”, disse Nestor Cerveró.